Salvamento Militar

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capítulo curto, sorry

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- Por favor.

- Não.

- Olha, eu vou subir na pedra e te empurrar.

- Se você fizer isso nós voltamos todos para o Vale hoje mesmo.

- Você não seria nem louco.

- Seria. Eu não vou entrar.

- Por favor!

- Não!

- Por mim!

- Não me chantageie!

- Eles são sempre assim? – Cecília perguntou, sentada em uma pedra mais afastada do lago ao lado de sua irmã, comendo alguns petiscos que eles tinham trazido para o almoço. Mariana sorriu na direção de Otávio e Luccino, o primeiro sobre a pedra ao lado do lago e o segundo dentro da água, os dois discutindo como crianças.

- As vezes. Normalmente não – ela comentou, rindo baixo enquanto pegava mais um morango da mochila. Mordeu a fruta enquanto observava os dois brigarem, ou melhor, discutirem.

- Pela última vez Luccino, eu não vou colocar nem o pé nessa água gelada e desconhecida. E se tem algum animal aí dentro? Alguma doença? Alguma planta carnívora? Eu não vou me arriscar – Otávio insistiu, cruzando os braços enquanto Luccino rolava os olhos e se afastava um pouco da pedra.

Foi então que uma ideia brilhante lhe veio à cabeça, e ele segurou o sorriso.

- Pois bem. Então vou nadar sozinho – ele falou, se virando de costas para Otávio e seguindo para o meio do lago, aonde ele não alcançava com os pés. Otávio bufou atrás de si, mas não comentou, somente se sentando e se voltando para seu livro.

Foi então que Luccino colocou seu plano em ação, tomando fôlego e afundando no lago.

Ele usou o ar em seus pulmões para fazer várias bolhas e começou a se mexer exageradamente, levantando as mãos para a superfície e fingindo que estava procurando alguma coisa para se apoiar.

Basicamente, ele estava fingindo se afogar.

E, ao longe, estava fazendo um trabalho um tanto convincente.

Otávio levantou os olhos de seu livro quando ouviu uma batida forte na água, se perguntando porque Luccino estaria se movendo com tanta energia, e franziu o cenho ao ver que ele estava com as mãos para cima da água, parecendo querer puxar alguma coisa enquanto bolhas e mais bolhas se formavam ao seu redor.

Ele... estava se afogando?

Luccino?

Que já estava tão acostumado a nadar nas cachoeiras do Vale?

Mas aquelas não eram as cachoeiras do Vale.

Será que tinha algum tipo de monstro no rio?

O coração de Otávio disparou, seus olhos desviando para o livro que lia por um instante, se lembrando das várias histórias que já tinha lido e ouvido sobre os monstros dos rios brasileiros. Sereias de água doce, espíritos malignos, monstros em formatos de cobras de luz...

Ou poderia mesmo ser um monstro real. Uma cobra, um crocodilo, uma enguia!

O desespero foi real, e sem pensar duas vezes, ele jogou o livro para longe e pulou no lago com um dos pulos mais bonitos que Cecília já tinha visto.

E olha que ela já havia estado no lago do Vale com Rômulo várias vezes.

- Parece que Luccino convenceu o major – ela comentou, e Mariana sorriu, assentindo.

- Luccino realmente sabe persuadir alguém – ela concordou, mordendo mais um pedaço de morango.

Já no lago, Otávio nadou rapidamente até Luccino, o puxando para a superfície e segurando sua cintura firme, sem parar com seus pés, para que não afundassem.

- Luccino! Você está bem? – ele perguntou, preocupado, e depois de algumas tossidas falsas, Luccino deu risada e se acomodou nos braços do major.

- Eu estou me sentindo muito assustado major, eu quase me afoguei – ele ainda caçoou, e Otávio perdeu toda a preocupação em um segundo, enquanto Luccino ria sozinho. – Obrigado por me salvar, major Otávio.

- A vontade é de te afogar.

- E a minha é de te beijar – Luccino sussurrou, seu sorriso brilhante, e Otávio sequer conseguiu ficar bravo com o mecânico. Ele só suspirou, e balançou a cabeça.

- Tudo isso para me fazer entrar nesse bendito lago – ele riu, e Luccino assentiu, olhando por cima do ombro do major e sorrindo quando viu Mariana distraindo Cecília com um livro.

- Sim. E agora que já está aqui, me siga – ele acenou com a cabeça, e saiu de perto de Otávio, se dirigindo a um acúmulo de pedras bem grandes na beira do lago, que formavam uma espécie de pequena gruta perto da cachoeira. Otávio balançou a cabeça, mas sorriu, seguindo o mecânico de uma vez, já que já estava dentro do lago de qualquer maneira.

Os dois subiram sobre as pedras, por trás da cachoeira, e Luccino checou novamente se poderiam ser vistos ou não, antes de se apoiar contra a parede fria da pequena gruta e puxar Otávio para perto de si pela sua blusa regata.

- Luccino, Cecília pode nos ver... – Otávio murmurou, apesar de se aproximar, seus braços já circundando a cintura de Luccino. Mas o mecânico só deu de ombros e colocou seus braços ao redor do pescoço de Otávio, os aproximando um do outro.

- Não me importa. Eu não aguento ficar longe de você – ele murmurou, capturando os lábios de Otávio em um beijo lento, seus dedos se entrelaçando nas mexas curtas e molhadas do major, enquanto Otávio deixava suas mãos subirem e descerem pelas costas de Luccino, em um toque um tanto delicado, que também fazia sua pele arder como brasa.

E perto dali, Cecília olhava ao redor, curiosa.

- Mariana, eu não vi para onde eles foram – ela falou, preocupada, e Mariana riu baixinho, dando de ombros.

- Não se preocupe, irmã. Eles não vão nos deixar sozinhas. Devem ter ido fazer coisas de homem em algum lugar, e não queriam chamar atenção – ela deu de ombros, e Cecília assentiu.

- Muito educado da parte deles. Afinal, nós duas somos mulheres comprometidas.

E se voltando para seu livro, Cecília aceitou de bom grado as palavras da irmã, enquanto Mariana sorria para as pedras que escondiam a gruta em que os dois tinham se escondido.

Mariana não podia com aqueles dois. Eles sempre conseguiam surpreende-la.



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