Virgílio

26 3 2
                                    

Eu amo o Virgílio, eu amo todos os Priccelli, alguém me dá uma água que eu não aguento <3

----------------------

Era como se o mundo todo estivesse caindo sobre ele, e não houvesse como repelir o dano. Luccino podia ver, mas não enxergava, como se estivesse num sonho confuso e tudo fosse esfumaçado, sem cor, sem textura. Seus olhos, focados na madeira da mesa em que se apoiava, mal se moviam mesmo com a leve pressão dos dedos de Mariana em seu ombro, ou o frio do copo em seus dedos. Era como se tudo estivesse parado, e ele só pudesse sentir dor, e mais nada.

Ele até podia ouvir os barulhos na mansão, e a voz de Mariana enquanto ela dizia algo, mas tudo não passava de zumbidos e ele não conseguia entender nada. Suas mãos, agora limpas do sangue de Otávio, tremiam como se nunca fossem parar, seus olhos ardiam mesmo sem lágrimas, que já haviam secado, e seu corpo parecia se debater por dentro enquanto por fora não conseguia se mexer sequer um centímetro. Era tudo confuso, abafado, vazio, e não havia nada que o deixasse se concentrar em qualquer coisa.

Foi até uma mão segurar e puxar seu rosto que ele pareceu acordar um pouco do transe, encontrando os olhos de Mariana fixos em seus. Eram doces, gentis, como sempre, mas seguravam algo que normalmente Luccino poderia decifrar, mas que agora parecia o quebra cabeças mais difícil do mundo inteiro.

- Luccino, está me ouvindo? – ela perguntou, e mesmo olhando parta ela, ele ouviu como se estivesse bem ao longe, bloqueado por alguma barreira. Assentiu mesmo assim, pois a tinha escutado, e a face de sua amiga pareceu se acalmar, ao menos um pouco. Seus lábios se moveram novamente, e Luccino podia ouvir algo, mas estava longe, distante, e não conseguiu entender uma só palavra.

Quando seus lábios se aquietaram, Luccino assentiu novamente, nem mesmo se dando ao trabalho de fingir que tinha entendido alguma coisa. E pela feição frustrada de Mariana, seu balançar de cabeça não havia significado nada.

Ela então o puxou para perto, colocando a cabeça de Luccino contra seu pescoço, e ele ficou ali, fechando os olhos e respirando baixo. Ele podia sentir os dedos de Mariana por entre seus cabelos, e apesar do toque tão diferente (unhas mais compridas, mãos mais delicadas, dedos mais finos), não pôde deixar de lembrar de Otávio, de como ele gostava de passar seus dedos pelos cabelos desarrumados de Luccino, tirando todos os nós com calma, e se não houvesse nenhum, simplesmente fazendo com que ele se aquietasse e se aninhasse contra o major.

Seus olhos arderam e algumas lágrimas os encheram, poucas, pois já havia chorando demais, mas o suficiente para escorrerem por suas bochechas, ao encontro da pele de Mariana, que pelo movimento de seus braços parecia estar suspirando alto.

Uma voizinha baixa dizia para Luccino que não era justo, se usar de sua amiga assim, que estava sofrendo mais que ele por Brandão, mas nem mesmo a voz da razão que Luccino ouvia tantas vezes foi forte o suficiente para tirá-lo dali. Aos poucos, seus olhos se secaram de novo, e eventualmente, Mariana se afastou para olhá-lo, suas mãos repousadas de maneira natural sobre as bochechas de Luccino.

- Meu amigo... – ela murmurou, acariciando sua face, e Luccino pareceu ouvir melhor dessa vez, a olhando perdido mas não completamente fora de si. – Luccino... por favor, me diga que está bem.

Se tivesse espaço em seu coração para qualquer outro sentimento naquele momento, sentiria culpa de fazer com que Mariana se preocupasse com ele. Porém, não tinha, e portanto balançou a cabeça em negativa, sentindo seus olhos queimarem ainda que mais uma vez, mas não se molharem com novas lágrimas. Ela pareceu ficar mais aflita, suspirando alto e se inclinando para frente até que suas testas se encontrassem, os olhos de Luccino se fechando com o contato tão próximo.

Felizes Para SempreOnde histórias criam vida. Descubra agora