Grito

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Quando Luccino finalmente conseguiu voltar a si mesmo, ele voltou para o quarto, fechando a porta e pegando sua roupa. Se secou o mais rápido possível, enfiando a camisa e a calça sem qualquer roupa de baixo, e saiu novamente, descendo as escadarias para a recepção.

- Júlia, Júlia – ele chamou a recepcionista, que se voltou para ele, sua face muito calma – Júlia, por favor, me diga que a senhorita viu o major passando por aqui.

- Vi sim, mas o major Otávio não me deu satisfações de sua saída. Só correu para fora e eu não o vi mais – ela respondeu, franzindo o cenho. – Algo de errado?

- Não, não muito obrigado – ele assentiu, e saiu do prédio, olhando ao redor, tentando encontrar algum sinal de onde Otávio poderia ter ido. O carro ainda estava no hotel, ou seja, Otávio estava a pé. Mas não havia ali nenhuma estrada, nenhuma marca no chão, nada que indicasse a direção que ele poderia ter tomado.

O desespero bateu novamente, e fechando os olhos, Luccino tentou se acalmar, embora os soluços já estivessem tapando sua garganta, e as lágrimas já queimassem seus olhos. Maldição! Aquele sangue emocional que possuía, que não o deixava ver nada claro, sem deturpações de emoções!

Por que ele não podia ser mais como Otávio?

O pensamento veio sem que ele quisesse, e a dor no peito apertou ainda mais. Ele cobriu seu rosto, desesperadamente tentando apagar Otávio de seus pensamentos. Se ficasse pensando nele, não sairia do lugar. Aquilo era sério, muito mais sério que seus pensamentos e suas aflições. Porque por mais que ele estivesse magoado com Luccino, ainda assim ele estava sozinho em uma floresta em plena noite. Não havia nada de seguro naquilo.

Luccino respirou fundo algumas vezes, tentando se acalmar, e pensou uma última vez em Otávio, mas de uma maneira lógica. O que Otávio faria naquele momento?

- Reunir tropas e sair à procura da pessoa perdida – ele murmurou para si mesmo, tomando fôlego e assentindo. – Mariana.

E se virando, voltou para a pousada, correndo para o quarto das moças e batendo na porta da maneira mais leve possível, esperando que Mariana abrisse a porta, já que não queria ter que explicar nada à Cecília naquele momento.

Demorou um minuto, mas eventualmente a porta foi aberta, e Mariana colocou sua cabeça para fora, já utilizando trajes de dormir.

- Luccino?

- Mariana, por favor – ele falou, sua voz desesperada como sempre era, e ela franziu o cenho, entendendo que era algo particular. Ela se virou para dentro do quarto e sorriu.

- Cecília, já volto. Pode dormir se quiser – ela disse, e saiu do quarto, fechando a porta e olhando para Luccino. – O que foi? Você está pálido, seus olhos vermelhos... o que aconteceu?

- Mariana... Mariana nem eu sei o que aconteceu, eu... – ele sentiu a garganta fechar e os olhos arderem, e balançou a cabeça, suspirando alto, tentando se acalmar. – Otávio, ele... ele fugiu.

- De novo? – Mariana perguntou, parecendo um tanto irritada, mas Luccino foi rápido em negar com a cabeça.

- Não, não desse jeito – ele falou, voz trêmula, e esfregou seus olhos – Eu vou ter que explicar a situação, então por favor, depois que encontrarmos Otávio, esqueça que eu já te disse isso, está bem?

- Sim, claro – ela assentiu – O que foi?

- Nós... estávamos trocando c-carícias na banheira – ele falou, rápido, realmente muito desconfortável de ter que dividir aquilo, mas no caso, era um detalhe importante. Ele abriu os olhos e Mariana estava levemente corada, mas atenta, sem deboche ou desconforto. Ele realmente tinha a melhor amiga do mundo – e quando tudo chegou ao fim eu me afastei para olhá-lo, conversar com ele, como sempre fazemos... mas dessa vez... ele... ele estava chorando – ele gemeu, seus olhos se enchendo de lágrimas, seu peito doendo, cheio de culpa e repulsa de suas próprias ações. – Mariana, nós já nos entregamos várias vezes, isso n-nunca aconteceu, eu... eu não sei o que eu fiz de errado! Eu iria perguntar mas ele saiu correndo, e eu não... eu não consegui me mexer até que fosse muito tarde... Mariana, o que eu fiz? – seus lábios tremiam, o medo se infiltrando por suas veias como um veneno, o desespero atiçado em seu coração, as lágrimas escorrendo pelo seu rosto.

Felizes Para SempreOnde histórias criam vida. Descubra agora