Parte da família

251 16 2
                                    

- A-ah, a-a-aqui você está, meu am-amigo! – a voz de Randolfo se fez ouvir da porta dos aposentos de Otávio, que não pôde deixar de saltar no lugar e se virar rapidamente, não esperando tal visita. – Estava te pro-pro-procurando em todo o quar-quartel!

- Randolfo, que susto – ele suspirou, arrumando a gravata e o paletó enquanto se voltava para o espelho novamente – Por que estava me procurando?

- N-n-não vai ao almoço dos Pri-Pri-Pricelli hoje? – Randolfo perguntou, se aproximando e franzindo as sobrancelhas. – D-d-disse que foi convidado.

- Fui. Fui sim – ele murmurou, balançando a cabeça e se virando para encarar Randolfo. – Fui, mas não sei se vou. Afinal, era para ser um almoço para a família e agora a cidade toda vai.

- F-f-família? – o capitão perguntou, um tanto curioso, e Otávio sentiu seu coração pular para fora do peito e parar de susto, se dando conta da bobagem que falou.

- Enfim – ele disse, rápido, balançando a cabeça e se voltando para o seu armário. – Se você e Brandão vão, alguém tem que cuidar dos homens e eu, como major, tenho essa função. Portanto, não vou no almoço.

- O-O-Otávio – Randolfo disse, sua voz firme e sem espaço para brincadeiras – V-v-você está es-escondendo algo e-e-e eu não apre-pre-precio esse s-silêncio.

- Eu não estou escondendo nada – Otávio murmurou, desfazendo os botões de seu paletó. Mal conseguiu desfazer o segundo, Randolfo segurou seu braço e o virou, para que se encarassem novamente.

Seu coração parou de novo, e ele sentiu o mesmo medo que sempre sentia passar por sua espinha, o paralisando.

- Otávio – Randolfo disse, sua voz baixa e incrivelmente calma – Você é... meu melhor amigo. C-c-como um irmão pra mim. Por fa-favor. Me fale o-o que te afli-flige.

Otávio sentiu seu coração voltar a bater e suspirou baixo, seu medo travando sua garganta. A quanto tempo ele queria compartilhar aquilo com alguém, e embora agora tivesse Brandão, Mariana e Luccino, a culpa de não contar para seu melhor amigo o consumia praticamente todo dia.

Principalmente agora que até mesmo Nicoletta, Fani, Ernesto, Edmundo e Ema o consideravam da família.

Quer dizer, era o que diziam, pelo menos.

- Pois bem – ele disse, olhando para Randolfo – Você é... meu melhor amigo. Tem direito de saber.

- Sim – ele acenou, olhos arregalados, esperando atento. – Me conte m-m-meu amigo.

- Eu... – Otávio começou, sentindo sua garganta fechar novamente, e fechou os olhos, lembrando das palavras de Mariana de algumas semanas antes. 'O medo é um covarde. Enfrente-o. Enfrente-o'. Ele respirou fundo e abriu seus olhos, encarando seu amigo – A verdade é que...

- Me f-fale – Randolfo insistiu, colocando suas mãos sobre os ombros de Otávio. – M-me diga, por-por-por favor.

- Eu e Luccino estamos juntos – Otávio disse, rápido e quase sem ar, seu corpo tenso enquanto ele esperava a resposta de Randolfo.

Mas Randolfo somente franziu as sobrancelhas.

- C-c-como assim? Estão-tão juntos? – ele perguntou, e ao perguntar, seus olhos se arregalaram novamente e brilharam, fazendo com que Otávio se sentisse um tanto ansioso – Espere! C-c-como em meu so-sonho?

- Um... sim – Otávio disse, um tanto confuso. – Eu e Luccino estamos juntos, como estávamos em seu sonho em que dançamos juntos.

- P-p-por isso você passava tan-tanto tempo na ofi-ficina! – Randolfo disse, sorrindo – Por isso sem-sempre o olha-lhava ao longe! Por isso está be-bem mais feliz! Está co-co-como eu! Apaixonado!

Felizes Para SempreOnde histórias criam vida. Descubra agora