A situação de Brandão

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Depois da notícia, tudo correu no automático. Nenhum deles nem soube como reagir, além de subir no carro (Luccino dirigindo dessa vez) e saindo diretamente para o Vale. Cecília parecia em choque, sem conseguir proferir uma palavra de consolo sequer para sua irmã mais velha, que viajava em extremo silêncio, seus olhos abertos e seus lábios pressionados em uma linha fina. Ela não chorava, ou pelo fato de não acreditar na notícia, ou por querer permanecer forte diante dos amigos, mas claramente estava se segurando para não fazer nada. Suas pernas pressionadas uma contra a outra, suas mãos sobre seu colo, sua pose ereta que mal se mexia com os solavancos da estrada. Mariana parecia uma estátua, e talvez quisesse assim, até que visse com os próprios olhos o estado de seu marido.

Já Otávio e Luccino tinham suas mentes completamente embaralhadas. Otávio tinha, no mínimo, uma noção de não se culpar pelo ocorrido. O próprio coronel tinha pedido essa viagem, e só de pensar que se ela não tivesse sido feita, talvez Mariana e seu filho estivessem agora baleados ou mortos já lhe dava um nó no estômago. Pelo menos, Mariana estava segura. E por mais que Otávio repreendesse o coronel em pensamento por fazer questão de levar Virgílio e Xavier até São Paulo, ele não podia realmente culpa-lo por isso.

E Luccino só sentia culpa. Culpa de tudo. De saber do plano e não ter ido ter com o coronel, para tentar convencê-lo de não fazer a viagem. Estava tão animado com a saída, com o passeio com Otávio, Mariana e Cecília, que mal se importou com seu melhor amigo. Aquilo tinha sido uma falha muito grande, e que agora ele poderia pagar com um eterno sentimento de culpa. Se o coronel não se recuperasse, se não voltasse a ativa, Luccino nunca se perdoaria de não ter sequer dado um adeus a ele.

Para sua sorte, os três passageiros decidiram ir no banco de trás, Cecília e Otávio para dar força à Mariana caso ela precisasse. Assim, ele podia deixar as lágrimas rolarem de seus olhos sem ter a preocupação de alguém perguntando o que estava acontecendo.

A viagem, com Luccino no volante, acabou quase uma hora mais rápido do que a de Otávio. Eles chegaram ao Vale com urgência, e seguiram diretamente para a casa dos Tibúrcios, aonde Brandão estava instalado. Ao chegarem, Mariana praticamente pulou do carro ainda parando e saiu correndo para dentro da casa. Cecília e Otávio foram os próximos, seguindo para a porta enquanto Luccino parava o carro e saía o mais rápido que pôde.

Os quatro entraram na mansão do parque e foram interrompidos por Randolfo, que estava em frente a porta para a outra sala, aonde Rômulo cuidava de Brandão.

- Randolfo- Mariana tentou, mas o capitão simplesmente balançou a cabeça e segurou o ombro da moça.

- M-M-Mariana, você não-não pode entrar ain-inda – ele pediu, sua voz calma e suave. Mariana o olhou, no fundo dos olhos, e finalmente suas forças cederam, seus olhos se enchendo de lágrimas.

- Randolfo, deixe eu ver meu marido por favor – ela implorou, sua voz trêmula enquanto ela ainda tentava se acalmar. Seus olhos já brilhavam, suas mãos já tremiam, mas ela se mantinha o mais calma possível. Randolfo, porém, só balançou a cabeça.

- N-não posso.

Mariana assentiu, desistindo, e esfregou seus olhos, sentindo seu mundo desabar de pouco em pouco. Ela se sentou no sofá mais próximo e foi logo amparada por Cecília, que abraçou a irmã o mais forte que podia e beijou sua cabeça enquanto ela se deitava sobre seu colo, deixando suas lágrimas caírem sem qualquer ruído. Luccino olhou dela para Randolfo e depois para Otávio, e com um aceno de cabeça, o mecânico se voltou para sua melhor amiga e andou até ela, se ajoelhando a sua frente e pegando sua mão, para lhe dar alguma forma de consolo.

Já Otávio seguiu até Randolfo, seu olhar sério, como se esperaria de qualquer major.

- Qual o estado do coronel? – ele perguntou, baixo, para que os outros três não escutassem. Randolfo finalmente pareceu relaxar de seu status de capitão e olhou para Otávio como um amigo, sua expressão preocupada.

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