Uma semana

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A semana passou depressa. Por conta dos machucados de Luccino (e por pelo menos outras 5 razões com nome e sobrenome), Otávio tinha passado todos os dias na casa dos Pricellis, enquanto Edmundo e Fani dividiam quarto com Cecília e Romulo, e Ernesto e Ema continuavam na mansão do barão do café. Claro que Brandão só lhe deu dois dias de folga, para que não chamasse muita atenção no quartel, embora se fosse sua vontade, teria concedido ao major o tempo que quisesse.

Mas como sempre, Otávio tinha grande preocupação com seus afazeres, com seu batalhão, com sua honra e com as possíveis fofocas pelo Vale. Por isso, permaneceu na casa dos Pricellis por dois dias, como era o combinado, e ajudou Nicoletta com tudo que podia, enquanto ambos cuidavam de Luccino, que aos poucos melhorava. Quando o prazo acabou, Otávio prometeu visita-los todos os dias, de manhã e de noite, antes e depois de seu expediente, mas voltou a dormir no quartel.

Era estranho dormir lá agora, nem tanto por conta de ter se acostumado a dormir perto de Luccino, porque seria mentira. Mas depois de casar, Randolfo agora morava na casa dos Beneditos, e honestamente, Otávio sentia falta de seu melhor amigo durante as horas antes do sono vir, ou quando levantava para tomar água. Ele tinha outros colegas de quarto, mas Randolfo era seu melhor amigo.

Ele nunca admitiria aquilo em voz alta, mas o capitão fazia falta no quartel.

De qualquer maneira, ele não tinha muito tempo para se preocupar com isso. Voltando a sua rotina normal, ele conduzia o batalhão, treinava espadas e instrumentos, aplicava punições, e fazia tudo que Brandão o tinha ensinado todos aqueles anos. E, aos poucos, ele percebia que sua nova personalidade, não tão fria e sarcástica, realmente abria os olhos de seus cadetes, que pareciam muito mais animados para falar com ele, perguntar sobre suas dúvidas, e até mesmo seguir suas ordens com mais fervor e energia.

Era incrível, como a paciência e a bondade que Luccino tinha esfregado nele estava realmente dando resultados.

- Major Otávio – ele ouviu seu nome ser chamado em meio a seus devaneios e se virou, vendo Brandão na porta do quartel, acenando para que ele se aproximasse. Otávio acenou e se voltou para os soldados.

- Descansar! – falou alto e se virou, seguindo para dentro do quartel e indo atrás de Brandão até sua sala. O coronel andou ao redor de sua mesa e se sentou em sua cadeira, enquanto Otávio se manteve de pé, parado, esperando ordens.

- Sente-se – Brandão acenou com sua mão para a cadeira, e Otávio se sentou. – Como está Luccino?

- Ele está bem. Se recuperando rápido – disse, calmo. Brandão assentiu, distraído com vários papeis.

- Que bom, que bom – ele murmurou, arrumando a pilha de papeis e suspirando antes de coloca-los sobre a mesa e olhando para Otávio. – Agora escute. Eu tenho uma missão para o senhor.

- Fale coronel – Otávio assentiu, curioso. Brandão suspirou.

- Vou ter que ir até São Paulo, por tempo indeterminado – ele falou, franzindo suas sobrancelhas. – Xavier e Virgílio vão ser transferidos para uma prisão de alta segurança na capital, e eu fui convocado para acompanha-los por todo o caminho e assegurar que ficarão bem na prisão de lá. Portanto, eu vou precisar do senhor em constante alerta.

- Sem problema, coronel – ele assentiu, mas Brandão balançou a cabeça.

- Eu ainda não terminei – ele suspirou, e se inclinou contra a cadeira. – Eu sei muito bem que dona Mariana vai querer ir comigo, mas eu não quero que ela vá. Portanto, eu preciso que o senhor encontre um jeito de distrai-la enquanto eu não volto.

- Mas... coronel – Otávio franziu as sobrancelhas – Eu não consigo cuidar de Mariana e do quartel ao mesmo tempo.

- E por isso que você não vai cuidar do quartel, major Otávio. Esse será o dever do capitão Randolfo – Brandão explicou, suspirando. – A sua missão, caro amigo, é encontrar de hoje para manhã algum lugar distante, e levar Mariana para um passeio, até que eu volte.

Felizes Para SempreOnde histórias criam vida. Descubra agora