Seu escudo, sua espada

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- Vamos! Ande! Ande!

- Estou indo! – Luccino exclamou, continuando a andar em direção à sua oficina. Eles já estavam próximos do local, o que o deixava mais tenso. Virgílio mantinha suas mãos amarradas e a arma contra suas costas, e Luccino simplesmente não conseguia evitar o tremor de seu corpo, suas pernas fracas e seus olhos cheios de lágrimas.

Ele nem sabia se aquilo era medo do que Virgílio poderia fazer, raiva de ter sido um alvo tão fácil, dor pelas pancadas que tinha recebido, ou tristeza de ter deixado seu irmão se levar para um caminho tão horrível.

Ele não conseguia parar de se culpar.

Talvez se ele tivesse esquecido a história de fazer dinheiro sozinho, deixado de lado sua paixão pela mecânica e ido trabalhar com seu pai e seu irmão, ele teria convencido Virgílio a desistir de ajudar Xavier. Talvez ele teria crescido de maneira com que Virgílio o respeitasse, aceitasse suas ideias, sua ajuda. Talvez ele pudesse ter concertado a família, convencido Fani e Ernesto a ficarem, e tudo agora estivesse bem, com todos eles em casa, com seu pai vivo e todos felizes.

Talvez tudo aquilo realmente fosse culpa dele. De ter ajudado o coronel a fazer justiça com as próprias mãos. De ter convencido Mariana a seguir fazendo o que queria. De ter ajudado Ernesto com seu sonho, e convencido Fani a voltar. No fim, quase todos se não todos sofreram pelas escolhas que Luccino fez tentando ajuda-los.

E agora, se ele não ajudasse Virgílio a fugir, mais uma pessoa sofreria por conta de suas decisões de bancar o herói.

Dessa vez, ele não tinha a possibilidade de dizer não.

- Pare! – Virgílio exclamou, num sussurro gritado, e segurou Luccino para trás, cobrindo sua boca. Foi então que Luccino foi cortado de seus devaneios e prestou atenção à sua frente.

Lá estavam, a poucos metros da oficina. Só que ela estava com as luzes ligadas, embora fechada. E Luccino não se lembrava de ter deixado as luzes ligadas a um dia atrás.

O que significava que...

- Você não me disse que teria alguém na oficina, seu desgraçado – Virgílio grunhiu, empurrando Luccino contra uma árvore e segurando a gola de sua camisa. Luccino gemeu baixo, suas costas ardendo de dor, seus olhos se fechando e derramando novas lágrimas.

- E-eu não sabia, Virgílio por favor – ele implorou, baixinho, abrindo seus olhos com medo da reação do irmão. – Eu... eu vou lá, mando quem for sair e aí nós saímos, por favor, eu juro que eu não sabia que tinha alguém lá!

- ... faça isso – Virgílio disse, segurando a arma contra a testa de Luccino enquanto desamarrava suas mãos. – Eu vou ficar de olho na entrada da oficina. Se você ou quem quer que esteja lá dentro tentar qualquer coisa, eu vou atirar, e matar a todos, entendeu?!

- S-sim – ele murmurou, olhando para Virgílio, que acenou e mandou que andasse. Luccino lentamente se virou, ainda com a sensação da arma apontando para suas costas, e limpou a face cheia de lágrimas, caminhando lentamente até a oficina e pegando sua chave em se bolso.

Ele abriu a porta, entrou e a fechou de novo, com medo que vissem Virgílio e aquilo provocasse um alvoroço. Depois de entrar, sentiu seu corpo relaxar um pouco, mesmo sem nem checar quem estava ali dentro, todos os seus músculos doendo e seus olhos ardendo com novas lágrimas, dessa vez de desespero.

Tudo o que Luccino queria era sair pelas portas de trás e fugir, correr até a delegacia e fazer queixa de que Virgílio estava vivo e perambulando pela mata. Mas a ameaça que ele tinha feito ainda parecia muito real.

Se ele entregasse Virgílio à polícia, e eles não o encontrassem até a próxima noite, todos os seus amigos estariam em perigo. E dessa vez não haveria acordo que apaziguaria Virgílio.

Felizes Para SempreOnde histórias criam vida. Descubra agora