Notícias do Vale

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Na manhã seguinte, Otávio foi o primeiro a acordar. Estava ansioso, nervoso e com medo, por mais que fingisse estar bem perto de Luccino, já que não queria que o italiano ficasse ainda mais desiludido. Suspirando alto e deixando sua respiração sentir os cheiro delicioso que vinha dos cabelos de Luccino, ele se deixou relaxar antes de sair da cama, deixando ele dormindo mais um pouco e o cobrindo muito bem para que não tomasse friagem. Luccino continuou dormindo, abraçado ao travesseiro como sempre fazia, e Otávio se arrumou com sua regata, camisa e calça social. O dia estava chuvoso novamente, e ele estava sem vontade alguma de encarar as garotas quando se levantassem. Então ele foi até a área principal apara pegar comida para ele mesmo e Luccino e voltar para o quarto.

Ao fazê-lo, porém, foi parado por Julia, que se apressava em sua direção, um tanto afobada.

- Senhor major, senhor! – ela chamou, fazendo seu coração disparar. Depois, se acalmou, sabendo que ela não reagiria daquele jeito se soubesse de alguma coisa.

- Sim, Julia? – ele perguntou, confuso, se apoiando contra a mesa mais próxima, e ela suspirou alto, tomando folego novamente.

- Senhor, um homem ligou mais cedo para a pousada dizendo que precisava falar com o senhor. Mas como não tinha acordado ainda, eu lhe disse que você estava dormindo, e ele pediu para que eu dissesse que é para o senhor ir aprontando suas malas.

- Ju-espere – Otávio balançou a cabeça, confuso. – Qual o nome do homem que ligou?

- Randolfo senhor. Ele é gago, eu mal consegui entender o que ele estava dizendo, parecia muito aflito.

- Certo... e ele disse para que nós arrumássemos nossas malas? – ele perguntou, e ela assentiu. – Ele deu algum motivo?

- Não senhor. Só disse que logo logo teríamos notícias do quartel de Ouro Verde.

- ... estranho... bom, muito obrigado, eu vou ter com os meus amigos... com licença.

Julia assentiu e saiu de perto dele, voltando para a recepção, enquanto Otávio franzia o cenho, confuso, tentando entender aquela história. Será que havia acontecido algo ao quartel enquanto Otávio estava fora? Mas ele só estava fora a cinco dias! Oras, Randolfo não conseguia nem sequer ficar sozinho por cinco dias?

Não... não era possível. Tinha que haver um motivo. Otávio foi até a cozinha e pediu dois cafés da manhã, agradecendo o cozinheiro e voltando para o quarto. Lá, ele colocou os pratos sobre uma mesa, e se aproximou da cama, colocando sua mão sobre o ombro de Luccino.

- Luccino? – ele murmurou, balançando-o um pouco. – Luccino. Acorde.

Os olhos do mecânico se abriram lentamente e ele bocejou, esfregando seus olhos e procurando quem o tinha acordado. Quando seus olhos focaram em Otávio, ele sorriu sonolento e levantou uma mão para tocar a face do seu major.

- Bom dia – ele murmurou, sonolento, e Otávio sorriu. – Por que me acordou?

- Tenho que contar uma coisa, mas seria melhor se você estivesse mais acordado – ele falou, se sentando na cama, e Luccino bocejou novamente, assentindo e esfregando seu rosto enquanto se sentava.

- Estou acordando, me dê... me dê dois... minutos... – ele falou, se espreguiçando e suspirando com o relaxamento que aquilo lhe deu. Otávio simplesmente o assistiu, sorrindo um tanto apaixonado para o seu italianinho sonolento, que bocejava a cada minuto e que esfregava os olhos como uma criança.

Quando Luccino finalmente acordou por completo, seus olhos encontraram os de Otávio, seu sorriso e sua expressão, e suas bochechas esquentaram.

- Bom dia – Otávio comentou, contente, e Luccino sorriu de volta, se inclinando e sua direção e se apoiando em suas próprias mãos.

- Bom dia – ele murmurou, se aproximando cada vez mais, até que Otávio fizesse o mesmo e os dois se encontrassem em um beijo casto e calmo, sereno e suave. Depois se afastaram, e Luccino fungou um pouco o ar ao seu redor, sorrindo. – Café da manhã no quarto?

- Não queria que esfriasse, por isso te acordei – Otávio comentou, se levantando e levando seus pratos e copos para a cama. Luccino riu sozinho, colocando seu café com leite sobre o criado mudo e começando a comer. Otávio se sentou a sua frente e fez o mesmo, sorrindo para o italiano, que sorria de volta.

- pois então... porque acordou tão cedo? – Luccino perguntou, e Otávio deu de ombros.

- Não consegui dormir direito. Mas foi bom. Quando desci, Julia me contou que Randolfo havia ligado – ele comentou, e Luccino o olhou, curioso. – Disse que nós deveríamos arrumar nossas malas... eu não compreendi.

- Arrumar as malas? – Luccino perguntou, franzindo o cenho. – Vamos embora?

- Eu não sei... ele disse à Julia que logo teríamos notícias do quartel do Vale... mas se alguma coisa aconteceu, pelo menos eu terei que voltar – Otávio explicou, dando de ombros. – Tem algumas coisas que capitães não podem resolver.

- Entendo... bom, se você for, vamos todos – Luccino comentou, e Otávio deu de ombros. – Só estou aqui por sua causa.

- Bom, eu até diria para você ficar mas não quero você sozinho aqui com as duas – Otávio falou honestamente, e Luccino o olhou, confuso. – Se der qualquer problema, eu quero estar perto pra te defender.

- Otávio não precisa me defender – ele riu, baixinho, mas o major só balançou a cabeça.

- Preciso sim.

Luccino sorriu um tanto encabulado, e Otávio deu de ombros, sorrindo um pouco de volta para ele. Os dois voltaram a comer em silêncio, calmos, aproveitando aquela comida antes de saberem se teriam que ir embora ou não.

Ao terminarem, começaram a organizar suas malas, e quando acabaram, foram avisar as moças, ainda que não quisessem falar com elas ainda. Por sorte, elas estavam no quarto, ou seja, somente Mariana falou com eles. Otávio explicou a situação brevemente, e apesar de achar um tanto estranho, Mariana concordou arrumar as malas e esperar novas notícias.

Os dois voltaram então para a recepção, perguntando para Julia se alguém havia ligado novamente. A mulher afirmou que sim, que Randolfo havia ligado novamente, e gostaria que esperassem em frente a pousada com as malas em mão. Otávio se ofereceu para buscar as malas enquanto Luccino ia até o quarto das garotas, avisar Mariana de encontra-los no carro. Otávio trouxe as malas, Mariana e Cecília saíram ao encontro deles, e a Benedito mais nova não disse nada, não demonstrando nenhum sentimento, nada além de apatia.

Bom, era melhor que uma reação abertamente negativa.

Assim que os quatro se arrumaram perto do carro, Luccino viu ao longe um dos cavalos do exército, com um cavaleiro. Ele se aproximou rapidamente, e Otávio se adiantou parar receber o cabo, que parecia um tanto ansioso. Ele chamou o major ao lado, para falar com ele no privado, e Mariana olhou para Luccino, preocupada.

Cecília também parecia atenta, mas não demonstrava nada.

Eventualmente, os militares bateram continência e o cabo subiu em seu cavalo e se foi, enquanto Otávio voltava para o grupo, parecendo um tanto perplexo.

- Otávio, o que foi? – Mariana perguntou antes que Luccino o fizesse.

- Alguma coisa aconteceu no Vale? – Luccino completou, enquanto Cecília os observava, em silêncio.

- O coronel... – Otávio falou, seu olhar indo de Luccino até Mariana e voltando. – O coronel... foi baleado.



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