Noite estrelada

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Luccino sentiu o mundo voltar a clarear a sua volta aos poucos, piscando lentamente enquanto seus sentidos voltavam, seu estômago embrulhado e sua mente confusa e atordoada.

A confusão não durou muito, combatida com um tapa contra sua bochecha esquerda, que o fez grunhir e seus olhos arderem.

- Acorda desgraçado – ele ouviu alguém dizer, mas não reconheceu a voz imediatamente. Piscou os olhos de novo, dessa vez turvos por conta do tapa, antes de sentir outro tapa do outro lado do rosto, gemendo baixo e olhando para o chão. – Acorda!

A voz agora lhe parecia mais clara.

- Vir... Virgílio? – ele murmurou, abrindo seus olhos e piscando lentamente, sua visão clareando enquanto ele levantava a cabeça. Aos poucos, sua visão foi clareando, e ele se viu dentro de um galpão que não conhecia, com Virgílio logo a sua frente. – O que...

- Quieto! – Virgílio grunhiu, se abaixando e pegando Luccino pelos cabelos, levantando sua cabeça e o fazendo gemer de dor novamente. – Você não vai falar nada aqui. Ouviu? Tudo que você vai fazer é ir comigo até a sua oficina, pegar o carro do seu amigo Brandão e me levar direto para São Paulo. Ouviu bem?!

- O único lugar que eu vou te levar é pra cadeia – Luccino respondeu por entre os dentes, tentando mover seu corpo, e somente ali percebendo que estava todo amarrado contra a pilastra. Virgílio grunhiu, não gostando nada da resposta de Luccino, e deu-lhe um soco no estômago que o teria derrubado se ele não estivesse amarrado.

- Escute aqui, verme – Virgílio sussurrou, puxando Luccino pelo cabelo enquanto ele ainda arfava por conta do soco – Você vai fazer o que eu mandar, ou se não, vamos nós dois direto pro inferno. Entendeu?

- Já não basta matar nosso pai, vai me matar também Virgílio? – Luccino perguntou, respirando forte enquanto cerrava os olhos. – Ou seu objetivo é ser o único Pricelli de toda a terra? Vai sair atrás de Fani e Ernesto depois daqui?

- Eu mato qualquer um no meu caminho se me atrapalhar – Virgílio respondeu, se afastando de Luccino – E se você não quiser colaborar, eu acho outro que queira.

- Pois então vai ter que matar o Vale inteiro! Ninguém vai querer te ajudar, nem mesmo por meio de ameaças! Não depois de tudo o que você fez, com todos, à mando de Xavier! – Luccino exclamou, tentando se soltar das cordas que o prendiam. – Você é desprezível, Virgílio! Você sim é o desertor que papa falava tanto sobre! Sempre foi e sempre será você!

- Quieto! – Virgílio gritou, se virando para Luccino com a arma apontada em sua direção. Ao se ver cara a cara com o perigo, Luccino se calou, seu corpo tenso e tremendo um pouco. – Não ouse usar nosso pai contra mim. Aquele tiro não era para ele, e você sabe muito bem disso.

- Era para Ernesto. Seu irmão. Muito pior do que ser para nosso pai – Luccino murmurou, respirando rápido. – Você ia matar seu próprio irmão... pra quem você ensinou tudo...

- Mataria e matarei, se preciso – Virgílio disse, sua voz fria e olhos vazios. Luccino sentia mais medo daquele olhar do que da própria arma. – Ernesto, Fani, você... todos traidores da família. Todos desertores nojentos, desgraçados, que destruíram tudo que poderíamos ter sido... A culpa é toda de vocês.

- Foi você que destruiu sua própria vida! – Luccino gritou, cheio de ódio e tristeza dentro de si. – A culpa de tudo isso é sua de se manter do lado de Xavier! Aquele crápula, aquele... aquele sádico, maldoso-

- Chega! – Virgílio disse, alto, puxando o tambor da arma e fazendo Luccino de calar novamente – Nem mais uma palavra contra Xavier! Isso não é sobre ele. Você vai me levar para São Paulo. Hoje.

Felizes Para SempreOnde histórias criam vida. Descubra agora