Capitulo 6

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— Você...?

Eu fixo meu olhar no que vejo logo atrás de mim, uns dez metros à frente e caminhando como se fosse um antigo conhecido de Johanna que voltara para surpreende-la. Pior, quando eu formo a imagem, é que meu coração acelera, pulsa forte dentro do meu peito como se ele quisesse se abrir e ir cada parte para um lado.

A semelhança é incontestável, e a presença, parece perturbadora, pois inexplicavelmente, foi ela... ela quem vi outro dia quando estava entrando na limusine de Benjamim. Ela, que logo em seguida veio em minha memória como um estalido duro e uma imagem explodindo em meus olhos como um flash.

O corpo de moça, o sorriso reluzente e branco, os cabelos castanhos quase loiros em cachos delicados, a pele branca e os inebriantes olhos verdes, recobertos por maquiagens fortes surgindo na minha frente como Eva surgindo para Adão antes do pecado.

— Beatrice... — eu sussurro incapacitada de falar qualquer coisa.

Johanna abandona sua taça sobre uma mesa de vidro, poderia dizer que naquele momento era o único barulho audível em toda a casa, já que sabe se lá onde estavam os contratados de Johanna. Ela se aproximou, seus passos eram robóticos quando em direção a Beatrice. A moça desembarcou sua bolsa de 2000 Euros sobre um dos sofás e seu salto batucou no chão como uma rocha.

— Johanna...

Eu franzi as sobrancelhas para tentar ver melhor, meus lábios caiam diante dela, e parecia que eu estava vendo mesmo um zumbi, um morto que regressou a vida.

Ou melhor... alguém que aparentemente nunca esteve morto.

Beatrice.

Entretanto... ela parecia ferida. O seu rosto estava maculado por cicatrizes profundas, assim como os braços; a única parte desnuda seu corpo sendo que ela trajava uma calça e um agasalho de frio do mesmo azul marinho. Se diferente, por baixo daquelas roupas, da queda desse andar... todo seu corpo estaria igual.

— Be... Beatrice. Deus, como isso é possível?

Johanna dá mais um passo à frente e, pela primeira vez, percebo como ela perde a fala e o equilíbrio apenas de estar vendo aquela exuberante garota. Não, talvez não fosse sua notável beleza, mas sim ela, o que ela era, o que foi para Johanna e não me contenho.

Eu me aproximo, antes que Johanna enfim fosse para tomar uma de suas mãos e ambas se abraçassem, não como um abraço de namoradas, mas sim de um reencontro cheio de saudade e boas lembranças.

— É uma longa história — ela tinha uma macia e doce voz.

— N-não pode ser. Eu atestei a sua morte, eu estava no seu enterro, Beatrice! Por favor, não me assuste dessa forma... o que aconteceu?

— Johanna — chamo por ela, tensa, nervosa demais para dizer mais ou olhar na minha direção.

— Eu... eu não morri, Johanna. Eu... eu me lembro de estar em um necrotério. O funcionário disse que eu tinha sido trazida horas antes, sem vida, pronta para ser enterrada, quando acordei com o peito explodindo, desnorteada.

— Você não tinha pulso — Johanna agarra a mão dela e a aperta dolorosamente, posso sentir isso olhando-as de longe.

— O legista disse que eu perfurei uma veia no pescoço quando usei aquela agulha e aquilo parou meu coração, mas, graças a deus eu não morri.

— Por favor... sen... sente-se — Johanna pede nos guiando pela sala de volta até o sofá onde ela se senta de um lado, Johanna no meio e eu no canto. — E... essa é minha namorada, Cecilia Winsloe.

Eu levanto a mão para cumprimenta-la, mas sei o quanto estou tremendo e suando frio, Beatrice me dá um único olhar certeiro, capaz de congelar o meu ser igual uma chuva de gelo, ela toca a minha mão. Deus, que sensação horrível foi a de tocar na mão dessa garota! Para mim ela estava morta e enterrada há muito tempo.

— Prazer em conhece-la... Cecilia.

— Igualmente... Beatrice.

— Querida, pode servir algo a Beatrice, por favor?

— Claro, o que deseja, Beatrice?

— Uma cerveja — ela diz com um pequeno sorriso.

— Certo.

Eu olho por sobre seus ombros antes de girar nos calcanhares, toco meu peito e ele parece um carro de corrida de tantos batimentos desconexos, ainda sinto a temperatura da sua mão mesmo depois de nos tocarmos, daquela sensação de... oh deus, não, isso deve ter abalado Johanna a ponto de faze-la esquecer de tudo, incluindo o que conversávamos.

— Por que desapareceu?

Ainda ouço um trecho da conversa enquanto me direciono pelo caminho até a cozinha que ficaria geograficamente posicionada atrás do sofá do lado esquerdo da sala.

— Eu não queria apavora-la.

— Isso não deu certo... estou em pânico.

Ao chegar a cozinha, eu confiro a geladeira e tem algumas cervejas especiais que Johanna raramente havia tocado, estavam em pequenas caixas, talvez fosse cerimonial já que sua bebida favorita era vinho tinto, salvava apenas alguns de seus amigos que uma ou outra vez vieram até aqui para cumprimenta-la.

Olho a latinha, deus, que estranho uma garota beber cerveja. De qualquer forma não praguejo em leva-la em uma bandeja até ela na sala, e me sento logo em seguida, não me sinto avulsa, apenas despreparada para... isso.

— Isso parece impossível de acreditar até mesmo para mim que sou médica. Mas... por que decidiu voltar somente agora? Se passaram 3 anos, Beatrice.

— Na noite em que acordei no necrotério, a minha mãe foi me encontrar e eu pedi, praticamente supliquei para que ela me levasse de volta para a Bélgica na tentativa de... esquecer tudo, esquecer você e o que vivemos. Precisava de tempo para espairecer e... acreditei que somente se morresse estaria livre de todos os meus sentimentos destrutivos. Eu não queria nunca mais te reencontrar, mas... percebi o meu erro e voltei para cá já tem alguns meses. Além de que, eu estava machucada demais para te encontrar.

Oh, eu me lembro de tudo, da história do triangulo amoroso entre Johanna, Beatrice e Selene. Aquilo era tenso, me causava um desconforto momentâneo, como se eu não precisasse ficar de curiosa no meio da conversa delas. Na verdade, realmente não precisava, aquilo não era assunto meu.

— Johanna, vou ver como Nadja está.

— Sim querida. Ela está com Elena no quartinho.

Balanço a cabeça em entendimento.

— Quem é Nadja? — Beatrice pergunta quando já estou longe.

— Minha filha — Johanna fala com orgulho.

Minha Indomável Paixão (Livro 3) - CONCLUIDOOnde histórias criam vida. Descubra agora