Capitulo 29

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Nós tentamos comer em silencio, os únicos barulhos presentes no lugar eram os das músicas no andar inferior e o nosso, batucando nos pratos. Estava tão bom! Eu jamais havia ceado algo tão gostoso, tudo feito com um carinho até mesmo exagerado da parte de Amara, que ali, parecia a mãezona entre nós três.

Não parecia.

Isso pela forma maternal com que ela cuidava de mim e Louise principalmente. Ela terminou, serviu-se de seu vinho, eu segui e estávamos prontas para comer a piada de família, uma das receitas mais populares do Brasil.

Estava maravilhoso, tão inegavelmente maravilhoso que eu fechei os olhos enquanto mastigava as camadas de bolacha misturadas a um recheio macio de coco e leite condensado.

Conferi o meu relógio, na expectativa de que Selene pudesse ligar de novo, mas já era quase meia noite, ela não o faria. De certo estaria com Johanna em sua casa — isso se ela não estivesse com Beatrice aos beijos.

Não...

Não quero pensar nisso. Não quero pensar em nada que remeta a saudade que sinto da minha ruiva perfeita.

Na rua havia uma agitação intensa, uma verdadeira farra passava frente a porta com suas cornetas, seus bumbos, suas pessoas cantando e dançando.

— Vamos para a sacada, teremos uma visão melhor dos fogos! — Amara se levantou saltitante como uma criança, disparou correndo pela casa.

— Ela sempre fica assim antes dos fogos. Vem, vai gostar da vista que temos.

Lembro que no ano passado perdi os fogos de artificio. Bem, na verdade sequer lembrava da última vez em que os vi já que a visão na pensão da senhora Agatha era horrível, ir a rua era horrível, ficar acordada até depois da meia noite para ver fogos me parecia horrível e, na maior parte da minha vida eu estive dormindo depois que o relógio badalava as 0h.

Louise me guia para outro lado da casa atravessando diversos cômodos que tinham portais chineses ao invés de portas, até que chegamos ao outro lado onde havia um cômodo vazio e uma sacada aberta após um par de portas francesas escancaradas.

Amara estava se esforçando para ter uma visão privilegiada, eu esbugalhei os olhos pressentindo o risco de ela pender naquele peitoril que chegava a metade do seu corpo. Me aproximei aos poucos, um passo por vez, mas o que vi fora apenas aquela mulher gentil que me quis tão bem como amiga.

Mas, desde cedo, eu só queria, sei lá... agradece-la de forma especial por tudo o que fez por mim. Deus, eu congelei no instante em que sai dos limites da casa e entrei no limite da sacada, olhei para fora, era alto, tinha uma visão do céu com uma lua tímida atrás de nuvens e das duas ruas que advinham além das casas mais altas.

Apoiei uma mão no peitoril e a ouvi comemorar com alguns gritinhos, feliz, contente, agradecida.

Louise cruzou os braços, alisou os cabelos e parou diante do peitoril.

— Ei, vou pegar a câmera, quero registrar esse momento.

Eu aceno com a cabeça permitindo sua ida. Faltavam apenas dois minutos para começar um novo ano, e, além dos meus pedidos — mesmo que tivessem sido interrompidos —, eu ainda queria que tudo desse certo no começo do novo ano. Além das realizações, do luxo em que agora vivo, eu precisava de um pouco de paz interior para poder voltar ao que fui um dia.

Uma pessoa de boa.

Ok, eu queria agora provar uma tese para finalizar/começar o ano sem dúvidas.

— Amara.

Ela cede sua comemoração, me olha, ajusta suas roupas.

— Finalmente o ano está acabando — Amara virou-se na direção oposta, olhou para o céu com expectativa. — Foi um ano divertido que, sinceramente, não tenho do que reclamar. Fiz e faria tudo da mesma forma.

Minha Indomável Paixão (Livro 3) - CONCLUIDOOnde histórias criam vida. Descubra agora