— Crianças, vamos correr com as preparações! — proclamo para aquele meio mundo de crianças que pareciam átomos agitados.
Bey, uma garotinha loira que geralmente se sentava no fundo estava parecendo um anjinho, literalmente, seus cabelos longos faziam com que ela parecesse mais velha. Trajada em roupas brancas e asas, ela representaria isso mesmo. Ela se aproximou com a coroa lhe tapando o rosto e eu me prostrei para poder ajudá-la a endireitar.
— Pronto, querida. Ricardo, não pode usar a capa azul, ela é do seu amigo! — berro para o garoto arteiro.
Numa das muitas salas de preparação da escola de teatro, todos estávamos correndo, com uma plateia ansiosa no lado de fora. A minha credibilidade como professora temporária e uma ansiedade para saber como as crianças estavam tão agitadas quanto as crianças. Minhas energias eram maiores do que a delas, mesmo que eu soubesse que estava presa num trabalho em pleno dia de natal.
No lado fora, o clima estava frio — novidade do natal em qualquer parte do mundo —, as ruas pareciam congeladas no tempo, pois todos sem exceção haviam removido seus agasalhos dos armários antes de sair. Chá e café eram as principais pedidas no stand, pelos professores e o pessoal que preparava a peça e as crianças menores. Por sorte, todos sabiam o que fazer e eu era apenas o apoio emocional para todos aqueles anjinhos que mais tarde poderiam se tornar como... eu.
E, do outro lado da sala preparada... Melina.
Ela estava sobre um caixote de perucas, aninhada entre as próprias pernas miúdas, trajada de rosa da cabeça aos pés representando o amor, o espirito do Natal. Naquele momento, tanto o que ela gritou comigo quanto o que a senhora Graça disse que aquilo não era problema meu, voltou a rebater na minha cabeça como uma chuva de granizo.
Era problema meu, sim!
Me aproximei e tomei antes de tudo, seu joelho para desperta-la.
— Querida, tudo bem com você?
Eu me atiro também sobre o caixote para me ver mais próxima a ela.
— Sim, senhorita Winsloe.
— Está feliz? Pronta para a apresentação?
— Eu... queria ficar no meu quarto, trancada.
— Sério? — questiono impulsivamente. — Por quê? O natal é um dia tão... brilhante, cheio de significado. Você não gosta?
— Não gosto.
Deus... uma criança que não gosta do dia 25 de dezembro. Coincidência? Não mesmo. Eis a Cecilia Winsloe com 15 anos que nessa época não pensava em mais nada senão sentar-se diante do computador e assistir filmes, ver desenhos e passar o dia inteiro e a noite sem fazer nada, graças ao significado contrário que o natal trazia para ela e sua vontade de morrer.
— Melina, meu bem, as vezes os adultos podem fazer algo desagradável, eu sei, mas... alguns querem te ajudar e eu sou uma dessas pessoas, sabe? Tenho uma filha tão adorável quanto você e...
— Quantos anos ela tem?
— Quase dois meses.
— Owt, que fofa — ela sorri.
— Ela é inteligente, só não me conta o que sente porque ainda não sabe falar, mas se soubesse... eu lhe daria todo o tempo e atenção do mundo para ouvi-la falar se tivesse algum problema. Eu vejo que você não está bem só de olhar para você. Não te conheço bem, mas posso adiantar que... você tem um problema. Pode confiar em mim, querida, eu não vou brigar com você e nem nada, só quero ajudá-la a superar a sua dor.
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Minha Indomável Paixão (Livro 3) - CONCLUIDO
ChickLitCecilia Winsloe finalmente realiza o seu maior desejo - o de se ver livre da anomalia que tanto a assombrava. Com o nascimento do primeiro filho, fruto de um milagre da ciência, eis que novos obstáculos, desafios e desentendimentos surgem. Intrigas...