Capitulo 15

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— Eu posso fazer isso se acreditar. Minha irmã não aprovaria, mas eu devo, não apenas por mim, mas por você também porque... eu.

A minha voz rebate no quarto tomado apenas por uma gentil luz clara que o invade através das janelas entreabertas no segundo andar do meu AP novinho. O silêncio me servia como um inestimável companheiro para ensaiar as minhas falas que de vez em quando surgiam ali cena ou outra.

Ontem pela tarde Barry havia me ligado, sua voz estava uma graça ao anunciar que tudo estava pronto e eu em minha pressa apenas reorganizei a minha mala e sai arrastando-a até aqui, nesse lugar onde tudo se baseava em uma espécie de paz momentânea e uma sensação de independência visto que Cappas não precisava mais pagar minhas diversões e eu não tinha que ligar para a recepção toda vez que quisesse comer algo.

Eu me levanto, carregada pela energia dos múltiplos cafés e inspirada pela maravilhosa chuva que caia do lado de fora. Gotas suaves pingavam no telhado fino e produziam uma sinfonia harmônica capaz de limpar a minha mente de todo e qualquer pensamento.

Era pouco mais de 9h da manhã quando acordei, disposta a fazer isso e aquilo dar certo. Eu tomo um gole do meu café — delicioso alias, e analiso meu roteiro com uma fonte manuscrita. As primeiras cenas a serem gravadas na semana que vem eram uma espécie de flashback com atores convidados para fazer apenas uma ponte resumindo o que havia acontecido antes dos principais fatos.

Deus, tinha uma história de família tão cativante e realista! Olha-la, trazia a minha mente um flash, uma imagem clara do riso de Nadja enquanto ela segurava meu dedo e um sorriso corria o meu rosto e o de Johanna. Ela tomava algumas mechas do meu cabelo e acariciava como se fosse uma flanela muito fina e delicada.

Então já estou tomada por um suspiro profundo e uma sensação de que meus olhos estão clareando por uma neblina. Aquilo poderia ser algo como uma saudade que batia duro todas as manhãs. Acordar e não vê-la, dormir e não poder lhe dizer boa noite.

Inesperadamente o meu celular toca muito próximo a mim e tenho poucos segundos para pega-lo.

— Alô?

— Cecilia, sou eu, Louise. Cappas quer um ensaio fotográfico para hoje, precisamos começar cedo e sua presença é necessária, ok?

— Ok, vou me preparar e em alguns minutos chego no set.

Retomo os roteiros sobre uma das minhas malas e logo já estou disposta para ir banhar e me trocar.

Entretanto, na descida das escadas, eu percebo uma movimentação e uma pequena risadaria. Eu tento não dar de cara para não parecer intrometida ou invasiva, mas não consigo negar a vista de ver Barry beijando um rapaz. Quando eles olham na minha direção, eu percebo que conheço o rapaz.

— Gente, mil desculpas — eu gesticulo, envergonhada pela velocidade com que ambos se viram na minha direção.

O cônjuge de Barry era... Martin Kendal, o meu par romântico de filmagens.

Barry se recompôs com um pequeno sorrisinho e ajustou sua grossa jaqueta de couro empapada pela chuva.

— Imagina, eu quem deveria pedir desculpas por não ter avisado — justifica.

— Cecilia... olá.

— Martin — aceno com a cabeça. Ontem à tarde depois que me fixei na casa de Barry, eu havia combinado de ensaiar roteiros com ele, fomos até um cais que tinha uma vista linda para um prédio de vidros cinzentos (chegamos a meia noite). — Eu... eu não sabia que...

— Ele era uma borboletinha? — Barry toca em sua face e parece brincalhão. — Nem eu. Tive essa honra ontem à noite. Vocês já se conheciam? — ele aponta entre nós, com dúvida.

Minha Indomável Paixão (Livro 3) - CONCLUIDOOnde histórias criam vida. Descubra agora