A casa estava escura.
Com a garoa que a noite propiciou, o clima havia se tornado mais frio, pedia que Cecilia se envolvesse ainda mais em seus edredons e na maior parte da noite se virasse, desconfortável, perdida dentro da sua própria mente que utilizava os pensamentos do dia para gerar seus sonhos durante a noite. Um médio sorriso passou por seu rosto sereno após se virar uma última vez.
Mas, bastou que um mínimo barulho surgir no andar de baixo para que ela fosse arranca de um de seus sonos leves, capazes de serem interrompidos por uma minúscula barata andando pelo seu quarto, de votla para a realidade. Seus olhos viraram alguns graus e atingiram a porta de seu quarto fechada, ela suspirou, ainda elevada pelo sono e coçou as bochechas, fechou os olhos.
Mas o barulho se repetiu, dessa vez alto o suficiente para provar que não havia sido ao acaso ou um mero pensamento. Ela levantou a cabeça, ainda com cara de sono e forçou os olhos pequenos em direção a porta, só que o barulho se repetiu uma terceira vez e ela corajosamente desceu de seu conforto.
— Que chão frio!
Se direcionou até o criado mudo onde dentro encontrou uma mini lanterna de luz laranja muito fraca e guiou até a porta, abriu-a com extremo cuidado e um vento gélido a invadiu. Ela deu os primeiros passos, encarou a porta entreaberta no quarto do amigo que ela sequer viu antes de chegar. Ele poderia estar cansado demais após um longo dia de trabalho e uma tarde de diversão.
Ela caminhou a passos silenciosos pelas escadas, um passo por vez e suspeitou de algo.
— Barry? — ela pergunta uma única vez. — É você, querido?
Ela arriscou mais alguns passos e olhou para sua esquerda, só que o barulho de algo caindo foi o suficiente para disparar seu coração.
— Quem está ai...? — sua voz falha.
Como num ultimato, mesmo que tomada pelo medo, Cecilia deu um passo bêbado em direção a cozinha, seus pés tremiam, dificultando seus passos.
Então, quanto virou a luz da pequena lanterna, ela teve uma surpresa.
— Martin! — ela suspirou tocando o peito, ainda mais assustada por saber que sua intuição não havia mentido, alguém estava mesmo perambulando pela cozinha. Só que isso a confortou de certa forma. — Que susto! Achei que... fosse um ladrão.
O belo rapaz virou na sua direção.
— Cecilia... droga, você não devia estar aqui!
— P... por quê? Está... tudo bem?
Mas Martin não correspondeu as suas expectativas, quando se virou, ele estava carregando uma mochila preta, daquelas que Barry geralmente usava para passear, e também....
— Deus... — Cecilia recuou um passo, dispôs as mãos sobre a mesa e seus olhos param de piscar. — O que...
Ele estava munido de uma faca de cozinha.
— Shhhh — Martin a censurou, mas Cecilia estava assustada demais com aquela faca apontada para ela que precisou recuar e parou ao se chocar contra o fogão. — Cala a boca! Não fala nada! Se gritar eu... eu mato você! — seus sussurros eram quase um grito de morte.
Cecilia sentiu lagrimas escorrerem pelos cantos dos olhos, lagrimas de temor, de um terror incompreensível que ela jamais havia sentido por nunca ter recebido qualquer ameaça senão a do seu antigo chefe Barnes.
— Por que está fazendo isso? O que você pegou!?
— Não interessa, fala baixo — ele pede mais uma vez, joga a mochila nas costas e confere a sala. — Você não viu nada, entendeu?
— Por que isso?
— Ninguém merece aquele mauricinho irritante, Cecilia.
Ela não sabia o que dizer.
— Barry não é um mauricinho, Martin! Ele... ele fez de tudo para conquistar você.
— Se liga, garota, acha que eu gosto de homem? O cara falou o que tinha logo no primeiro encontro e foi isso o que me interessou.
— Você roubou dele!
— Shhhh!
Ela recua com medo.
— Por favor, me deixa fora disso.
— Você sabe que foi eu... vai contar para ele.
— Não! Não vou, eu prometo — ela poderia prometer qualquer coisa para não sair dali ferida. — Por favor, me deixe em paz, abaixa essa faca... por favor.
— Barry tem dinheiro, Cecilia, a família dele tem dinheiro, isso é atraente.
— Você... você tem tudo, Martin! Não precisa fazer isso com ele.
— Não me pagam o suficiente na produção, por isso eu quero mais. Você... você não vai contar isso para ninguém.
— Não me machuca... eu... eu tenho uma filha, tenho família.
O garoto poderia estar fazendo o errado elevado pela ganancia e pelo cheiro do dinheiro, mas ele não era tão mal quanto gostaria de ser, talvez já tivesse feito isso. Da mesma forma, acreditava que era errado, mas o mal sempre dava sua cara, era sempre mais forte.
— Se contar isso para alguém... já sabe o que vai acontecer.
Ela balança a cabeça, totalmente compreensiva.
— Eu prometo.
Martin largou a faca sobre a mesa e de repente já estava correndo em direção a saída, Cecilia encarou-a sobre a mesa e um choro forçado correu por sua garganta, sua asma atacou, o suficiente para faze-la ficar sem ar e amedrontada demais para gritar ou pedir por ajuda. Pior, ela teria que conviver com aquele terror a partir de então sem poder reagir.
Ela disparou em corrida até o andar superior e invadiu o quarto do amigo, ajoelhou-se sobre sua cama e tentou acorda-lo.
— Barry! Barry!
Mas não ouviu respostas. Ela sentiu seu pulso, ele estava vivo para seu alivio, mas não respondia, devia ter um sono profundo. E, depois daquilo, ela desistiu após tanto lutar, não teria como vencer seu sono e aquilo poderia deixa-la louca se insistisse.
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Minha Indomável Paixão (Livro 3) - CONCLUIDO
Chick-LitCecilia Winsloe finalmente realiza o seu maior desejo - o de se ver livre da anomalia que tanto a assombrava. Com o nascimento do primeiro filho, fruto de um milagre da ciência, eis que novos obstáculos, desafios e desentendimentos surgem. Intrigas...