No comecinho da tarde, o clima no lado de dentro da sala era de comodidade, não da minha, ainda nervosa para falar com fluência, principalmente se precisasse explicar algo na lousa, mas era como se eu pudesse me conectar com as crianças, falar sua língua e rir.
Eu falo, e posso ouvir a minha própria voz falando, os risos lá no fundo quando cometo alguma gafe, mas uma estranha empolgação que brota no meu coração, sobretudo quando alguém espertinho corresponde as minhas expectativas com uma resposta afiada.
Eu observo ao redor da sala onde apenas alguns alunos se destacam, a garotinha loira com nome americano "Hilary" e o garotinho negro que se esforçava para tirar um sarro, seu nome era "Ryu". Depois de sua última piada acerca de paella, a aula se encerrava com um sino insistente e repetitivo ressoando na sala. As crianças organizaram suas coisas e a melhor parte do meu dia aconteceu quando algumas delas, as mais quietas me tomaram em um caloroso abraço e até beijaram meu rosto dizendo "Até mais, tia Winsloe", oh! Que momento glorioso senti-las agarradas a mim, criando expectativas sobre o próximo dia.
Me assento a mesa e suspiro, no instante seguinte, a senhora Graça corta caminho junto as crianças e se aproxima com um olha baixo sobre mim que me faz corar. Eu mordo meu lábio involuntariamente, como se já soubesse que ela estava vindo me avaliar novamente por alguma coisa, afinal, essa era a semana de testes... meu primeiro dia.
— Senhorita Winsloe.
Ela desliza ao meu lado em uma das cadeiras e assume um caderno de capa preta que tento bisbilhotar, mas ela não me permite.
— Fez uma boa primeira aparição hoje.
— Obrigada, senhora, achei que seria um pouco mais difícil.
— Acha que é uma brincadeira esse trabalho?
— N... não, não quis dizer isso — engulo em seco. — Quis dizer que... amei as atribuições, me conectei com as crianças muito bem e fiz o possível para ganhar a confiança delas logo de cara. Sempre gostei de crianças porque tenho vários primos e sobrinhos pequenos que praticamente não me deixam em paz.
Ela me olha como em deboche, como se minha vida pessoa não a interessasse em nada e depois volta para o caderninho.
— Teve algum progresso hoje?
— Sim, foi um bom dia, bastante produtivo, acredito eu. Mas... posso ter seu parecer quanto ao meu desempenho?
— Bom — ela fecha a capa do pequeno caderno e se vira em minha direção. — Nenhuma reclamação de aluno, uma sala comportada e, surpreendentemente, prestando atenção no dinamismo do seu ensinamento. Senhorita Winsloe, fez um bom trabalho, ligo em breve para que retorne.
— Eu... não vou lecionar todos os dias?
— Temos um itinerário bastante exclusivo aqui, senhorita. As aulas não são todos os dias. Além de que, você tem outras atribuições em curso e só preciso saber com Cappas quais seriam bons horários para tê-la junto conosco, o que acha?
Eu havia gostado tanto do primeiro dia que não queria que ele terminasse, nem que fosse o último. A sala me era tão grande e ao mesmo tempo tão convidativa, com adoráveis crianças esnobes que haviam me tratado tão bem. Saber que não viria todos os dias para vê-los só tornava essa experiência menos prazerosa como eu gostaria que fosse, mas eu aceito, mesmo rejeitando a ideia.
A senhora Graça me permite ir embora pouco tempo depois, e eu comemoro por ser tão forte, em outros tempos estaria temerosa, nervosa por experimentar algo que fosse novo e tão assustador quanto falar em público para uma plateia tão exigente.
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Minha Indomável Paixão (Livro 3) - CONCLUIDO
Chick-LitCecilia Winsloe finalmente realiza o seu maior desejo - o de se ver livre da anomalia que tanto a assombrava. Com o nascimento do primeiro filho, fruto de um milagre da ciência, eis que novos obstáculos, desafios e desentendimentos surgem. Intrigas...