XXIX

2.7K 360 167
                                    

Quem chegasse e olhasse bem no fundinho, no cantinho isoladinho e escurinho talvez visse duas sombras fazendo cócegas uma na outra. Quem se aproximasse talvez escutasse o leve sussurrar de um "eu te amo" ou "cala a boca, porra". Quem perguntasse algo provavelmente escutaria um "Mario, aquele que te comeu atrás do armário" seguido por um "Meu Deus, fica quieto, Chittaphon!" Mas quem se aproximasse demais iria ser chamado de "surubeiro", mesmo que não tivesse intenção de se juntar ao casal. Não, eles não estavam transando. Apenas estavam, literalmente, brincando de médico no escurinho. Somente.

— Taeyong é meu amigo, Taeyong é meu colega. Eu vou fazer com ele o que o cavalo fez com a égua — era o que Chittaphon cantarolava ao medir os dedos do Lee.

Tudo iniciara quando acharam uma régua perdida no chão e Ten inventara de medir cada parte do corpo de Taeyong. Foram para o cantinho, escondidos, e lá ele mediu a orelha do rapaz, o nariz, os lábios, os olhinhos de anjinhos, os dedinhos e até o ínfimo fio de cabelo.

— Chittapevertido — resmungou o Lee enquanto fazia carinho delicadamente na nuca do outro.

— O paciente não pode tocar no doutor, Tae, só o contrário — agitou o dedo indicador na negativa.

— Ei, olha só! Eles voltaram! — Taeyong levantou-se rapidamente e ajeitou a camisa que momentos antes Ten tentava tirar contra a sua vontade.

Os avaliadores sentaram em seus respectivos lugares e pediram a atenção de todos. Ten voltou ao palco abanando-se com sua nova régua, nervoso demais para encontrar o olhar esperançoso de Taeyong na platéia. Sem mais rodeios, o homem de bigode talhado foi dizendo os nomes aprovados. O estômago de Ten embrulhou quando não escutara seu nome. Seu mundo caiu, embora estivesse repetindo para si mesmo que não criasse expectativas. Afinal, expectativas geram decepções.

Os aprovados comemoraram, os reprovados soltaram lufadas de decepção, sendo breves ao deixar o palco. Chittaphon ficou perplexo, parado à frente dos avaliadores.

— Os treinos são durante a tarde. Quem passou, por favor, venham pegar o cartão informativo e autorização para seus pais. Amanhã, no mesmo horário, nós encontraremos para uma melhor explicação. Vocês devem ir agora. Parabéns — ainda dizia o homem, logo sendo rodeado por cinco jovens sorridentes e felizes. Mas Chittaphon não fazia parte deles.

Não quis culpar o namorado, mas não pôde evitar pensar que, se Taeyong não tivesse jogado-o para cima daquele jeito, talvez ele tivesse se preparado para pior. Ele já estava na pior. De todo modo, aquilo não tinha importância mesmo. Não importava se não tinha passado ou não. Tanto faz.

Arrumou o uniforme numa bola, o qual tivera de tirar para vestir algo conceptual, e apressou os passos para a escada. Sentiu os conhecidos dedos gelados alcançarem o seu braço e afastou-se de Taeyong. Não queria chorar, estava apenas bravo consigo mesmo. Tudo aquilo havia sido uma perda de tempo.

— Não foge, não — Taeyong seguiu-o e abraçou-o forte por trás.

— Para, Taeyong, deixa de grude — tirara as mãos dele do seu corpo. Estava estressado, pois ocupara horas e horas treinando para não conseguir.

— Desculpe — sussurrou Lee com a voz rouca — Achei que você precisava.

— Eu só estou cansado — evitava olhar em seus olhos — Acho que isso foi um erro.

— Só você acha — Taeyong acariciou o seu queixo.

— Hã... Quem é Ten Chittaphon Leech...

— Eu, eu! — interrompeu o bigodudo careta que agora olhava para todos os lados, mas somente porque não queria escutá-lo pronunciar o nome errado — O que teve?

— Ah, você! — o homem sorriu para Ten e fez um gesto para que se aproximasse.

— Sim, eu — ainda estava triste, mas não demonstrou pela sua voz.

— Bem, queríamos te parabenizar.

— Mas eu não passei — resmungou.

— Não importa, você foi ótimo — uma mulher, a qual fazia parte da equipe de avaliadores, tomou as rédeas da situação — Mais que ótimo, na verdade.

— Você não faz parte do grupo de dança de iniciante, Ten — um outro homem contara. — Você faz parte de dança avançada.

— A o quê? Escutei errado — o tailandês estava surpreso demais para evitar alguma piadinha.

— Essa audição é para o básico, Ten. Caso tivéssemos aprovado você, não faria sentido. Além do mais, você estaria ocupando o lugar de alguém que realmente precise estar ali — explicou a moça, pacientemente.

— Você se inscreveu errado, mas essa confusão é normal. As audições para Dança Avançada é depois de amanhã, mas os resultados não serão dados na hora. Os resultados serão expostos do mural da escola, com o nome de cada um dos integrantes do grupo de dança. Entretanto, devo advertir que apenas está aberta duas vagas — um moço rechonchudo com bochechas vermelhas vinha dizendo, erguendo dois dedos como símbolo.

— Vemos você lá? — a mulher sorriu-lhe.

Perplexo, Ten concordou com a cabeça:

— Com certeza!

Anestesiado com aquelas palavras, apenas curvou-se atrapalhado e deixara o local. Segundos depois estava andando pelo corredor da escola, ao lado de um Taeyong silencioso e pensativo.

— Filhos da puta, minha autoestima foi pra merda depois dessa. Deveriam ter dito isso antes — bufava ele, cuspindo de raiva e felicidade.

— Dá pra treinar mais um pouco, certo?

— Querido, são duas vagas. Se eu quiser, no mínimo, ser cogitado a estar dentre os dois, devo passar hoje e amanhã só dançando — engoliu em seco com ansiedade.

— Você sabe que não precisa disso. Eu sempre acreditei em você — encantado, Taeyong apertou a sua bochecha contra a sua vontade.

Hot ✖️ TaeTen [2]Onde histórias criam vida. Descubra agora