II

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Ten usava o seu final de semana para fazer visitas surpresas à Taeyong, pois assim ele poderia ficar muito mais tempo com o seu namorado. Com o tempo, foram deixando de ser surpresas e passaram a ser rotineiras, marcando sempre presença na casa da sua sogra. Mesmo debaixo de neve, lá estava o tailandês se aventurando pelas ruas geladas só para chegar do outro lado. Às vezes ele ia apenas para comer, pois seu drama sempre o ajudava em todos os momentos mais urgentes.

— Sogrinha Lee, a senhora sabia que, se eu não comer, eu vou morrer? Meus pais falam também sobre anemia. Eu vi no jornal e isso é terrível! — ele contara, certo dia — Além disso, me alimentando, a senhora também estará diminuindo o índice de fome mundial, sabia disso? Por isso é muito bom me alimentar!

Naquele dia, Ten ganhara um banquete como jantar. Ele ficara feliz por ter uma sogra tão maravilhosa e incrível como aquela. E Ten sempre esperava receber comida quando chega a casa de Taeyong.

Ten bateu à porta três vezes, mas talvez um pouco mais, já que a sua mão estava tremendo de frio. Os telejornais enfatizava a temperatura a todo momento, mas, para Ten, nem um maldito número e tampouco uma sensação térmica iriam impedi-lo de dar uns beijos.

— Quem é? — pensou ter escutado a voz de um desconhecido, pois estava um pouco mais grave que o normal, mas Ten percebeu que era Taeyong quem perguntara.

— A mulher do padre! — respondeu, brincando — Já perdi tanto essa brincadeira que já posso ser considerado... — resmungou para si mesmo.

— Eu não quero que você entre!

— Mas eu quero entrar! — Ten bateu à porta repetidas vezes — Ou você quer me ver congelar aqui fora?

— Volta pra casa, Ten! — ordenara Taeyong, detrás da porta — Se proteja do frio!

— Quero que você me proteja do frio! — frisou o "você" e tornou a golpear à porta.

— Não vou. Não hoje — Taeyong falou aquilo quase como um sussurro.

— Taeyong, abre essa merda ou então vou arrombar! — gritou — Onde está sua mãe?

— Para de bater a porta! Está me dando dor de cabeça! — pediu Taeyong, nada paciente.

Ten respirou fundo, mas não parou nem por um segundo de bater aquela porta. O negócio era irritar até o outro perder a paciência e deixá-lo entrar. Ele estava agindo estranho, Ten sabia disso, mas ele o entenderia depois, pois primeiro precisava entrar.

— Vai para o inferno, Ten Chittaphon! Me deixa em paz! — foi a vez de Taeyong, enraivado, dar uma pancada na porta.

Em seguida, silêncio.

— Pelo menos lá é quente! — respondera Ten depois do que poderia ser chamado de um minuto de silêncio.

Ele se afastou da casa, mas não foi embora. Esperou por alguns minutos sentado na neve, crendo que Taeyong abriria a porta e o deixaria entrar. Havia algo de errado acontecendo, pois Taeyong não o trataria daquela forma. Era irritadiço por natureza, mas não àquele ponto.

Com uma motivação que ele não soubera onde arranjara, Ten contornou a casa e pôs a ideia de trepá-la na mente. Calculou como seriam os passos a serem dados e onde seguraria para se firmar. Ajeitou o gorro na cabeça, engoliu em seco e se segurou numa viga de suporte da varanda. Havia uma escada lateral que ele teve de puxá-la para si, mas ela apenas ia até o telhado da varandinha da frente. Com passos cuidadosos, Ten fora de pouquinho em pouquinho. Chegando no telhado da varanda, fez uma oração para conseguir chegar ao quarto de Taeyong sem cair.

A maldita janela do quarto não ficava perto do telhado, ficava fora. Isso significa que Ten teria de sair daquele telhado e ir de lado através do alto-relevo de uma tira decorativa feita de cimento. Ele pensou em chorar, mas desistiu. Se seguraria nas janelas dos cômodos, e Deus o salvasse caso caísse dali. Felizmente, havia uma neve fofinha lá embaixo para acalentá-lo, mas Ten não tinha tanta certeza se seria seguro como todos falavam que é.

Dessa vez, Ten tentou ser rápido e até se pegou pensando coisas como "Não acredito que estou fazendo isso por conta de macho!" Ele estava com raiva e medo, mas o seu amor por Taeyong era maior que ambas coisas juntas. Seu desafio final era passar pela janela... que estava fechada.

— Ah, mas que desgraçado! — reclamou — Meu Deus, me mata agora ou eu mesmo faço isso!

Ten olhava para baixo e pensava se pulava ou não. Sabia que, no máximo, poderia quebrar alguma coisa e ficar zonzo, mas a morte não fazia parte da lista, não àquela altura.

— Taeyong, eu te odeio no fundo do meu coração! Eu te odeio! — gritava Ten, fazendo de tudo para não se balançar o bastante para cair.

Ele segurava no parapeito da janela e, caso seus dedos escorregassem, as coisas iam começar a ficar feias para o lado dele e, principalmente, para Taeyong. 

Foi então que Ten chorou, pois não havia modo algum de sair dali sem se jogar. Voltar seria impossível, ao observar a posição em que se encontrava. Não poderia trepar a janela para chegar ao telhado da casa, pois ele iria, com toda a certeza, cair. A sua única salvação seria Taeyong abrir a janela e puxá-lo para dentro, pois Ten já estava congelando e não sabia por quanto tempo aguentaria ficar com os braços e o corpo esticados para se manter firme na ponta do parapeito da janela.

— Eu te odeio, Taeyong... — resmungou, entre soluços, embora o seu único desejo era que Taeyong aparecesse e o abraçasse forte.

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