XXXVI

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O sangue de Lee Taeyong congelou a medida que afastava-se sem controle algum do corpo tailandês onde outrora teve as mãos em deslize constante. Seus lábios, antes preenchidos, atrapalharam-se nas palavras como se tivessem sido roubas pelo olhar aterrorizado daquela menina do outro lado do quarto. E aquela menina... Seus olhos cobertos de dúvidas, desespero e medo penetravam a sua íris sensível até que o platinado resolvesse estancar a troca de olhares. Ten estirou-se na cama, como dono dela — o que, de certo modo, inteiramente não seja uma mentira forçada, uma vez que não pudesse contar nos dedos dos pés e mãos quantas vezes dormiu ali ou simplesmente gemeu contra aquele colchão macio e acalentador. Riu consigo mesmo com a situação, praguejou palavras imencionáveis e sacudiu-se de divertimento com a situação. Taeyong, por outro lado, estava desesperado.

— E-eu vi direito? — aquela garota descruzou os braços e arregalou mais os olhos, incrédula com a situação vista.

— O que está havendo aqui? — para completar o circo, o pai e a mãe de Taeyong foram checar a confusão do andar de cima e não compreenderam o que ali se passava.

— Esse Ten, ele... — a garota apontou para o tailandês — Eles... Beijo? Eles estavam tipo... Eu não sei, eu vi certo?

— Não, houve um engano — Taeyong agitou as mãos veementemente — Ten estava me ajudando numa coisa, aí meio que eu escorreguei e... ficamos muito perto, mas não é o que você está pensando... Tipo, foi um acidente... Não vai acontecer de novo, porque não foi nada, sabe? É, vocês não precisam se preocupar, é que...

— O que Taeyong quer contar — Chittaphon interrompeu-o com um sorriso ensolarado nos lábios — É exatamente isso... — pelo colarinho da camisa branca amarrotada do Lee coreano, Ten pôde puxá-lo para perto para chupar a sua boca de picolé e puxar levemente os fios branqueados do seu cabelo macio feito pelúcia de criança.

O queixo do Lee mais velho daquela casa foi ao chão e, assim como ele, o da suposta futura namorada de Lee Taeyong também. Mamãe já estava acostumada, visto que presenciara inúmeras vezes os meninos aos beijos incontroláveis durante semanas e semanas. Nada ali era novidade para ela, porém percebeu que Ten estava irritado demais, senão não teria feito isso. Conheceu-o bastante para saber que Chittaphon só age depois conversas em vão.

— Meu Deus! Larga meu filho agora! — Sr. Lee avançou o suficiente para afastar Ten de Taeyong e empurrá-lo longe, praticamente para fora da cama.

— O que está acontecendo? — aquela menina chata de perfume forte estava prestes a chorar, mas saiu em pânico com a Sra. Lee que repetia para que voltasse para casa e descansasse um pouco.

— Por que você fez isso com ele? — o homem perguntou, direcionando o seu olhar e o indicador ao tailandês.

— Ué, namorados fazem isso — Chittaphon deu de ombros.

— Taeyong... — quando seu pai virou para a sua pessoa e repousou aquele olhar arrancador de alma, TaeJack tinha certeza que estava prestes a morrer e talvez isso fosse mero eufemismo da sua parte.

— Ahn... — o garoto passou a mão pelos fios do cabelo e viu o próprio peito ir para frente e trás repetidas vezes, freneticamente, rapidamente. Sua garganta queimava, ele estava prestes a explodir, talvez chorar, lembrando-se das vezes em que fora vítima de comentários, risadas, agressões e apelidos vergonhosos por estar constantemente atraído por meninos.

Taeyong gostava de meninos e papai não entendia.

— Eu não sei... Eu não sei... — sua mão tremia, ele ofegava e não conseguia manter o olhar fixo numa única coisa daquele quarto. Sentiu a mão de Ten encostar no seu ombro e logo em seguida o peito quente do rapaz, envolvendo-o num abraço de desculpa.

— Conte para ele, TaeTae. Ele ainda vai te amar e eu também — sussurrou com a voz calma e doce, aquela voz que roubava cada pedacinho do seu coração quando circulava por qualquer que seja o ambiente.

— Pai, eu... — Taeyong piscou diversas vezes antes de enlaçar o olhar ao do pai. Não quis interpretar a sua expressão, não iria. Soltaria aquilo de uma vez, tiraria o band-aid antes que se tornasse parte da sua pele ou simplesmente caísse com o tempo. Teria de expor, de um jeito ou de outro. Não há como viver escondido para sempre. Não fazia sentido aprisionar a si mesmo à preceitos ilógicos de lunáticos alheios.

Taeyong respirou fundo.

— Pai, não está na cara que eu sou gay? — as mãos caíram sobre os joelhos — O senhor até hoje não percebeu?

— Ah, não, Taeyong... Eu não posso acreditar nisso... — um passo para trás fora dado e os músculos relaxaram. Ele estava aliviado pela verdade que enfim fora dita. Ten percebeu.

— Mamãe soube, como o senhor não? — Taeyong enxugou as mãos suadas na calça jeans — Eu não gosto de garotas e estou namorando Ten. — encostou o rosto num dos braços do moreno que circundava-o.

— V-você? — o homem ergueu os olhos para encarar Ten — Vocês são tipo... Um casal?

— Nós somos um casal — Chittaphon corrigiu-o — Algum problema nisso?

— Cruzes, eu vou tomar um ar! — deixou o quarto com as mãos na cabeça e repetindo sobre o quão não acreditava naquilo e que talvez estivesse louco ou num pesadelo.

Taeyong engoliu em seco quando pai sumiu da sua vista e um suspiro pesado foi liberado. Ten fez uma massagem carinhosa em seus ombros enquanto comentava o quanto corajoso foi ao contar a verdade. Mesmo recebendo beijinhos carinhosos na nuca até a mandíbula, TaeJack não podia esquecer do seu desespero ainda não esvaído. Tinha medo do que viria a seguir.

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