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   Encerrei a ligação na cara dele, devolvi o celular para minha mãe que me olhava curiosa e Gui estava esperando eu falar algo para avisar Henry. Respirei fundo colocando meus pensamentos em ordem, era muito para um dia só. Vou contar um pouco da nossa história.

   Meu pai era sub daqui, ele fazia todo o trabalho sujo pro antigo dono, era um verdadeiro pau mandado! Até hoje não sabemos o que aconteceu entre eles, meu pai chegou em casa falando que tomaria o morro, mas não queria ficar de frente, então escolheu o Henry.

   Eu, Henry, Gui, Pedro, Luana, Amanda e Flávio crescemos juntos, fazíamos tudo juntos, até que os garotos resolveram entrar nessa vida, nos afastamos um pouco, mas sempre que um precisava o outro estava lá pra ajudar e apoiar.

   Ele treinou os garotos para isso, deu uma função para cada, Henry assumiria, Gui seria seu sub, Pedro e Flávio seriam os "guardiões" como ele mesmo os chamou. Como ele tinha a confiança de todos, foi mole prós vapores trocarem de lado e tirarem o cara do "trono".

   Logo depois eu descobri minha gravidez junto com a minha mãe, ele me colocou abaixo de zero, me esculachou muito, só não me bateu porque o Gui e o Pedro peitaram ele, eles fizeram jus aos novos cargos e ameaçaram meter bala se tocasse em mim.

   Naquele mesmo dia ele simplesmente se separou da minha mãe e foi embora, ele sumiu, até hoje o Eduardo não o conhece, ele nunca veio ver o próprio filho! Ele sempre manda mesada, sempre liga, mas nunca esteve presente, o pai do Du é o Gui!

   Gui foi o primeiro a saber que eu estava grávida, me deu muito esporro e no final apenas se ajoelhou e abraçou minha barriga falando que nos protegeria de tudo e todos! Ele nunca aceitou as mesadas e não deixa nossa mãe gastar, ele que banca a casa.

   Sempre vimos o nosso pai como um herói, sempre o colocamos em um pedestal! Gui concordou com o esculacho que ele me deu, mas quando o viu vir pra cima de mim, ele mudou totalmente, ele apontou a arma pro nosso próprio pai, ele estava tremendo, eu só conseguia chorar.

   Quando o ouvi ameaçar nosso pai, foi um baque muito forte, ali ele se mostrou que realmente me defenderia e defenderia meu filho de todos, até mesmo do nosso próprio pai. Quando ele foi embora, Gui assumiu o lugar de homem da casa, ele só tinha dezessete anos.

- Alyssa, sobe. - Gui falou me tirando do transe.

- O que ele falou? - minha mãe perguntou.

- Não mãe! - ele falou ainda me olhando - Vem Aly, vou cuidar de você.

- Eu vou atrás do Rafa. - falei e ele negou.

- Aly, por favor. - pediu e subi.

   Dei o suporte que ele precisava e fomos para o seu quarto onde estava as minhas malas, o coloquei sentado e ele bateu no espaço livre, me sentei ao seu lado, minha cabeça girava, as lembranças voltaram de uma só vez, ele pareceu entender e me abraçou.

- O que ele te falou, eu preciso avisar o Henry. - falou e concordei.

   Ele tinha perdido qualquer direito de mandar ou se meter em nossas vidas ou em alguma decisão nossa. Sempre que eu precisava do apoio do meu pai, para qualquer coisa, procurava o Gui, por isso eu tenho um amor tão grande pelo meu irmão, além da minha eterna gratidão.

- O que ele te falou? - perguntou me olhando.

- Pra não sairmos de casa, que ele está vindo. - respondi.

- Por que? - perguntou.

- Falou que foi um aviso. - respondi olhando-o - Que a primeira coisa que fizer quando chegar aqui é vir ver a gente.

- Acha que ele pode tomar o morro do Henry? - perguntou confuso.

- Acho que não, ele respondeu o rádio? - perguntei.

- Não, deve estar ocupado na boca. - respondeu e assenti.

- Eu posso ir lá, sem problemas. - falei e ele negou sorrindo.

- Ele não vai gostar de te ver lá. - falou e o encarei.

- Mas ele precisa ser avisado. - falei e ele me olhou ainda sorrindo.

- Não deveria falar, mas você é a minha caçula. - falou e deitei minha cabeça em seu colo - Ele é afim de tu, desde que a gente era moleque.

- O Henry? - perguntei rindo - Não Gui, ele sempre cuidou como se eu fosse irmã dele.

- Eu conheço meu amigo, ele é afim. - falou e neguei - Tenta dar uma chance.

- Chances pra que Guilherme? - perguntei e ele riu - Pra piranha vir crescendo pra cima de mim, pra ter fama de chifruda?

- Olha as merdas que tu tá falando! - falou rindo - Tu é a única que coloca juízo naquela cabeça Aly.

- Como diz vocês, tem que meter logo uma bala! - falei voltando a me sentar - Eu vou lá na boca, quando o Rafa voltar fica com as crianças?

- Me deixou de repouso pra virar babá? - perguntou e neguei.

- É pra mamãe respirar. - falei e ele assentiu.

- Eu mando um rádio depois, vai na boca não. - falou e o olhei.

- Ele já "passou" a visão de que não podem mexer comigo. - falei imitando eles - E se ele não gostar, problema, estou indo ajudar.

- Ouve o que eu tô te falando, ele não vai gostar. - falou e concordei.

- Gosto de me arriscar. - falei sorrindo e ele negou rindo.

- Nega ser minha irmã não, tu é foda! - falou me fazendo rir.

   Sai do quarto deixando-o mexer no celular e desci, minha mãe provavelmente estava na cozinha, vai ser um inferno voltar a morar aqui com a volta dele, tenho certeza. Peguei meu celular e sai de casa indo até a boca principal.

   Nunca sai tanto de casa, eu sempre fui de ir pra escola e casa, casa e escola, agora eu sou a mesma coisa, só que de vez em quando eu saio. Por onde eu passava as pessoas me olhavam, principalmente os vapores do Henry e abaixavam a cabeça na hora.

- Chuck ta aí? - perguntei pro mesmo que me barrou na enfermaria.

- Tá ligada que ele num gosta né? - perguntou me olhando.

- Ele tá aí ou não? - perguntei - Chama logo, tu sabe que não sou essas putas.

- Tá falando o que aí sua piranha? - uma menina que estava ali perguntou.

- Fica na tua Karen! - apontou pra ela que riu.

- Eu vou meter a porra... - Chuck a interrompeu levantando a mão.

- Chuck, preciso conversar urgente com você. - falei e vi quando seus olhos arregalaram - Rato não queria que eu viesse, mas é importante.

- Tá dando pros dois? - a puta perguntou.

- Menina, ninguém está falando com você. - falei sem tirar os olhos do Chuck que assentiu.

(3/3).

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