Depois que ignorei pela terceira vez o toque do despertador, minha mãe começou a bater na porta, tentando me fazer levantar. Fazia isso todas as manhãs. A diferença é que aquela não era uma manha qualquer. Era a manhã em que eu teria que me levantar e reassumir minha vida. Mas acho que, em se tratando de mães, os velhos hábitos não morrem – se o despertador não fizer o filho levantar, elas começam a bater na porta e a gritar, seja lá que dia for.
Em vez de gritar, minha mãe fez aquela voz tremula, assustada, que ultimamente tinha ficado meio frequente. É uma voz que parece que ela não sabe se estou me fazendo de difícil ou se ela precisa ligar para o 190.
— Jade – continuou chamando — você tem de se levantar agora! A escola está sendo muito tolerante em deixar você voltar. Não vá estragar tudo no primeiro dia!
Como se eu estivesse feliz em voltar para a escola. Ter de voltar para aquelas salas assombradas. Voltar para a Praça de Alimentação, que, conforme ouvi dizer desde maio não era a mesma coisa. Como se eu não estivesse tendo pesadelos todas às noites, dos quais acordava suada, chorando, totalmente aliviada de estar na segurança do meu quarto.
A escola ainda não tinha decidido se eu era vilã ou heroína e acho que eu não posso culpá-los. Eu mesma estava tendo dificuldade para resolver isso. Será que eu fui a bandida que criou o plano para matar metade da minha escola ou a mocinha que se sacrificou para acabar com a matança? Em alguns dias eu me sentia as duas. Em outros, não me sentia nem bandida nem mocinha. Era muito complicado.
Na verdade, o conselho escolar tentou realizar uma cerimônia em minha homenagem no começo do verão. Era loucura. Eu não queria ser heroína. Eu não estava nem pensando quando pulei entre Jed e Perrie. Com certeza, não pensei: "eis a minha chance de salvar essa garota que ri de mim e me chama de Irmã da Morte, e tomar um tiro ao fazer isso". Era uma coisa heróica de se fazer, mas no meu caso... Bom, ninguém tinha certeza mesmo.
Recusei-me a ir à cerimônia. Disse à mamãe que minha perna estava doendo muito, que eu precisava dormir e que, além do mais, aquilo era ridículo.
Mas a verdade é que eu estava apavorada demais para ir à cerimônia. Estava com medo de encarar todas aquelas pessoas. Com medo de que acreditassem em tudo que leram a meu respeito no jornal e no que ouviram na TV, e achassem que eu era uma assassina. Estava com medo de ver escrito nos olhos deles: "você deveria ter cometido suicídio junto com ele", mesmo que não falassem isso em voz alta. Ou, pior ainda, que me julgassem corajosa e altruísta, o que só me faria sentir pior do que já estava me sentindo, afinal foi meu namorado que matou todas aquelas pessoas e que, aparentemente, acreditava que eu também queria que elas morressem. Sem mencionar que eu era a idiota que não tinha nem ideia de que o cara que eu amava queria matar a escola inteira, mesmo apesar de ele me falar isso quase todos os dias. Mas, toda vez que eu ia explicar isso para a minha mãe, tudo o que saía era: "isso é muito lesado. Não iria a um negócio tão ridículo nem que você me pagasse". Acho que os velhos hábitos não morrem em ninguém.
O senhor Cowell, o diretor, veio até aqui sentou-se à mesa da cozinha e conversou com minha mãe sobre... Sei lá "Deus, o destino, trauma, qualquer coisa". Esperando, tenho certeza, que eu saísse do meu quarto e lhe dissesse como me orgulhava da minha escola e como estava feliz de ter me sacrificado em prol da Senhorita Perfeita, Perrie Edwards. Talvez também esperasse que me desculpasse. O que eu faria, se conseguisse imaginar como. Mas, até aquele momento, eu não tinha conseguido pensar em palavras importantes o bastante que expressassem algo tão difícil. Enquanto o diretor Simon esperava por mim na cozinha, coloquei uma música e me enterrei ainda mais fundo nos lençóis, deixando que ele esperasse. Acabei não saindo do quarto, nem mesmo quando minha mãe começou a bater na minha porta, implorando, com uma voz contida e mansa, que eu fosse educada e descesse. Fingi não ouvir.
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A Lista Negra - Jerrie
RomanceDizem que devemos ter cuidado com o que desejamos, mas e se ao deseja a morte de uma pessoa isso acontecesse? O namorado de Jade Thirlwall, Jed Elliot, abriu fogo contra vários alunos na cantina da escola em que estudavam. Atingida ao tentar detê-l...