He's gone

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olá, espero que estejam bem :)


Estava sentada na cama admirando o novo esmalte rosa choque com o qual tinha pintado as unhas dos pés. Fazia tanto tempo que não pintava as unhas de rosa que duvidei que o esmalte ainda estivesse bom. Estava todo ressecado ao redor da tampa do vidro e separado em duas camadas, rosa

no fundo e transparente em cima. Parecia ter ficado duro, então, pinguei algumas gotas de acetona no frasco e isso resolveu o problema.

Normalmente, a cor que uso é preto. Ou azul-marinho. Às vezes, verde-escuro ou amarelo-cadáver.

Mas há muito tempo era rosa. Tudo era rosa. Acho que me queimei e fiquei cor-de-rosa. E, depois, me queimei mais ainda fiquei preta. Não estou certa. Tudo o que sei é que finalmente cedi à curiosidade e peguei de debaixo da pia a velha caixa de esmaltes que há muito tinha sido levada para lá pela Linda Princesa Jade do Céu e me pus a pintar as unhas dos pés de rosa - choque. Não machucaria ninguém se minhas unhas ficassem rosa por alguns dias, certo?

Ainda estava esperando as unhas secarem, soprando de leve sobre elas, quando ouvi uma batida, muito leve, na minha porta. Inclinei-me e baixei o volume do aparelho de som.

— Sim?

A porta abriu um pouco e papai enfiou a cabeça nesse espaço. Ele fez uma careta em direção ao aparelho de som, por isso inclinei-me novamente e o desliguei.

— Podemos conversar? — perguntou ele.

Acenei a cabeça afirmativamente. Eu e ele não nos falávamos desde o incidente com Britni/Brenna algumas semanas antes.

Ele entrou no quarto e o atravessou como se estivesse pisando em um campo minado. Empurrou uma pilha de camisetas com o pé. Notei que usava tênis. Tênis de corrida. E jeans e uma camisa pólo. Era seu visual casual, mas, mesmo assim, formal.

Ele se sentou na beira da minha cama. Não disse nada de imediato, apenas ficou olhando as unhas dos meus pés. Contraí os dedos instintivamente e fiquei com medo de estragar a pintura. Relaxei-os. Apenas uma unha tinha borrado. Com o polegar, retirei a maior parte do esmalte e então, fiquei olhando meu pé que, de repente, parecia tão vulnerável e imperfeito com uma unha pintada de rosa - choque na ponta e sem nada no centro. Era como se tivesse começado, mas esquecido de terminar de me embelezar.

— Cor nova? — perguntou, o que achei uma pergunta realmente estranha vinda de papai. Pais reparam na cor do esmalte que as filhas usam? Não estava certa, mas não era algo que meu pai repararia e isso me fez ficar apreensiva.

— Não. Muito velha — respondi.

— Ah — fez ele, e continuou ali sentado mais um tempo. — Ouça, Jade, sobre Briley...

Briley, pensei. Claro, o nome dela é Briley.

— Pai — comecei a falar, mas ele ergueu a mão para me interromper. Engoli em seco. Qualquer sentença que começasse com "Ouça, Jade, sobre Briley..." não era o início de uma conversa agradável. Tinha certeza disso.

— Apenas ouça — disse ele. — Sua mãe...

Fez uma pausa. Sua boca abriu e fechou algumas vezes, como se não soubesse o que falar a partir daquele ponto. Suas mãos estavam caídas pesadamente no colo. Seus ombros, tombados.

— Pai, não vou contar para a mamãe. Você não precisa fazer isso — comecei a dizer, mas ele me interrompeu.

— Já fiz — admitiu. — Já fiz.

A Lista Negra - JerrieOnde histórias criam vida. Descubra agora