Capítulo 1

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O aeroporto JFK em Nova York era um lugar de lágrimas. Esse era o último pensamento que tive quando acenei para a minha mãe antes de seguir para o meu destino.

Tentei evitar que as lágrimas escorressem pelos meus olhos, borrando toda a minha maquiagem, mas fora em vão. Minha mãe era a culpada disso. Se ela não tivesse chorado, talvez eu tivesse resistido, e chegasse ao meu destino completamente impecável.

Ajeitei o meu cabelo castanho com a mão, mesmo não tendo um espelho para me auxiliar. Senti um aperto no peito, e a palavra saudade corroeu todo o meu ser.

Minha mãe não era uma mulher de tradições, que apesar de o sangue americano correr em suas veias, nunca fizera questão que eu saísse de casa aos dezoito. E lá estava eu, em um passado não muito distante, aos vinte e dois anos morando junto com a minha mãe.

A nossa despedida foi brutal para ela, mas eu precisava criar asas e voar, mas eu não pensei que o responsável por cortar essas asas seria o próprio destino.

Não. Eu não estava vivendo de sonhos nesses últimos anos desde que deixei a minha querida Nova York para ir morar em Los Angeles.

Bem que eu tentei viver deles, mas para única coisa que os meus roteiros serviram foram para gravar vídeos de dez minutos no YouTube.

Optei por fazer isso tentando chamar a atenção de algum diretor de Hollywood, mas alguns vídeos não passaram de nem cem visualizações. Então o meu sonho de caminhar sobre o tapete vermelho fora por água abaixo, eu ainda caminho no carpete surrado do meu pequeno e velho apartamento em Los Angeles.

Carpete esse, que o meu gato San Francisco acabará de fazer as suas necessidades em cima.

— Não posso chegar no meu primeiro dia de trabalho cheirando a coco de gato. — Disse eu para o gatinho que caminhava sobre o encosto do sofá como se não desse a mínima para o que eu dizia. E ele não dava mesmo.

Dizem que os gatos não têm amor aos seus donos e a ninguém, e olhando para esse gato todo dono de si, tenho quase certeza que isso é verdade. Isso talvez se deve ao fato de um dia eu ter deixado ele no apartamento, trancado e sem comida, ainda era um filhote que ganhei da minha antiga vizinha.

Fui participar de um concurso de roteirista. Era uma chance grande, eu não poderia perder, e foi aí que eu esqueci de tudo e de todos, para no final das contas eu não ganhar nada e descobrir um ano depois que o meu roteiro foi usado por um diretor desconhecido e criador do concurso sem a minha permissão. Não vi nem a cor da nota de um dólar pelo meu trabalho roubado.

Procurei o meu advogado, e ele esfregou na minha cara, as cláusulas do contrato para que eu participasse do concurso, que por mera coincidência eu não li.

Eu tinha doado de mão beijada o meu roteiro que poderia ter me tirado dessa miséria para o canalha criador do contrato concurso, que por sua vez produziu o filme, que foi um sucesso de bilheteria. Não tem uma noite que eu não choro por causa disso.

É assim que as coisas funcionam, não importa a quão boa você seja para fazer uma coisa, ás vezes você não vai conseguir o seu objetivo, mas se você der essa coisa para a pessoa certa (no meu caso o diretor que não era tão famoso até então) esse objetivo vai ser alcançado.

Lembro de eu ter amassado o contrato na frente do advogado, que me olhou como se eu fosse uma louca, realmente quando eu fico nervosa eu tenho cara de louca, mas ele poderia ter pensado pelo lado positivo, eu poderia ter mastigado uma boa parte daquele contrato e cuspido ele na sua mesa.

Mas um arrependimento tomou conta de mim alguns segundos depois. Desamassei o contrato, o dobrei, colocando na minha bolsa e levando comigo para casa.

Dylan Turner (Completa)Onde histórias criam vida. Descubra agora