6 - Noite

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Depois de conseguir me livrar da sopa — joguei pela janela enquanto a tecelã não estava olhando! — e infelizmente ter tido de comer a torta — senti um arrepio só de me lembrar —, fui me encontrar com Elisa

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Depois de conseguir me livrar da sopa — joguei pela janela enquanto a tecelã não estava olhando! — e infelizmente ter tido de comer a torta — senti um arrepio só de me lembrar —, fui me encontrar com Elisa. Ela estava me esperando na entrada do bosque.

— Não trouxe um pedaço de torta para mim? Que irmão imprestável!

— Nem vou me dar ao trabalho de responder. Achou ele? — perguntei.

— Claro que sim! Está lá atrás na floresta. — apontou atrás de si. — Correndo solto e peladão! Totalmente ao natural. Nadinha cobrindo o essencial! Nadinha.

— Ai, minha nossa! Está mais doido do que antes. E por que não o trouxe?!

— Eu?! Porque ninguém me paga para ficar olhando aquilo! Se quiser, vá lá você mesmo. Ele está perto dos globos flutuantes.

Adentrei a mata atrás das costas dela. Que ideia, ficar sem roupa nenhuma no meio do mato! O guardião estava piorando, cada vez mais distante da realidade. Será que eu conseguiria encontrar as respostas que precisava? Será que ele saberia como trazer as lembranças da Alma de volta?

O Sr. M estava no exato lugar em que Elisa me indicara. Cheguei lá e o homem de meia idade estava analisando com admiração os globos que subiam e desciam no ar, sem nunca tocar o chão. Os vapores com perfume de camomila e alecrim que subiam das reentrâncias do chão enchiam as imediações com um sopro morno que levantava as esferas translúcidas no ar. Elas eram os casulos dos bichos ilhases. Lá dentro, as larvas dos insetos se acomodavam para se transformarem no exemplar adulto. Concluída a metamorfose, soltavam-se como águas vivas feitas de plumas, dançando no ar como se estivessem dentro da água. Branquinhos e macios como pequenos flocos de neve. Os casulos vazios subiam até ultrapassarem a copa das árvores e se perdiam no azul do céu.

— Sr. M? — chamei.

— Pois não? — o guardião respondeu de costas para mim sem se virar.

— Posso falar com o senhor um instante? — pedi.

— Mas é claro! — ele se levantou de detrás do tronco caído onde estava agachado e se voltou para mim.

É! Peladão mesmo! Nadinha! Ao natural!

— Pode vestir isso antes, por favor. — estendi o manto tecido em roxo escuro que a Sra. Gavis acabara de me dar. O gorro, as luvas e o cachecol eu já tinha dado para algumas crianças brincarem.

— E por que eu deveria me vestir? Eu nasci assim. Assim eu vim ao mundo e assim dele partirei. — foi a resposta que recebi.

— Porque é decente. E é assim que as pessoas civilizadas fazem. — empurrei o tecido. — Toma!

— Decente? Civilizado? O que é isso?

— Eu não sou um dicionário. — peguei o tecido e enrolei nele. — E vim aqui para fazer perguntas e não para responder!

Noite Sombria | 3Onde histórias criam vida. Descubra agora