19 - Kartódromo - Parte II

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Natan simplesmente não tirava os olhos da Isabel. O sorriso disfarçado na boca rugia com clareza no olhar. Não creio! O olhar intenso lampejou na direção do Pedro com desgosto. Não.Cre.io! Como foi que eu não vi isso antes?! É incrível como enxergamos com clareza depois que já sabemos o que procurar.

— Elisa! — chamei. — Posso falar com você?

— O que?

— Reparou alguma coisa diferente no seu primo?

— Não, por quê? Ele não tomou banho hoje?

— Não! Quer dizer... não sei! Eu não cheirei ele. — franzi a testa.

— Deveria! Ele é um gato, e muito gostoso!

— Elisa! — comecei a rir. — Não me faça rir, está me desconcentrando. — eu olhava o rapaz caminhar, um pouco perto demais, de Isabel.

— O que você quer saber? Diferente como? — ela perguntou.

— Diferente... ele... não tem namorada, tem?

— O Gael vai te matar.

— Não é para mim! É para ela. — eu virei a loira para encarar o casal.

— Ah. Isso. — Elisa não demonstrou muito interesse.

— É! Isso! Esqueceu de me contar alguma coisa? — acusei. Aquela reação estava muito estranha.

— Tipo o que? — ela voltou a olhar para mim com um sorriso travesso. — Que o priminho está caído de quatro pela morena? Completa, terrível e irremediavelmente apaixonado pela Isabel? Isso é notícia velha.

Notícia velha?! Quase caí.

— Como assim?! — falei de olhos arregalados. — Desde quando? Por que não me contou?

— A gente não pode ir andar nos karts primeiro? Eu explico tudo depois. — e já ia saindo.

— Não! Nada disso! — segurei o braço dela. — Você me deve uma conversa e vai ser agora!

Ela bufou e revirou os olhos. Nós deixamos os outros irem e nos sentamos na beirada da grama, num lugar com sombra. Na largada, o carro ao lado do de Isabel estava ocupado por... Natan! Logo na saída ele deu uma cutucada no veículo dela. Eu conseguia imaginar o sorriso de provocação na cara dele. Ela devolveu o esbarrão. Depois disso, na reta, ela passou na frente dele e o rapaz deu alguns tapinhas na traseira dela, antes de os pequenos veículos tomarem velocidade.

— Como foi que eu não vi? — perguntei mais para mim mesma. — Isabel nunca falou nada dele para mim.

— Natan sabe da história dos dois. Se declarar para um coração já apaixonado é estupidez. Ele só cultiva esperanças de que o outro relacionamento esfrie e ele passe a ter alguma chance.

— Se ele fizer alguma coisa agora ela vai se fechar. — constatei.

— Natan tem a calma e a paciência de um bom caçador. Ele é esperto, sabe o que está fazendo.

Imaginei o casal formado, Isabel e Natan. Uma felicidade nova e intrometida me fez sorrir de orelha a orelha. Eu... sentia como se ele e eu fossemos mais amigos do que eu me lembrava. Aí eu pensei no Pedro... e me senti um pouco mal. Coitado. Ele era um bom rapaz.

— Natan diz que é... estranho... diferente... meio insano, irracional. Uma coisa viva dentro do peito, uma coisa... poderosa. Uma coisa dona de si mesma. Ele nunca sentiu isso por ninguém e diz que dói... olhar para ela sem poder tocar.

— Ele fala essas coisas para você? — perguntei.

— Ele deita no meu sofá e me aluga por horas! — Elisa revirou os olhos na minha direção. — Olha para mim? Tenho cara de terapeuta?

— Não! — tive que ser sincera.

— Pois bem. Eu disse que ele estava apaixonado. Disse para ele se preparar para sentir coisas que não lhe passavam sequer pela cabeça. Ele confessou que se sentia com frequência confuso e que não conseguia tirar a Isabel da cabeça. — Elisa falou rindo.

— Eu gosto dele. — admiti. — Ficaria feliz de vê-los juntos.

— Sou suspeita para falar. Nada contra o Pedro, é claro, mas... o Natan é da família. Torço por ele e para que seja feliz, e como nesse momento a felicidade dele é morena e se chama Isabel... — ela deu de ombros. — Além disso, o Pedro até que é bonitinho — ela fez cara de desdém —, mas o meu Natan é um pedaço de mal caminho! Os braços dele são do tamanho das coxas do Pedro, só para início de conversa. O tanquinho dele é maravilhoso! Ganha até do Gael. — ela implicou comigo e me cutucou nas costelas com um riso enorme. — O Natan não sabe tocar piano como o Pedro, mas isso é fácil, vai na loja e compra um CD. Alto, moreno, bonito e sensual. Isabel poderia pedir mais o que? Eu mesma ficaria com ele para mim se ele não fosse tão estúpido, irritante, imbecil e retardado.

— Você fala como se estivesse vendendo um produto. — ri da cara dela.

— Alma, alguém nesse mundo tem que fazer o sacrifício de amar aquele traste. Por que não a Isabel? Ela é perfeita.

— Vai lá falar isso para ela.

— Eu não, vai você! Você já era amiga dela antes. — Elisa retrucou. — Mas que ele é gostoso ele é. Isabel bem que deveria trocar! Vai ficar muito mais bem servida.

Pedro acabou ganhando a corrida e John ficou em segundo lugar, Isabel ficou em terceiro e Natan perdeu.

— Você tentou, Isi. Só não nasceu para isso, amor. — Pedro gozava a namorada.

Natan desviava o rosto todas as vezes em que Pedro tocava em Isabel, e eu via o ciúme escuro dentro dos olhos dele nessas ocasiões.

— A culpa não foi minha. Foi sua! — Isabel empurrou Natan, mas estava rindo. — Não tinha nada que ficar me distraindo. Eu teria ganhado se não fosse por você. É bem feito que tenha perdido.

— Mas nem sempre perder significa uma derrota. — foi a resposta dele.

Eu não estava comendo nada, mas quase engasguei ao ouvir isso. Uma voz diferente, mais envolvente e mais profunda, mais magnética, tinha dito a mesma coisa para mim em uma noite de bilhetes e desafio.

Saindo de lá, nós fomos tomar açaí. Algumas pessoas gostavam, outras diziam ter gosto de terra! O grupo se dividiu alegremente entre acusação e defesa. Mas o centro da minha atenção era o Natan. O foco dele nunca estava em mim. Os olhos dele só tinham um único objetivo, até mesmo quando não estava olhando diretamente. E o objetivo dele era uma moça de cabelos escuros e avermelhados sob a luz quente e brilhante do sol.

Uma moça que estava completamente apaixonada por outro alguém.

Uma moça que estava completamente apaixonada por outro alguém

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E por hoje é isso, espero que tenham gostado.

Bjos e até semana que vem!

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