Uma lembrança pode mudar tudo!
Após enfrentar a morte de frente, Alma Ferraz desperta de um sono profundo sem as memórias de um reino de fantasia. Durante a rotina do dia-a-dia, o ballet profissional deixa cada vez mais perto, John, um antigo amigo...
— Consegue voar? — perguntei esperançosa. Ele mal conseguia abrir os olhos.
— Não. — a voz era seca e áspera. — Mas Elisa pode levar os dois para fora daqui.
— Não vou deixar você aqui. — Elisa recusou.
— Então vamos morrer todos engolidos pela lava. Que poético! — ele tossiu em convulsão. — Eu queria que ela soubesse. — olhou a loira com um profundo pesar. — Eu nunca disse que a amava.
Isabel. Se eu já não estivesse no chão teria caído. Eu só queria gritar.
— Por favor, não faz isso. — Elisa implorou. — A gente vai dar um jeito.
— Sem promessas vazias, priminha. Isso nunca foi o seu forte. — dessa vez ele tossiu tão forte que espirrou sangue.
Tapei a minha respiração com a mão tentando evitar o choro.
O nosso pedaço de pedra diminuindo a cada segundo. O magma vermelho e quente esperava com paciência para nos tragar. Não adiantava sairmos dali, morreríamos de qualquer jeito. Todos nós. O mundo natural também, a Terra e todos que estavam lá. Isabel, meus pais, meus amigos. Gente que eu amava, gente que eu nem conhecia. Todos.
— Por favor, Natan! — Elisa suplicou.
— Eu só queria ter dito a ela. Agora ela nunca vai saber.
— Ela sabe. — consegui falar. — Ela sabe, Natan.
— Que bom. — ele fechou os olhos e respirou aliviado. — Ao menos um pedacinho de paz...
— Natan? — Elisa chamou baixinho. — Natan! — ela encostou a testa no peito dele e os ombros começaram a sacudir.
Está acabado. Se Elisa desistiu não adianta mais ter fé. Está realmente acabado. Nós fracassamos.
Sr. M, Heitor, Hector, Vânia, Selva, John, Natan... Gael. Todos mortos. O meu Gael. Não tenho mais alma, ela morreu junto com ele. Sou só um pedaço de carne, um saco vazio.
Voltei-me para a tempestade no centro do vulcão. Ouvi a insanidade gargalhar. Ela estava me chamando, me convidando a saboreá-la, a me entregar. Senti o poder se insinuando, vagando, como veneno pelas minhas veias e cavidades vazias. Posso ceder a ele, mas jamais controlá-lo, é muito para mim.
Se eu o libertasse sabia que me perderia, mas não tinha mais medo disso. Eu já perdi tudo o que valia a pena.
A loucura brinca dentro do meu cérebro. Ela me quer... e eu a quero. Caí em sua sedução. Não tenho mais domínio completo da minha realidade.
— Alma?!
— O que está acontecendo com ela?
Ouvia vozes. Não sabia de quem eram. Não conseguia alcançá-las. A razão estava me escapando. Não conseguia responder. Eu não sabia a resposta.
Meus pés moviam-se por vontade própria. Não sei mais quem eu sou. O restante do mundo não existia. Nada mais importava a não ser a tempestade.
Parei acima do olho do caos. É bela. Poderosa e insana. Uma tempestade negra, cheia de luz mortal. Eu gosto. Tinha vontade de rir. Estendi a mão, um raio brincou, pulando entre os meus dedos. Faz cócegas! Estendi a outra e brinquei com os relâmpagos. A minha gargalhada ribombou em meio aos trovões. A eletricidade que me percorreu era selvagem. O buraco negro abaixo de mim me chamou. Aceitei. E mergulhei sem medo no interior.
Enquanto atravessava a tempestade, fechei os olhos e inspirei profundamente o sabor do vento. Madeira e âmbar. Adoro esse cheiro. Não sabia de onde ele vinha, mas era bom e me fez sentir saudade.
Olhei ao meu redor. Eu estava em suspensão no ar, abaixo de mim, o oceano, acima, o céu. Sabia exatamente onde estava. Estava na Terra. Os humanos viviam ali. Eles eram interessantes de se observar.
A água do mar estava sendo sugada por um redemoinho gigantesco que tocava nas nuvens escuras de onde eu saí. A tempestade estava se alimentando do mar para crescer.
Lá em cima sabia que era dia, mas o sol estava com medo. Ele era tímido e estava se escondendo. Eu quero ver o sol. Subi pelo ar e atravessai a espessa tempestade. O brilho do astro aqueceu a minha pele com prazer. Uma esfera brilhante e quente, feita de pura magia radiante. Os humanos costumam chamar isso de energia. Por que eles mudam o nome das coisas?
O globo terrestre estava sendo lentamente envolvido pela nuvem negra que se espichava em direção aos raios solares. Uma mão pronta para colher um fruto maduro, suculento, de um galho alto.
Senti uma pontada dentro de cérebro. Agora me lembro! Aquela tempestade, ela queria engolir o sol!Mas eu gostava do sol, não queria que ele parasse de brilhar. Acho que eu teria que atrapalhar a brincadeirinha. Senti o riso de satisfação rasgando o meu ser em pedaços desconexos. Não pode se esconder de mim. Eu sei onde você está!
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