27 - Álcool

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A noite não tinha nuvens, bem diferente do horizonte do meu mundo

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A noite não tinha nuvens, bem diferente do horizonte do meu mundo. A minha cabeça estava rodando. Hoje desapareceu um navio cargueiro do oceano atlântico. Sumiu. Evaporou. Sem deixar rastros. Embarcações, aeronaves, e aquele nevoeiro estranho no triângulo das Bermudas. O que a Selva queria com a Alma?

Eu não tenho muita certeza sobre isso, John. — a voz magnética me engoliu inteiro.

O namoradinho conduziu-a para dentro da boate pulsante, ignorando alguns resmungos e protestos da dama. Meus pés me arrastaram para dentro do recinto lotado. A música era tão alta que fazia doer o cérebro. Como as pessoas conseguiam manter a sanidade dentro de um lugar assim?

— Vamos dançar, bonitão? — uma garota que mal conseguia se sustentar de pé invadiu todo o meu espaço pessoal e me alisou de cima a baixo.

Pensando bem, talvez as pessoas não quisessem manter a lucidez ali dentro. Me desvencilhei das mãos dela e de algumas outras também. Que mania desagradável! Não gosto de gente encostando em mim, me deixa com um humor pior do que já é.

Alma e o bastardo estavam sentados ao bar. Idiota! Miserável! O ciúme e a inveja tinham um gosto ácido.

— Eu não bebo, John. Você sabe. — Alma recusou.

Reprimi a saudade que secou a minha garganta, já tinha tanto tempo que não a via.

— Mas... eu não bebo. — a morena repetiu a alguma distância de mim.

Ela estava aborrecida. Tomara que estejam brigados! Me senti super feliz desejando o mal alheio.

— Eu prometi que essa noite você iria se divertir, querendo ou não. E você prometeu experimentar algo novo!

— Tá bom. — ela suspirou e empurrou a bebida goela abaixo, não gostou do sabor.

Viu só! Nem foi tão ruim assim. Vem, agora vamos dançar. — idiota miserável!

Ela dançou com ele, mas acabava sempre voltando para um acento no bar. Ela estava mais do que chateada, se a Alma não queria dançar... o mundo estava acabando.

Ele a pressionava a beber mais, e sabia que ela ficaria completamente bêbada bem rápido. Essa era a noção do palhaço de diversão?!

Quando a garota já estava bem mais para lá do que para cá, ele disse acima do barulho ensurdecedor:

Bebe mais um! Você tem um probleminha chamado controle, nunca abre mão dele! Precisa aprender a relaxar um pouco. É a sua noite de novas experiências, linda!

— Miserável filho da...

— Eu quero ir pra casa, John. — ela pediu.

Nós já vamos. — ele deu as costas e se afastou.

Ela não me viu quando parei ao seu lado.

— Vamos para casa.

Alma se virou na direção da minha voz.

— Gael? — os olhos negros se iluminaram e a morena se jogou ao meu pescoço. A boca tinha gosto de álcool. — Você voltou! Senti saudade. — Alma olhou para mim e fez uma careta. — Talvez eu tenha acabado de beijar um estranho. Eu não tenho certeza se você é você.

— Você está bêbada. Vem — ajudei-a a se levantar —, vamos para casa.

Ela adormeceu assim que o carro arrancou. Vestia uma blusa estampada e uma saia preta de renda. É, para ele você veste saia, não é mesmo pulchram?! Depois levei-a para dentro e deitei a moça inconsciente na minha cama.

— Eu cuidaria bem de você se deixasse. — fiquei observando-a dormir por horas.

Quando ela acordou, esfregou o rosto sem me ver.

— Essa não é a minha casa. — falou enrolado.

— É a minha. — me levantei da poltrona e parei ao pé da cama.

— Está de volta? — um sorriso radiante apareceu.

— Estou.

— Onde você vai morar?

— Aqui! — trocei. — Essa é a minha casa.

— Que graça! — ela ficou de joelhos na minha frente. Os braços foram passados em volta do meu pescoço. — Você costumava ser mais carinhoso antes.

— E você costumava ser menos assanhada antes. — provoquei. — Acho que o seu namorado não está dando conta do recado.

— Eu não tenho namorado. — ela revirou os olhos.

— Então quem era o idiota com você no bar?

— Que bar? — Alma fez uma careta confusa.

— Olha só o seu estado. É deprimente. Noite de experimentar coisas novas! — bufei. — Que ridículo! Essa não é você.

— Eu sei que você gosta mais dela do que de mim.

— Dela quem?! — foi a minha vez de ficar confuso.

— Da Alma do seu album.

Eu não ouvi isso!

— Você tem ciúme dela?! — fiquei chocado.

— Sim senhor. Aposto que gostava de tocar nela.

— Também adoro tocar em você.

— Ótimo! — respondeu com felicidade e sem nenhuma resistência. — Todo mundo tem que perder a virgindade um dia!

Então ela era virgem?! Essa é nova para mim! Tenho lembranças bem indecentes que refutam isso!

— Quem te contou essa mentira descabida? Você não é virgem! — falei.

— Sou sim! — ela emburrou a cara e cruzou os braços. — Ora, o que está pensando de mim?! — respondeu meio brava.

— Que cheguei a tempo de estragar a noite do John.

A morena revirou os olhos e voltou a se pendurar em mim.

— Eu não quero ele desse jeito. Quero você. — ela beijou o meu pescoço, ligando todos os meus terminais nervosos e sensoriais.

Eu poderia ter, por uma noite, tudo. Eu podia fazer de conta que ela queria mais do que só o desejo do corpo. De manhã, a realidade voltaria e me deixaria outra vez sozinho. Vazio. Só que para conseguir isso eu teria que me aproveitar de uma pessoa sem controle sobre suas faculdades mentais. Sou egoísta, sei disso, mas não a esse ponto.

— Desculpe, amor. Acho que a gente só vai dormir hoje.

E aí, concordam com Gael? Ou acham que ele devia aproveitar?

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E aí, concordam com Gael? Ou acham que ele devia aproveitar?

Bjos! Não esquece da estrelinha!

Noite Sombria | 3Onde histórias criam vida. Descubra agora