A noite não tinha nuvens, bem diferente do horizonte do meu mundo. A minha cabeça estava rodando. Hoje desapareceu um navio cargueiro do oceano atlântico. Sumiu. Evaporou. Sem deixar rastros. Embarcações, aeronaves, e aquele nevoeiro estranho no triângulo das Bermudas. O que a Selva queria com a Alma?
— Eu não tenho muita certeza sobre isso, John. — a voz magnética me engoliu inteiro.
O namoradinho conduziu-a para dentro da boate pulsante, ignorando alguns resmungos e protestos da dama. Meus pés me arrastaram para dentro do recinto lotado. A música era tão alta que fazia doer o cérebro. Como as pessoas conseguiam manter a sanidade dentro de um lugar assim?
— Vamos dançar, bonitão? — uma garota que mal conseguia se sustentar de pé invadiu todo o meu espaço pessoal e me alisou de cima a baixo.
Pensando bem, talvez as pessoas não quisessem manter a lucidez ali dentro. Me desvencilhei das mãos dela e de algumas outras também. Que mania desagradável! Não gosto de gente encostando em mim, me deixa com um humor pior do que já é.
Alma e o bastardo estavam sentados ao bar. Idiota! Miserável! O ciúme e a inveja tinham um gosto ácido.
— Eu não bebo, John. Você sabe. — Alma recusou.
Reprimi a saudade que secou a minha garganta, já tinha tanto tempo que não a via.
— Mas... eu não bebo. — a morena repetiu a alguma distância de mim.
Ela estava aborrecida. Tomara que estejam brigados! Me senti super feliz desejando o mal alheio.
— Eu prometi que essa noite você iria se divertir, querendo ou não. E você prometeu experimentar algo novo!
— Tá bom. — ela suspirou e empurrou a bebida goela abaixo, não gostou do sabor.
— Viu só! Nem foi tão ruim assim. Vem, agora vamos dançar. — idiota miserável!
Ela dançou com ele, mas acabava sempre voltando para um acento no bar. Ela estava mais do que chateada, se a Alma não queria dançar... o mundo estava acabando.
Ele a pressionava a beber mais, e sabia que ela ficaria completamente bêbada bem rápido. Essa era a noção do palhaço de diversão?!
Quando a garota já estava bem mais para lá do que para cá, ele disse acima do barulho ensurdecedor:
— Bebe mais um! Você tem um probleminha chamado controle, nunca abre mão dele! Precisa aprender a relaxar um pouco. É a sua noite de novas experiências, linda!
— Miserável filho da...
— Eu quero ir pra casa, John. — ela pediu.
— Nós já vamos. — ele deu as costas e se afastou.
Ela não me viu quando parei ao seu lado.
— Vamos para casa.
Alma se virou na direção da minha voz.
— Gael? — os olhos negros se iluminaram e a morena se jogou ao meu pescoço. A boca tinha gosto de álcool. — Você voltou! Senti saudade. — Alma olhou para mim e fez uma careta. — Talvez eu tenha acabado de beijar um estranho. Eu não tenho certeza se você é você.
— Você está bêbada. Vem — ajudei-a a se levantar —, vamos para casa.
Ela adormeceu assim que o carro arrancou. Vestia uma blusa estampada e uma saia preta de renda. É, para ele você veste saia, não é mesmo pulchram?! Depois levei-a para dentro e deitei a moça inconsciente na minha cama.
— Eu cuidaria bem de você se deixasse. — fiquei observando-a dormir por horas.
Quando ela acordou, esfregou o rosto sem me ver.
— Essa não é a minha casa. — falou enrolado.
— É a minha. — me levantei da poltrona e parei ao pé da cama.
— Está de volta? — um sorriso radiante apareceu.
— Estou.
— Onde você vai morar?
— Aqui! — trocei. — Essa é a minha casa.
— Que graça! — ela ficou de joelhos na minha frente. Os braços foram passados em volta do meu pescoço. — Você costumava ser mais carinhoso antes.
— E você costumava ser menos assanhada antes. — provoquei. — Acho que o seu namorado não está dando conta do recado.
— Eu não tenho namorado. — ela revirou os olhos.
— Então quem era o idiota com você no bar?
— Que bar? — Alma fez uma careta confusa.
— Olha só o seu estado. É deprimente. Noite de experimentar coisas novas! — bufei. — Que ridículo! Essa não é você.
— Eu sei que você gosta mais dela do que de mim.
— Dela quem?! — foi a minha vez de ficar confuso.
— Da Alma do seu album.
Eu não ouvi isso!
— Você tem ciúme dela?! — fiquei chocado.
— Sim senhor. Aposto que gostava de tocar nela.
— Também adoro tocar em você.
— Ótimo! — respondeu com felicidade e sem nenhuma resistência. — Todo mundo tem que perder a virgindade um dia!
Então ela era virgem?! Essa é nova para mim! Tenho lembranças bem indecentes que refutam isso!
— Quem te contou essa mentira descabida? Você não é virgem! — falei.
— Sou sim! — ela emburrou a cara e cruzou os braços. — Ora, o que está pensando de mim?! — respondeu meio brava.
— Que cheguei a tempo de estragar a noite do John.
A morena revirou os olhos e voltou a se pendurar em mim.
— Eu não quero ele desse jeito. Quero você. — ela beijou o meu pescoço, ligando todos os meus terminais nervosos e sensoriais.
Eu poderia ter, por uma noite, tudo. Eu podia fazer de conta que ela queria mais do que só o desejo do corpo. De manhã, a realidade voltaria e me deixaria outra vez sozinho. Vazio. Só que para conseguir isso eu teria que me aproveitar de uma pessoa sem controle sobre suas faculdades mentais. Sou egoísta, sei disso, mas não a esse ponto.
— Desculpe, amor. Acho que a gente só vai dormir hoje.
E aí, concordam com Gael? Ou acham que ele devia aproveitar?
Bjos! Não esquece da estrelinha!
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Noite Sombria | 3
RomanceUma lembrança pode mudar tudo! Após enfrentar a morte de frente, Alma Ferraz desperta de um sono profundo sem as memórias de um reino de fantasia. Durante a rotina do dia-a-dia, o ballet profissional deixa cada vez mais perto, John, um antigo amigo...