36 - Profecia

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Ouvi a voz adormecida dentro da minha mente. Em outro tempo, onde eu não compreendia a fantasia, quando eu ainda não era eu mesma e não me lembrava da magia, o Sr. M visitou a minha noite e me contou uma história. Uma voz que era ao mesmo tempo desconhecida e familiar. Na época não entendi nada do sonho e nunca mais me lembrei dele, mas agora... fazia todo o sentido!

— É você. — falei compreendendo a situação.

— Sou eu o que? — Selva perguntou inabalada.

— Você é a perturbação. — apontei a tempestade sobre a borda daquele mundo. — Você é a responsável pela perturbação da noite.

Agora eu acertei o alvo. A alteza empalideceu e deixou os ombros caírem. O olhar perdeu o viço.

— Do que você está falando, Alma? — Elisa perguntou confusa e apreensiva.

— Existe uma profecia antiga. — deixei as palavras do Sr. M se repetirem na minha boca. — São as estrelas que nos dão a magia e a proteção, são elas que guardam os seres místicos e o mundo da fantasia, mas existe uma lacuna de tempo, um período onde não estamos protegidos do mal. A cada milênio abre-se o espaço para uma década de maldição. — Gael e Elisa não faziam ideia do que eu estava falando... mas para a filha da lua... nada daquilo era uma novidade. — Durante esse período de ausência, se alguma magia for usada por pura maldade... ela tem o poder de despertar exatamente isso: o mal. Lá embaixo, na escuridão desconhecida, dorme essa maldade.

— Não me diga. — Elisa entendeu o raciocínio. — E nós estamos passando justamente por essa década.         

— E Selva usou a magia dela para causar a morte de alguém. — Gael acrescentou. — De forma fria e sem propósito.

— A minha. — pontuei. — Mesmo que eu tenha retornado de lá. Quando Selva usou a magia dela inspirada por vingança, ela alimentou a criatura. A vida está se formando dentro dela, nesse exato momento e ela está modificando o seu entorno. Quando a coisa despertar... a noite vai engolir tudo.

— Você já sabia. — Gael acusou a ruiva. — É por isso que você fez aquela cara quando descobriu que a Alma tinha morrido. Você entendeu o que tinha feito.

— Pois é. — a raposa falou com indiferença. — Eu entendi nessa hora o que era a tempestade.

Selva olhou o horizonte, as nuvens negras acima da linha do mar. A tempestade que devorara as luzes coloridas da aurora boreal e nunca mais fora embora, enchendo a borda de relâmpagos e trovões.

— Eu não sabia antes, quando mandei o Ramon roubar a magia dela com as asas daquela fada. Primeiro vi a profecia escrita nas paredes do templo da perdição em Shangri-la, depois vi a tempestade aqui fora. Foi aí que eu liguei as coisas. — ela olhou de volta para mim. — Mas como a garota não tinha realmente morrido, tudo não passou de uma tentativa, então... tive esperanças de que a maldição não se cumprisse, mas aí... você me deu a notícia. — ela fitou o caçador. — E eu soube que tudo estava perdido.

— E nesse meio tempo não passou pela sua cabeça contar o que estava acontecendo para a gente?! — ele espumou.

— E para que? Se ainda não havia uma solução? Eu estava trabalhando nisso.

— E já achou alguma?! Vossa alteza. — a voz dele era cortante.

Ainda não. — ela respondeu sem se importar.

— Eu tenho uma, bem simples. — a voz de Elisa mordia. — Eu te levo até a borda do penhasco, deixo você cair lá para baixo. Aí você arruma a merda que fez!

— Não é possível voltar a adormecer a criatura? — perguntei.

— Não. Uma vez que o processo tenha se iniciado — a ruiva apontou a tempestade — não tem mais volta.

— A culpa é toda sua! — Gael era um misto de raiva e impotência. — É por isso que somos proibidos de usar a magia por maldade e você fez isso conscientemente! Mesmo que não soubesse das verdadeiras consequências na época. E ainda por cima jogou a culpa em cima do seu aluno! Alguém que você devia proteger e educar! Agora se vira para consertar! — ele terminou gritando.

— Eu não posso! — Selva gritou de volta e bufou contrariada. — Não tenho a magia certa. Eu não nasci com o poder necessário!

— E de quem é a magia certa? — ele perguntou.

Os olhos verdes sem pontos dourados acima das pequenas sardas da ruiva selvagem repousaram em mim.

— De um guardião.

Ai, que agora o bicho vai pegar!

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Ai, que agora o bicho vai pegar!

Já entendemos por que ela queria tanto que a Alma recuperace o que perdeu. Mas é uma vaca, mesmo!

Noite Sombria | 3Onde histórias criam vida. Descubra agora