22 - Sonho

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Eu nunca sonho, ou se sonho não me lembro de nada quando acordo. Mas aquela noite, depois de cair na cama e adormecer instantaneamente um sonho curioso e perturbador veio me fazer companhia.

Uma voz desconhecida, mas estranhamente familiar estava presente lá, me contando uma história. A voz de alguém que eu não tinha certeza se era mesmo... maluco. Na minha imaginação eu ouvia a voz do homem me falando sobre as estrelas no alto do céu e sobre as sombras no fundo da terra. Era um reino de fantasia. Dois tipos de magia, boa e má, e a única linha tênue que separava uma da outra era aquilo que residia no seu coração. Um dia, bem no alto da montanha, surgiu uma perturbação, um ser mágico, de orelhas grandes e felpudas, branca como uma raposa, usou o seu poder para matar a magia de outra criatura. Um ruído ecoou da escuridão abaixo da terra. A noite despertou. A escuridão abriu os olhos e engoliu toda a luz.

O meu corpo estremeceu de medo e uma sombra se avultou sobre mim. O monstro de asas negras ia me matar, mas inesperadamente, ele tinha olhos gentis como o meu vizinho e tocou o meu rosto com delicadeza.

O meu cérebro não teve tempo de processar as informações, as minhas pupilas mal tinham se focado e o grito de susto rasgou a minha garganta aberta um segundo antes de eu estar realmente lúcida. Mas foi o suficiente para ver a sombra do pesadelo fugindo pela janela.

Minha mãe apareceu para ver o que estava acontecendo. Eu ainda tremia sentada na cama.

Desculpe, foi só um pesadelo. — tranquilizei a minha mãe. — Foi... só um pesadelo.

Sua preocupação foi substituída pelo sono e assim que ela me deixou sozinha corri para a janela. O meu medo sendo trocado pela curiosidade. Espreitei na direção do apartamento vizinho.

— Um monstro com asas negras, vizinho estranho? — perguntei para a própria noite. — Isso não faz de você um anjo, com certeza. — alisei o rosto e suspirei ruidosamente. — Agora além de me atormentar durante o dia também vai me perseguir à noite? Não pode ao menos durante o sono me deixar em paz? Está se tornando um pesadelo, literalmente. Uma criatura escura e sombria. Com asas ainda por cima?! Se ao menos fossem brancas eu podia dizer que foi um sonho.

Eu ri e voltei para dentro.

— Que droga! Não podia desaparecer e me deixar viver em paz? Não podia ir embora?! Sair da minha cabeça? — fui até a cozinha e enchi um copo com água.

Que sonho estranho. Juntamente com as lembranças eu havia perdido a minha fé. Fantasia só era realidade no mundo da infância e magia era um dom que perdíamos naturalmente ao crescer. Uma maldição acordando nas profundezas de um abismo e engolindo toda a luz?! Quanta imaginação! Eu nunca teria considerado as visões daquela madrugada como um presságio.

— A mente da gente inventa cada coisa! Bom, pelo menos agora eu já sei, se o ballet não der certo, escrevo um livro.

A última parte do sonho regressou à minha mente. O meu vizinho vindo me visitar durante a madrugada como se fosse um cavaleiro alado. Munido de duas longas asas negras e poderosas. Mais belo do que eu já o havia visto em qualquer uma das vezes. Com certeza não era um anjo, mas uma sombra escura que eu não me importaria nenhum pouco se me devorasse.

Eu queria não ter gritado, assim eu não teria acordado e o sonho teria durado mais. Sem querer afugentei o ser obscuro que me acariciava. O subconsciente é uma coisa incrível, posso sentir o eco de onde ele me tocou. A sensação prazerosa da sua respiração passeando pelo meu rosto.

— Estou perdendo a mim mesma em você. — falei sozinha. — Você poderia me fazer o grande favor de sair de dentro de qualquer parte do meu ser onde você tenha se enfiado? Ninguém te deu autorização para entrar aí. Não gosto do controle que você tem sobre mim. Não gosto nada!

Todos os meus pensamentos, dormindo ou acordada, convergiam para ele.

Do lado de fora, o dia dava sinais de que não tardaria a chegar. Não valia a pena voltar a dormir, principalmente porque eu não conseguiria retomar o sonho. Lembrei do beijo que ele me deu na véspera e sorrir foi involuntário. Isso tinha sido real, nada de fantasias da minha mente. Palpável, forte e vigoroso. Com certeza, o melhor dos presentes que ganhei. Não dava mais para negar.

— Eu tentei. Juro! Tentei de verdade não me apaixonar por você, Gael Ávila, e fracassei miseravelmente nessa tarefa. — se render após a derrota nada mais era do que inevitável e coerente. — Pelo menos eu fui beijada de forma decente. — ri comigo mesma com um frio na barriga. — Ou não tão decente assim!

Já era hora de enfrentar os meus medos e parar de fugir do meu vizinho, mesmo que na vida real ele não fosse tão lindo como o monstro de asas dos meus sonhos.

Já era hora de enfrentar os meus medos e parar de fugir do meu vizinho, mesmo que na vida real ele não fosse tão lindo como o monstro de asas dos meus sonhos

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Olá amores!

Terminei esse capítulo suspirando aqui, quanto amor e felicidade. E como vocês sabem que o maior prazer de um autor é estragar a felicidade alheia...

Bjos! E se gostou não esquece da estrelinha!

Noite Sombria | 3Onde histórias criam vida. Descubra agora