— Temos tempo de sobra para chegar ao topo da montanha? — Ramon perguntou.Quando acordarmos o eremita tinha nos abandonado no avião. O buraco na perna do Gael tinha se fechado e ele não sentia dor.
— Temos alguns dias de vantagem. — Elisa respondeu.
— Então vamos esperar. Pode ser que o Sr. Zain volte. — o aprendiz sugeriu. — Eu adoraria ter a companhia daquele cajado conosco fora daqui.
— Ai. — Hector gemeu em sua poltrona. — Acho que não escolhi bem aqueles enlatados ontem.
— Vou preparar um chá. — Vânia esfregou as mãos e folhagens pequenas apareceram.
Selva conseguia manipular a energia da matéria. Ela pegou um enlatado em uma mão e o cantil com as ervas da botânica em outra. A conserva desapareceu e a água ferveu.
— Cuidado, está bem quente. — entregou o chá pronto.
Ouvimos barulhos fora do avião. Os ânimos ficaram em suspensão. O eremita apontou e nós relaxamos.
— Fui pegar mais enlatados. Encontrei geleia de morango, a minha preferida! — ele olhou para Hector. — O que aconteceu com ele? Está meio verde.
— Acho que comi alguma coisa estragada. — o rapaz respondeu.
— Ah. Deve ter sido aquela pasta de atum, com certeza. — Sr. Zain o olhou com pesar.
— Cada um pegue o que for levar. — Natan já estava de pé. — Vamos sair desse abismo o mais rápido que der.
Já que a planície era o ninho dos ignánimos, decidimos pegar um caminho diferente, um pouco mais longo, mas menos povoado. A sensação de exposição era imensa fora do avião, mesmo tendo o cajado de luz conosco.
O terreno começou a ficar mais rochoso e irregular. Hector continuava gemendo do estômago à minha frente, então vi que ele iria desmaiar e cair com tudo no chão.
— Hector! — tentei segurá-lo, mas ele era muito pesado para mim e nós dois fomos ao chão. Ele estava todo suado e tremia da cabeça aos pés.
— O que está sentindo? — Vânia ficou preocupada. Depois do remédio que ela lhe dera, não era para ele continuar doente.
— Não... consigo respirar...
John e Selva o colocaram sentado. Ele se contorceu violentamente e vomitou na ruiva.
— Não podia ter esperado eu sair?! — a raposa brigou com o doente. — Que nojo!
— Desculpe. — a respiração começava a voltar ao normal.
— Mas o que foi que você comeu afinal?! — ela limpava a própria roupa, ainda agachada de frente para ele.
Os dois estavam cobertos por uma gosma grudenta. Não parecia vômito. Selva não estava mais ligando para o nojo, isso me deixou apavorada. Algo muito pior estava ocupando a mente da ruiva para que ela não ligasse de revirar o conteúdo estomacal daquele jeito.
— Isso é um ovo?! — Vânia perguntou.
Selva pressionou a esfera e ela se rompeu. Tinha fragmentos de casca e bolinhas espalhados naquela meleca.
Hector estava visivelmente melhor. Ele cheirou a substância entre os dedos.
— É o mesmo cheiro da campina. Alcoólico.
— São os ovos deles. — Sr. Zain falou por cima do grupo. — Eu já vi.
— Ovos daquelas coisas. — o doente engoliu em seco. — Como foram parar dentro de mim?
Isso fez todo mundo gelar. Como foi que aqueles ovos foram parar no estômago do Hector?
— Como está se sentindo? — o eremita perguntou com evidente curiosidade.
— Bem. — respondeu depois de pensar um pouco.
— Excelente! Então vamos seguir em frente. — Sr. Zain sorriu. — O importante é que já pôs pra fora.
Selva e Hector trocaram olhares. Os dois começaram a se levantar.
— Mestra...
— Não toque em mim! — Selva recuou com arrogância, quando Ramon ofereceu ajuda, mas aceitou a mão de Hector. — Precisamos nos limpar. — declarou olhando o metalúrgico. — Não toque em ninguém enquanto isso.
— O riacho fica logo depois da encosta. — o eremita avisou.
Fiquei repetindo que o embrulho no meu estômago não tinha nada a ver com ovos e sim com ansiedade. Os dois imundos se lavaram e seguimos a correnteza até o lago.
O bem estar fora passageiro, Hector não estava nada bem. Começamos a ficar preocupados de verdade com ele. O rapaz teve alguns surtos de dor, agarrando fortemente a cabeça e arrancando grandes tufos de cabelo. Os olhos estavam vermelhos.
— Agora é só margear o lago. — Sr. Zain indicou.
— Vai demorar muito. — Elisa descartou. — Vamos economizar muito tempo cruzando a água em linha reta.
— Mas não temos um barco. — o eremita rebateu.
— Podemos atravessar a pé. — avisei. Só ele precisaria ser carregado porque não era um natural.
— Você sabe o que se esconde dentro dessas águas?
— Não. — não tinha pensado nisso.
— Nem eu. E não quero arriscar. Vamos por terra mesmo.
— O nosso tempo vai começar a ficar apertado. — Elisa pontuou.
— Então vamos apressar o passo. — Gael respondeu.
— Hector está exausto. — Ramon avisou. — Adormeceu ali no canto.
O metalúrgico mal tinha encostado no tronco da árvore e acabara adormecendo.
— O que está acontecendo com ele? — perguntei, o coração apertado no peito.
— Não sei. — nossa botânica respondeu com uma cara triste. — Não posso tratá-lo se não souber o que ele tem.
— Hector. — Natan foi acordá-lo, tomando o cuidado de não ficar na frente, caso o rapaz vomitasse de novo. — Precisamos ir. — o sono tranquilo destoava de sua aparência acordado. — Hector. — ele acordou. — Precisamos ir.
Uma convulsão fez o corpo inteiro chacoalhar furiosamente. A respiração disparada. Hector inspirou profundamente... e relaxou.
A caminhada recomeçou, mas ele estava ficando para trás. Não podíamos parar para ele descansar e também não podíamos seguir na lentidão dele. Amarramos peças de roupas e fizemos uma rede para carregá-lo. O rapaz exaurido e doente se acomodou com evidente dificuldade e dormiu tranquilamente nas próximas horas.
As minhas pernas já estavam queimando como fogo. A água morna do cantil tinha gosto de sede. Eu daria tudo por um copo gelado de água fresca.
O uivo inumano começou do nada, pegando todo mundo de surpresa.
Chega por hoje? Quem mais estará doente?
Um bjo enorme, ótima semana e nos vemos na próxima!
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Noite Sombria | 3
RomanceUma lembrança pode mudar tudo! Após enfrentar a morte de frente, Alma Ferraz desperta de um sono profundo sem as memórias de um reino de fantasia. Durante a rotina do dia-a-dia, o ballet profissional deixa cada vez mais perto, John, um antigo amigo...