11 - Amigos?

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No final de outubro, eu estava indo para casa depois da minha última aula. O relógio marcava que já passava um pouco das seis da tarde, mas o dia ainda demoraria a acabar. Detesto o horário de verão! Detesto, detesto, detesto!

Olhei o céu claro acima de mim. Seria excelente se começasse a chover um pouco. Os gramados da cidade estavam secos e opacos, implorando por um pouquinho de água.

— Ei, linda! Espera um pouquinho aí! — parei na calçada e me virei. John corria para me alcançar. — Está indo para casa?

— Estou. — respondi.

— Posso te fazer companhia? — pediu.

— Pode, mas a minha casa fica no sentido oposto ao da sua. Vai ter que fazer uma volta enorme depois.

— Não tem problema. — respondeu com um sorriso animado.

— Tudo bem, então. — dei de ombros também sorrindo e nós começamos a caminhar. — Já recebeu a resposta?

John era um excelente bailarino, com certeza seu futuro seria promissor. Ele tinha feito um teste na academia de ballet Dolabella, há alguns dias atrás. Foi tudo muito rápido e inesperado, mas fiquei muito feliz e animada por ele. Talvez seríamos colegas de trabalho no ano seguinte. Isso seria fantástico!

— Ainda não, eles estão me matando de ansiedade. 

— Assim que receber uma resposta me avisa!

— Vai ser a primeira pessoa para quem eu vou contar. — garantiu. — Mal posso esperar! Às vezes preciso dizer à mim mesmo para ir mais devagar, ou posso me decepcionar. E se a resposta for um não? — as sobrancelhas se arquearam. — Seria devastador! — pousou uma mão sobre o coração, como se estivesse sentindo dor ali. — É como segurar o seu sonho nas mãos e depois ter que devolver. Devastador!

— É, eu sei. — me imaginei no lugar dele. — Mas tenho certeza que vai dar tudo certo. Você vai conseguir. Você tem que conseguir! A minha torcida está sendo fervorosa!

— A minha também! Se ao menos isso fosse o suficiente! Eu acho que seria um máximo conseguir as coisas com a força do desejo. Bastaria desejar e... feito!

— Isso é fácil! — fiz uma careta como se ele pedisse algo super simples. — É só você encontrar uma lâmpada mágica. Todas vêm com gênio dentro, aí você já sabe. Três desejos e coisa e tal.

— Ah, sim! Muito fácil. Eu tinha me esquecido.

— Encontráveis em qualquer esquina. — acrescentei.

— Quem dera! — ele suspirou. — Uma pena, realmente. Seria legal, se a magia existisse. — falou de forma distante e pensativa, como se estivesse imaginando um mundo diferente do real. — Enfim, vamos esperar para ver.

— Vai dar certo, John. Você merece. — nós paramos em frente ao meu prédio. — Obrigada por me acompanhar.

— Foi um prazer. — ele falou enquanto eu pegava a minha chave. — É... bom... você... está livre essa noite. Certo? Não tem ensaio na academia.

— Certo. — falei com a chave tilintando na mão. — Por quê?

— Já tem algum plano?

— Dormir conta? — perguntei com as sobrancelhas torcidas.

— Não! — ele riu.

— Então não.

— Quer me fazer companhia?

Olhei a expressão suavemente tingida de apreensão do rapaz que aos poucos e devagarzinho vinha se tornando mais que um simples... Eu já tinha percebido o seu interesse, mas torci para ser só coisa da minha cabeça. Afinal não era.

— Algum tipo de encontro? — fiz uma careta.

— É claro que não! — ele falou com ironia. — Isso seria sinônimo de algo amoroso e aparentemente você tem aversão a isso no momento, então... é melhor eu esconder minhas verdadeiras intenções. Pelo menos por enquanto. Até eu conseguir mudar a sua opinião. Só amizade mesmo.

A franqueza e a falsa tentativa de esconder o que ele queria de verdade me arrancou uma risada. Observei o chaveiro dançando entre meus dedos.

— Se eu dissesse sim não estaria alimentando falsas esperanças? — perguntei.

— Tenho o direito de me iludir. Não se atreva a tirar isso de mim! — respondeu na lata.

— Ai, John. — suspirei e tentei encontrar uma saída olhando ao redor. — O romance é tão estranho e eu...

— Já sei. Estou cansado de saber. Você não quer se envolver.

— Isso. — fiz outra careta. Não queria partir o coração dele. Eu gostava dele, de verdade, mas... éramos amigos, nada mais.

— Bom. O não já é meu. Vai me tirar a oportunidade de tentar? O máximo que vai acontecer, é eu continuar com aquilo que já tenho.

Ele parecia já ter ponderado muito sobre esse assunto. Tinha as respostas na ponta da língua e parecia decidido. Uma parte de mim sentiu pesar. John estava correndo um grande risco de se arrepender dessas escolhas.

— Está se aventurando por uma trilha dolorosa por sua conta e risco. — avisei.

— Aceito. — respondeu prontamente.

— Depois não diga que eu não avisei! Não me acuse de ser desalmada e estar ferindo seus sentimentos. Eu avisei. — apontei o dedo para ele. — Me pegue às oito.

— Fechado. — nós apertamos as mãos, selando nosso acordo.

Ele foi embora com um sorriso radiante. As pessoas têm a desagradável tendência de ouvir, ver e entender só o que elas querem. Embora eu considerasse que tinha sido bem clara e direta com John, sabia que ele esperaria muito mais de mim do que eu realmente queria dar.

Cheguei em casa e fui direto para a cozinha. Enchi um copo com água bem gelada enquanto um pensamento me enchia a cabeça: como é que eu faço para enfiar na cabeça dele que nós somos só amigos? O que a Elisa faria? Elisa? Elisa!

Dei um pulo de animação com a nova ideia e quase engasguei com a água descendo velozmente pela garganta. Larguei o copo em cima da pia e voltei a atenção para o celular.  Vou entrar na missão cupido!

Elisa é muito bonita, simpática e divertida. Mandona e topetuda também, mas o John não precisava saber.

Adorei a minha ideia! Os meus dois amigos passam a formar um casal e ainda por cima o John sai do meu pé. Sem nenhum coração partido. O que poderia ser mais perfeito do que isso? Ele seria louco se não se interessasse pela Elisa. Uma felicidade genuína me invadiu enquanto eu aguardava a linha ser preenchida pela voz da loirinha.

Shiiiii, sobrou para a Elisa, coitada

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Shiiiii, sobrou para a Elisa, coitada. kkkkkk

Olá amados! Como foram as festas? Espero que tenham sido ótimas! Ai, só de lembrar já me dá fome! E que 2019 seja rumo ao topo e nos traga tudo o que mais desejamos. ;)

Bjos a todos e vamos ao próximo capítulo de hoje.

Noite Sombria | 3Onde histórias criam vida. Descubra agora