— De novo?! — Isabel nos acusou com raiva. — Vocês vão me deixar para trás de novo?!Ela era completamente humana e não conseguia atravessar o portal. E lá íamos nós – de novo – para uma missão suicida enquanto ela roía as unhas aguardando notícias.
— Isso não é justo! Só para vocês saberem! — ela estava gritando. — Não é nada justo que eu seja a única a não ter purpurina no sangue! Eu também quero ter magia! Tenho me comportado bem o suficiente para isso! Eu tenho direitos, como todo cidadão!
Ela estava realmente histérica! E era só por isso que ainda não tinha desabado de tanto chorar. Isabel usava a raiva como escudo contra a dor.
Elisa, Gael e eu aceitávamos as acusações de cabeça baixa. Não tinha nada que pudéssemos dizer que realmente valesse de algum consolo.
A nossa carona chegou e foi só quando ela viu o motorista descer que eu acho que a ficha dela caiu de verdade.
— Você também vai. — ela sussurrou, e mesmo o caçador estando à distância sei que ele ouviu. — Mas é claro que você também vai! — ela explodiu, o escudo da raiva voltou. — Você também tem o maldito desenho de asas! Tudo mundo tem desenhos, menos eu! Até o John vai conseguir um desenho, mas a Isabel, não! Quem se importa em arranjar um desenho para Isabel?! Eu odeio todos vocês!
— Bel. — Natan tentou segurar o braço dela que já ia se afastando.
— Não! — ela desviou dele. — Nada de 'Bel' Natan! — ela gritou de verdade agora. — Nada de apelidos! Apelidos são para quem se importa de verdade!
— Acha que eu não me importo?! — ele rebateu.
— Não tente me consolar! Você é igualzinho a eles. — apontou na nossa direção e as lágrimas venceram a raiva. — Está me dando as costas mais uma vez! Estou cansada de ficar sozinha para trás apenas com o meu desespero, rezando para que vocês voltem vivos!
— Eu me importo, Isabel! — ele também gritou para ela. — Eu me importo! — e dessa vez o braço dela não conseguiu fugir. — Mas por favor, não me peça para ficar, Bel.
Isabel não esperava por isso. Eu sabia que ela amava o Natan? Sim. Isabel sabia que amava o Natan? Não.
— Está dizendo que...
— Eu vou ficar se você me pedir. — ele interrompeu. — Mas por favor, não me peça isso. — Natan suplicou. — Por que se acontecer alguma coisa com qualquer um deles eu vou passar o resto da vida me perguntando se o resultado seria diferente se eu estivesse lá.
Então ela desabou porque aquela raiva toda não passava de fachada. Isabel soluçou no peito dele segurando com tanta força a sua camisa que os nós dos dedos ficaram brancos.
Tentei reprimir o meu próprio choro, mas não consegui mais segurar.
— Carissimi. — Gael limpou o meu rosto, tentando controlar o meu desespero. — Impossível é só uma palavra. — ele gostava de repetir isso, mas não era bem assim. Pode até ser uma palavra, mas é uma muito poderosa. — A gente vai conseguir.
— Fala que eles vão ter a chance de construir um futuro. — pedi. Eu mesma já estava quase proibindo, não só o Natan, mas todo mundo de ir comigo para aquele penhasco. Isabel merecia uma chance de tentar.
— Eles vão. — Gael sorriu e de alguma forma, aquele verde acreditava nisso. — E nós ainda vamos ser padrinhos dos filhos endiabrados uns dos outros. E a Elisa vai ser a tia chata e solteirona que homem nenhum quis.
— Eu estou bem aqui do lado. — ela logo se pronunciou. — Ouvindo cada palavra.
O riso da gargalhada me fez sacudir. Se Gael acredita então talvez seja possível.
Olhei para trás e parece que outro caçador também era o consolo de outro alguém.
— Não me beija! — Isabel advertiu, fungando entre o riso e o choro, enquanto colocava alguma distância entre os dois corpos. — Você é o meu assunto inacabado.
— Odeio assuntos inacabados. — ele riu.
— O que significa que você tem o dever moral de terminá-lo. — ela sorriu de volta, embora estivesse chorando ainda mais. — Por favor, promete que vai voltar. — Isabel implorou com a voz e o olhar.
— Vai estar aqui esperando por mim? — Natan perguntou com o máximo de gentileza que conseguiu. Isabel não pôde responder e apenas afirmou com a cabeça. — Então é claro que eu vou voltar.
Reprimi a repulsiva sensação que me afogou ao ver a cena. Sempre que alguém nos filmes promete que vai voltar... acaba sem querer fazendo uma promessa vazia.
— Certo. — de olhos vermelhos e inchados, Isabel ajeitou a postura e puxou o cabelo para trás. — Mas eu não vou dizer que amo nenhum de vocês. — ela avisou para nós. — Isso pareceria muito uma despedida. E todos nós nos veremos em breve. Então... eu odeio vocês.
E todos nós rimos. Se não ia dizer eu te amo, dizia te odeio! Quase igual!
— E só para deixar avisado — ela acrescentou —, aquele que tiver a audácia de não voltar, já fique sabendo que vou ressuscitar o infeliz só para poder matá-lo pessoalmente!
— Também super te odeio! — Elisa não se conteve a lhe dar um beijo estalado na bochecha.
— Bel.
— Não, assunto inacabado. — Isabel puxou a mão da dele. — Agora não. Vai ter que voltar se quiser dizer seja lá o que for na minha cara.
E antes que ela caísse de novo no choro, Isabel se virou e foi para casa. Por um instante pensei que Natan fosse desistir, mas ele era disciplinado demais. Ainda assim, era visível que ele estava deixando o próprio coração para trás.
Assunto inacabado. Vamos torcer para que esses dois finalizem esse assunto em breve ;)
E é isso pessoal. Semana que vem tem mais em um lugar diferente e bem mais escuro.
Um monte de bjos e uma ótima semana para todos!
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Noite Sombria | 3
RomansaUma lembrança pode mudar tudo! Após enfrentar a morte de frente, Alma Ferraz desperta de um sono profundo sem as memórias de um reino de fantasia. Durante a rotina do dia-a-dia, o ballet profissional deixa cada vez mais perto, John, um antigo amigo...