— Por favor, Elisa! Não vou deixar você para trás!Uma luz forte inundou o ambiente e o chão tremeu. Já vi essa luz antes! O cajado do eremita! As bestas fugiram assustadas.
— As duas estão bem?! — Gael nos olhava com puro horror, temendo que fosse só um truque nos ver vivas.
— Vânia está morta. — disparei, tremendo. — A coisa estava comendo ela. — a adrenalina cedeu. Senti nas bochechas um molhado escorrer que me lembrou a baba no meu ombro. — Aí depois...
Gael me abraçou apertado e o choro aumentou. Quero ir para casa.
— Acho que temos companhia. — John sussurrou. — Outra vez!
As bestas começaram a formar um círculo à nossa volta, grasnando entre si suavemente.
— Afastem-se! — Selva rugiu o cajado.
O chão tremeu e a luz brilhou, só que dessa vez... os bichos deram um passo à frente.
— Mas que merda é essa?! — Natan cuspiu.
— Essa droga de cajado não está mais funcionando! — Ramon resmungou.
O nosso grupo começou a se apertar. Notei que eu sempre era colocada no centro, assim como o John, os objetivos máximos a serem protegidos. Não gostei de saber que a nossa vida valia mais do que a deles.
Não sei quem atirou primeiro, mas o barulho ficou ensurdecedor. Bestas atacando e morrendo. Nós, presos e encurralados ao centro.
De repente, as criaturas pararam. Gemendo de cabeça baixa, encolhendo-se assustadas, recuando sem aviso. A figura de capuz apareceu. O riso na voz era audível.
— Nos encontramos outra vez. — o eremita anunciou.
— Você! — Elisa acusou. — É de você que eles têm medo, não do cajado!
— Devo parabenizá-la pelo raciocínio óbvio? — caçoou.
— O que quer de nós? — Natan perguntou.
— Por que acha que eu quero algo?
— Por que se era para virarmos comida, poderia ter nos deixado morrer na campina. — Selva segurava firmemente o cajado. — O que você quer?
— Um pouquinho de diversão?! Não temos muita por aqui. Gosto de aproveitar as oportunidades.
— Se não impedirmos a noite de acordar ela vai consumir tudo. — Selva falou. — Até o seu pequeno parque de diversões aqui em baixo. Tem que nos deixar ir.
— Eu não ligo. — o eremita deu de ombros, divertido. — Todo mundo tem que morrer um dia. Por que não hoje?
— P-por que não amanhã? — Ramon sugeriu.
Ao invés de responder ele passou a fitar Selva, com seu cajado na mão.
— Por que está resistindo, criatura bela? Sei que pode sentir o meu sangue correndo em você.
Ela apertou com mais força o cajado. A luz pulsou e ficou mais intensa.
— Nunca transformei uma criatura tão poderosa quanto você. Quanto mais resistir, mais poder estará lhe dando quando nascer. Será a minha obra prima.
— Do que ele está falando? — Natan olhou feio para a raposa.
Selva o ignorou.
— Estou ansioso para que se junte a mim! — Zain escarneceu. — Nunca pensei em criar uma adjutora. Especialmente uma tão bela! Mal pude acreditar nos meus olhos quando a vi.
— Miserável insolente. — a ruiva rugiu entredentes num ódio calmo e gélido.
— Mestra, do que ele está falando? — Ramon estava aflito e confuso.
— Como controla as bestas? — Selva perguntou e teve a perspicácia de ver o lampejo fugaz que foi lançado sobre a esfera brilhante. — Com isso?! — o semblante dela se iluminou. — Pergunto-me o que aconteceria se a esfera de poder se partisse?
— É só um objeto bonito. — o eremita estava inabalado. — Sou apreciador da beleza.
Não conseguiu enganá-la.
— Então não teria problema se...
— Não! — urgência e desespero.
A estrela cintilante parou a centímetros de se chocar com toda a força no chão.
— Não? — a voz da raposa escarnecia. — Talvez eu ache mais bonito desfeito em um milhão de partes!
— Dê para mim! — Zain exigiu.
— Ora, isso aqui? — ela quase o partiu de novo. Zain quase desfaleceu. — O que acontece se a obra prima decidir assumir o controle? — o cabelo dela começou a ondular, laranja e selvagem, como o próprio fogo indomado.
— Dê-me a luz!
— Eu fico com você. — Selva propôs. — Eles vão.
O semblante dela não era de derrota. Ela estava se voluntariando para ficar? Sozinha?! Selva fazia aquela cara de serpente prestes a dar o bote.
— Sabe que não pode resistir por muito mais tempo. — ele já tinha aceitado a barganha.
— Sei.
— Então eles podem ir.
Mais essa agora! Fomos enganados com esse cajado!
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Noite Sombria | 3
Roman d'amourUma lembrança pode mudar tudo! Após enfrentar a morte de frente, Alma Ferraz desperta de um sono profundo sem as memórias de um reino de fantasia. Durante a rotina do dia-a-dia, o ballet profissional deixa cada vez mais perto, John, um antigo amigo...