49 - Contaminação

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Chegamos ao outro lado da margem. Elisa tinha assumido a posse do cajado com a estrela e liderava. John gemia a cada passo.

Estávamos cansados. Bocejos longos eram cantados com cada vez mais frequência. Gael cochichou alguma coisa no ouvido da líder. A moça fez uma leve careta e olhou o grupo atrás de si.

— Tudo bem. Vamos parar um pouco. — Elisa anunciou.

— As minhas preces foram ouvidas. — John se sentou automaticamente.

— Como está se sentindo? — a botânica analisou o ferimento do rapaz.

— Um caco. — resmungou. — Mas vou ficar melhor depois que o meu estômago estiver cheio e eu puder dormir uma semana inteira, direto!

— Concordo. — Ramon sentou-se ao lado dele. — Não consigo decidir se estou com mais fome ou sono.

Armamos nossos abrigos, o cajado foi espetado ao centro do círculo. Eu também estava faminta e nem tinha percebido isso até colocar a primeira colherada na boca.

— A gente devia estar comendo isso? — Natan analisou o seu próprio enlatado depois de já ter mandado metade para dentro.

Todos nós paramos, o raciocínio despertado por aquelas palavras. Mas era um pouco tarde para isso.

— Acha que a contaminação veio daqui? — Vânia perguntou.

— Não sei, mas foi aquela coisa que nos deu isso, por si só já não é confiável. — respondeu.

— Eu não quero morrer! — Ramon levou a mão ao peito.

— Ramon! — Gael começou a implicar. — O seu cabelo... já começou a cair!

— Não! — os dedos voaram para a própria cabeça.

— Olha as suas costas! — Elisa deu mais corda.

— O que?! — os olhos arregalados, saltando em desespero.

Uma parte de mim ficou com dó. Ele estava mesmo acreditando.

— Acho que também peguei! — a botânica virou a cabeça para esconder o riso. — Preciso fazer xixi antes que a transformação acabe! — ela se levantou e saiu.

— Pobre Vânia. — Ramon falou cheio de pesar.

— Não está sentindo os espinhos nascerem nas suas costas, Ramon? — a loura zombava. — Já consigo vê-los apontando!

— Estou sentindo as minhas costas formigarem! Já estou me transformando! Acho que vou desmaiar. — ele cambaleou, branco, e caiu em cima dela.

— Não pode desmaiar em outro lugar?! — o humor da Elisa foi embora. — Tem que ser em cima de mim?!

— Se eu tenho que morrer... — o aprendiz deu uma tossida engasgada. — então que seja pelas suas mãos, senhorita. Dona do perfume mais maravilhoso de todo o mundo!

— Quanto drama! — Selva revirou os olhos.

— Não começa! — Elisa ameaçou o rapaz jogado no colo dela.

— Mate-me, senhorita. — Ramon ofegava, já quase moribundo. — Mate-me antes que eu me transforme naquela besta devoradora de gente.

Era tudo o que o Natan queria. Ele riu descontroladamente, histérico. O deboche escorrendo junto com as lágrimas.

— Não me faça propostas irrecusáveis, Ramon. — Elisa o empurrou para longe. — Sai de cima de mim!

— Mas senhorita...

— Não seja ridículo! Não está acontecendo nada com você! — ela rebateu. — Você está tão normal quanto tem a capacidade de ser!

— Sério?! Mas eu senti... Ora, não teve graça! — ele ficou bravo, aí todo mundo riu da cara dele. — Não se brinca com essas coisas!

Mate-me, senhorita! Mate-me de amor! Quero me afogar no seu perfume maravilhoso! — Natan escarneceu sem nenhum pudor fazendo uma vozinha fina. — Ah, não, meu belo príncipe! Vamos nos afogar juntos nessa poça romântica!

— Cala. Essa. Boca! — Elisa batia nele bufando de raiva. Acertou um belo chute na canela que o fez soltar um uivo.

— Sabe porque tanta agressividade, Ramon? — ele continuou. — Talvez Elisa seja parente da viúva negra. Depois do acasalamen...

— Cala a boca! — ela bateu com força nele dessa vez.

— Mas o coitado precisa ao menos ser avisado, priminha. — o caçador debochava, nenhum pouco abalado.

Elisa estava vermelha em ponto de pegar fogo.

— Tá bom, já chega vocês dois. — Gael entrou no meio. — Estamos fazendo muito barulho. Vamos dormir que é o melhor que fazemos.

O grupo se dispersou para os abrigos. Natan faria o primeiro turno de vigília.

— Não vai dormir? — perguntei à ruiva que permaneceu imóvel. Os olhos estavam vermelhos de sono.

— Vou sobreviver. — respondeu. Não gostei dessa resposta. O que a raposa estava aprontando? — Vou fazer companhia ao caçador.

— Tem alguma coisa errada? — toquei o braço dela e me surpreendi. Estava mais frio que o normal e... suado.

— Selva? — Gael perguntou atrás de mim.

Ela fechou os olhos e respirou fundo.

— Estou doente.

Vishiiii ai ai ai

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Vishiiii ai ai ai

Nos vemos semana que vem?

Bjos!

Noite Sombria | 3Onde histórias criam vida. Descubra agora