9 - Ouro branco e diamante negro

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A luz refletiu na joia que eu analisava na palma da mão. Era preto como o John disse, mas definitivamente não era carvão. Não era mesmo!

A pulseira era toda bordada em fios de ouro branco e pedras escuras, o que só realçava o contraste entre os materiais. Tão delicada, e ao mesmo tempo, tão imponente. Era quase difícil parar de olhar para o objeto, ele puxava o olhar com um incrível magnetismo. Aquele efeito jamais teria sido alcançado se os diamantes fossem brancos.

— É a coisa mais linda que já vi na vida. — balbuciei. Exótica, irreverente, quase... irreal. — Isso é diamante negro? — ergui os olhos para a minha mãe.

— Fantásticos, não? — ela concordou sorrindo.

Fantástico. Essa era a palavra que eu estava buscando. Fantástico. Aquela joia tinha mesmo algo de fantasia em sua essência.

— Quem me deu isso de verdade, mãe? — sem chance do meu pai ter comprado aquilo para mim, a gente não tinha dinheiro para esse tipo de coisa. — Por que você estaria escondendo de mim um presente que foram vocês que me deram? Não faz nenhum sentido.

A minha mãe fez cara de culpa e parou de dobras as roupas limpas.

— Eu guardei depois que você... no hospital... — ela engoliu em seco com a dor da lembrança. — Enfim! — ela suspirou com um sorriso, afastando a tristeza. — Tudo ficou bem depois e eu acabei me esquecendo de te devolver. Foi isso. — um punhado de roupas dobradas foi posta nas minhas mãos, prontinhas para voltar ao meu guarda-roupa.

Encarei a dona Camila bem no fundo dos olhos só para ela saber que eu não acreditava em uma única palavra daquilo.

— Você guardou de propósito. E escondeu de mim de propósito. Por que?

— Por que você ia devolver assim que soubesse.

— Está mentindo para mim por causa dele?! — tinha que ser! Por que Gael Ávila estava sempre no meio das confusões?! — Então você o está protegendo? E... acobertando!

— Se eu dissesse que era dele, você ia correndo devolver!

— Mas é óbvio!

— Querida, ele só não queria que você devolvesse o presente dele. Eu sabia que você não ia acreditar que tinha sido do seu pai, mas achei que talvez estivesse pronta mais para a frente. Eu ia te devolver.

— Mas só quando eu fosse capaz de aceitar algo assim do Gael. — acusei.

— Sim! — ela respondeu com confiança, reafirmando o seu ponto-de-vista. — Você pode não amar mais aquele garoto, mas não significa que não possa guardar uma recordação dele.

— Eu não me sinto bem guardando isso.

— Ótimo! — ela ironizou. — Então vá lá jogar na cara dele e fazê-lo sofrer um pouco mais.

— Você é minha mãe, devia se importar mais com o que eu sinto.

— Eu amo você, Alma, mais do que tudo nessa vida. E é exatamente por isso, que tenho uma dívida com aquele rapaz. Uma dívida que jamais poderei pagar. Ele me pediu uma coisa bem simples, eu fiz, e faria de novo.

Ela deu o assunto por encerrado, e quando era assim, não adiantava insistir. Então fui para o meu quarto guardar o monte de roupas que segurava na mão.

Mas usar algo assim dele... não parecia certo. A pulseira só faltava falar: compromisso! Isso me faria sentir conectada a ele.

— Não... não me leve a mal... — o vizinho não estava olhando para mim, mas encarando a caixa de veludo que eu estendia em sua direção. — Eu apenas... não me sinto bem com isso. — disse à porta do apartamento ao lado. — É um presente muito caro. — que expressava sentimentos que eu não era capaz de corresponder.

— Você não tem que usar. — ele levantou os olhos para mim.

— Eu sei, eu... — por favor, não olha assim para mim assim. — Não estou tentando te machucar, essa não é a minha intenção. Eu só não me sinto bem aceitando algo assim.

— O problema não é a joia. — ele retrucou. — Você não se sente bem aceitando algo que venha de mim.

Minha respiração deu uma falhada. Mas que merda. Eu era assim tão transparente ou ele sabia me ler bem demais?

— Eu não quero de volta. — acrescentou. Uma resposta com resolução. — Se você também não quer é problema seu.

— E o que espera que eu faça com isso?!

— Eu não sei! Use, guarde, jogue fora, dê para uma amiga, venda ou doe para a caridade. Você tem um monte de opções. Faça o que quiser com isso, é sua. Foi feita para você sob medida. Eu queria que você tivesse algo meu, mas se não consegue mesmo ficar perto de nada que te lembre de mim... — os olhos dele eram carregados de uma acusação velada. — Coloca a pulseira junto com todas as coisas boas que um dia já sentiu por mim: Joga no lixo!

Eu não joguei fora o que sentia por ele! Eu esqueci um ano e meio da minha vida! É tão difícil assim entender isso?!

— Seria mais fácil você não ser um cara teimoso e aceitar a joia de volta! — voltei a oferecer o objeto recluso no veludo macio.

Ele me provocou com um desafio:

— Não!

— Você pode... — ai! Suspirei com irritação. — Eu não quero discutir com você. Só pega a caixa de volta, tá bom?

— Você não pode esquecê-la no fundo de uma gaveta qualquer? — sugeriu sem nenhuma maldade, mas aquilo me atingiu em cheio.

— Não me peça para esquecer! — eu quase gritei e avancei um passo, ele recuou com o repentino ataque. — Eu já esqueci coisas demais! Mais de um ano, para ser mais clara! Então não me peça para esquecer mais nada! — puxei o braço dele e coloquei a caixa de veludo em sua mão, depois saí.

Mas a meio caminho de casa, algo me veio à lembrança.

— Ah! — dei meia volta no corredor. O vizinho continuava parado à entrada da sua porta. — Só mais uma coisa: nunca mais peça à minha mãe para mentir para mim por sua causa.

E dessa vez ele não se intimidou com o confronto e não me deixou colocá-lo em seu devido lugar, porque o fogo... o fogo não morre com a raiva da provocação, ele se alimenta dela e cresce.

Antes que eu pudesse lhe dar novamente as costas e me afastar, o rapaz me segurou pelo pulso e se inclinou para deixar o espaço já pequeno, ainda menor entre nós.

— Eu não quero de volta. — que droga de verde lindo! Ninguém devia ter olhos com pontos de luz do sol. — Não me faça invadir o seu quarto de madrugada para colocar isso no lugar de onde nunca deveria ter saído. — ele estava rindo, aquele tipo de riso rasgado, provocante, debochado e convencido.

Eu me afastei tentando controlar aquela súbita agitação estranha no estômago. Olhei o objeto na mão dele que continuava estendido na minha direção. Eu não ia pegar mesmo!

— Eu adoraria ver isso! — caçoei. — Moro no terceiro andar, você precisaria de asas para alcançar a minha janela! — dei as costas me sentindo estranha, vitoriosa, uma parte de mim quase eufórica.

Já o vizinho... ele ficou com a caixa de joia na mão, me olhando como quem tinha acabado de aceitar um desafio. Boa sorte com isso, Gael ávila!

Desafiou o bofe! Ninguém duvida do resultado disso!

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Desafiou o bofe! Ninguém duvida do resultado disso!

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