Capítulo 4

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  Depois de buscar os filhos na casa de Breno, Paula teve a conversa que guardou por um mês com Luiza. A morena deu um grande sermão em sua filha e foi tão sério que acabou com as duas em lágrimas, mas não por terem brigado e sim de decepção de um lado e arrependimento do outro.

  Luiza estava em seu quarto ainda chorando, já havia se passado horas depois da conversa com a mãe, mas sempre que lembrava das palavras começava a chorar.

  - Louis!- Pablo chamou batendo na porta.

  - Eu não quero falar com ninguém!- a menina soluçava.

  - Abre pra mim, vai!- ele insistiu.

  Luiza se fez um pouco de difícil e então foi abrir a porta para o irmão que já entrou a abraçando.

  - Não fica assim- ela chorou mais ainda ao sentir os braços do irmão- Ela só falou a verdade, né?- Pablo não havia ouvido a conversa, mas sabia que a mãe, nesses momentos, só falava a realidade.

  - Sim- ela iria continuar, mas foi interrompida pelo choro.

  - Se acalma- os dois deitaram na cama da menina enquanto Pablo acariciava os cabelos claros da irmã- Consegue falar agora?- perguntou quando Luiza se acalmou.

  - Ela sempre fala a verdade, mas é difícil aceitar que estamos errados.

  - O que ela falou?

  - Não importa o que foi dito, o que importa é que ela está certíssima. Você não imagina o quão agradecida eu to de ela não ter cancelado nossa festa- Luiza disse para o irmão.

  Paula havia dado a opção para eles de festejarem os 15 anos e cada um ganhar um carro aos 18, ou apenas fazer uma grande festa aos 18, e eles optaram pela primeira opção.

  - Ainda bem, imagina perder o carro de 18- Pablo estava tentando animar a irmã.

  - Por que eu tenho que ser tão mimada assim?- ela questionou o irmão.

  Mesmo sabendo que estava errada, Luiza ainda sentia que a mãe havia exagerado um pouco, mas não falaria nada ao irmão.

  - É culpa do pai- ele afirmou.

  - Tudo seria mais fácil se só ele tivesse a nossa guarda- no momento em que Luzia falou isso, Paula estava chegando no quarto para pedir desculpas a filha pela forma que havia falado e sentiu seu coração se apertar e partir em pedacinhos.

  - Não fala isso nem brincando!- Pablo repreendeu a irmã- A mãe pode ter todos os defeitos do mundo, mas ninguém pode dizer que ela é uma mãe ruim.

  Os olhos de Paula se encheram de lágrimas e ela voltou para o seu quarto.

  - Eu só queria abraçar o pai agora- a jovem falou e nesse exato momento o seu celular tocou e o nome de seu pai estava no identificador- Oi, pai!

  - Oi, meu amor, que voz é essa?- perguntou reparando que a voz de Luiza estava diferente- Você estava chorando?

  - É, a mãe conversou comigo sobre o negócio da escola.

  - Ela não havia esquecido?

  - Esqueceu que ela tem ótima memória? Principalmente pra essas coisas.

  - Passa o telefone pra sua mãe que eu quero ter uma conversa séria com ela- Breno pediu para Luiza.

  - Não precisa, pai, ela não falou nada que não fosse o correto- se desesperou ao ver o tom raivoso de voz de seu pai.

  - Luiza, passa agora!

  - Não!- desligou o celular rapidamente.

  - Merda!- Breno gritou vendo que a chamada havia sido encerrada.

  Ele foi até seus contratos e, quando achou um que dizia "Diabo da Tasmânia", ele clicou e ficou esperando até que fosse atendido.

  - Alô?- ele estava tão bravo que nem reparou a voz chorosa no outro lado da linha.

  - Posso saber o que você tá pensando da sua vida? Por que exatamente você acha que pode fazer minha filha chorar a hora que você bem entender? Paula, ela é uma adolescente! Adolescentes fazem essas coisas, ou você esqueceu tudo que você aprontou quando tinha a idade dela? Esqueceu do dia que saiu fugida da casa dos seus pais de madrugada e foi passar a noite comigo? Você nunca foi santa! Não tente cobrar da minha filha uma coisa que você nunca foi capaz de ser!- quando terminou de despejar seu ódio, esperou pelas ásperas e rápidas palavras que a morena sempre disparava, mas apenas pode ouvir a respiração falhada- Paula?

  - Olha, Breno, eu não to no clima nem de discutir com você, por favor, esquece que eu existo- ao terminar a frase, Paula desligou o celular.

  Breno ficou confuso olhando para a tela preta de seu celular. Ele reparou que havia algo estranho na voz da mãe de seus filhos, algo que ele nunca havia visto, parecia até que estava chorando, mas isso era impossível, não havia coração mais duro do que o de Paula Carolina aos olhos de Breno, ele achava que a morena não tinha capacidade de derramar sequer uma lágrima então resolveu deixar para lá e seguir trabalhando.

  - Mamãe?- Gabriel entrou de fininho no quarto de Paula.

  - Oi, meu amor- ela limpou as lágrimas rapidamente.

  - Você tá chorando?- ele perguntou quando subiu em sua cama e olhou nos olhos da mãe.

  Paula não conseguiu mentir para o filho e nem conter o choro desesperado que veio em seguida.

  - Não chora, mamãe!- ele abraçou o pescoço da mulher e ficou fazendo carinho no cabelo dela exatamente como seu pai fazia.

  - Eu te amo, meu pequeno- ela sussurrou para o menino.

  - Eu te amo muito, mamãe- Gabriel fez a mãe deitar e se aninhou em seu corpo- Eu posso dormir com você hoje?

  - Claro que pode- ela pôs a mão no cabelo do menino e iniciou um carinho- Vamos dormir que a mamãe já tá com um pouco de dor de cabeça.

  - Boa noite, mamãe, eu não sei o porquê do seu choro, mas eu juro que te amo- ele apertou o corpo no de Paula.

  - Eu também te amo- ela derramou mais algumas lágrimas até que acabou dormindo com o pequeno.

  - Cadê a mãe?- Luiza e Pablo desceram as escadas e estranharam o silêncio da casa. Eram apenas 20:30 da noite e Gabriel e Paula haviam sumido.

  - Ela deve tá com o Gabriel, a conversa não deve ter sido fácil pra ela também- Pablo disse.

  - Desde a morte do Joaquim que eu não vejo ela chorar como na conversa- relatou para o irmão.

  - Ela te ama, Louis, logo vocês estão bem de novo.

  Os irmão jantaram o que havia sobrado do almoço de Paula e Gabriel e então foram até o quarto da mãe vendo ela dormir abraçada com o irmão pequeno e com o rosto inchado revelando a choradeira.

  - Ela ficou um bom tempo chorando mesmo- Pablo observava os dois.

  - Por minha culpa- a menina decidiu em sua mente que dali em diante daria apenas orgulho para a mãe pois nunca mais queria a ver daquela maneira que a vira durante a conversa que tiveram.

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