Medicina XVI

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Querida mãe minha, preciso lhe confessar algo
Agora, que os meus olhos estão brilhando mais que a lua
Tão vermelhos quanto sangue
Sardas abaixo dos cílios
Agora, que minhas mão estão marcadas de tanto esconderem esses meus olhos
Minhas unhas ruídas de tanto baterem contra o nada
Para calar o som dos meus soluços
Não há remédio que alivie a dor
Que pulsa nas veias da minha cabeça
O choro não me dá paz
Não me lava - me suja mais
A vontade é de gritar que pra mim já deu
E que já chega
Mas quando a senhora, querida e amada mãe minha, abre a minha porta
E se eu não insistir em reabri-la centenas de vezes
Ela só se fechará por completo em semanas, talvez meses
Você tira a casquinha da ferida quando ela está perto de cicatrizar
Você me castiga mesmo quando não fiz nenhum mal
A verdade, mãe minha, é que não sei se temo mais não ter o amor de um homem ou o seu
A verdade é que escolho dentre duas coisas
Mesmo sabendo que nenhuma das suas terei
A pior das verdades, agora que o dia amanhece, é que quero deitar e dormir
Enquanto eles acham que estou dormindo demais por preguiça
Quem sabe até é princípio de depressão
Vai saber?
Eu só sei que olhar nos seus olhos
Sentir as suas mãos
Ouvir a sua voz
E dizer adeus
É muito cruel

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28/01/2019

06:05 a.m.

Polliana Oliveira

Prelúdios de uma poeta livre IIOnde histórias criam vida. Descubra agora