Prólogo.

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08 anos antes...

O dia estava insuportável de tão quente. Mas, nada era comparado a raiva que eu sentia ao ver as caixas da mudança espalhadas pelo chão do meu quarto.

De nada adiantava todas os meus pertences empacotados se o que era mais importante não poderia ser levado na mala. Desde que eu me entendo por gente, eu sempre estudei com as mesmas pessoas na escola pública do meu bairro, eu tinha laços nessa cidade e agora eu tinha que corta-los e substituir Santos por São Paulo.

Chutei uma das caixas e a dor que se instaurou nos meus dedos me deu o gostinho do arrependimento. A caixa cheia dos meus livros não tinha culpa de nada. Meu humor estava terrivelmente péssimo porque, além dos meus amigos, eu deixaria aqui o mais importante deles: Ruan Marques.

Era só amizade no começo, amizade verdadeira. Até que uns seis meses atrás em uma brincadeira de verdade e desafio ele confessou que gostava de mim e eu fui desafiada a beija-lo. Desde então, estamos juntos.

Como sua mãe trabalhou um período na lanchonete da minha mãe quando eu e Ruan ainda éramos crianças, ele sempre veio me buscar para irmos a escola juntos. Depois do namoro, essa rotina permaneceu e agora isso mudaria porque estaríamos a quilometros de distância.

Além disso, ele havia concluído o ensino médio esse ano assim como o meu irmão Leandro e eu ainda iria para o meu último ano. Eu sabia que sua mãe não tinha condições de bancar sua moradia em São Paulo para que ele fizesse a faculdade e estivesse mais próximo de mim, mas eu ainda tinha esperanças.

Sem falar que antes de nós começarmos a namorar, Ruan era um tremendo mulherengo que, junto com Leandro que também era seu amigo, viviam tirando casquinha das patricinhas do colégio. Eu ficava muito incomodada mas não achava que era ciúmes. Deixa-lo aqui era como sair e deixar a porta aberta para um monte de piranhas, afinal, meu namorado é lindo e não digo isso porque estou terrivelmente apaixonada.

Ruan é mais alto que eu, corpo moreno e cabelos cabelos castanhos. Ainda é magro, mas nos seus 18 anos seu corpo está começando a mudar deixando-o mais homem. E eu estou amando acompanhar isso. Confesso: sou muito ciumenta. Isso porque eu não confio em mim mesma.

Apesar do Ruan me dizer o quanto eu sou linda, quando eu me olho no espelho vejo apenas uma menina de quase 17 anos que tem os quadris mais avantajados que das outras garotas da minha idade, seios pequenos, espinhas no rosto e pele demais clara.

Meu irmão costumava zoar comigo dizendo que eu só tinha dois tons de pele: transparente ou vermelha; isso porque ele teve a sorte de ter o mesmo bronzeado do meu pai. Já eu puxei a minha mãe, loira, branca demais e olhos verdes. Só que minha mãe é linda...

Eu sentia que iria perder tudo isso que construi aqui. Eu não tinha muita fé em namoro a distância, mas eu precisava acreditar. Semana passada eu caí na besteira de propor ao Ruan que terminássemos definitivamente e sua expressão de dor quebrou meu coração. Eu pedi desculpas e disse que era apenas uma proposta, mas ele ficou visivelmente sentido com isso. No entanto, tudo terminou bem e ele fez eu prometer que eu nunca pensasse em abandona-lo e que ele daria um jeito de fazer a gente funcionar.

Ontem a noite, em clima de despedida, me arrisquei a ficar com ele até um pouco mais tarde em sua casa. Fizemos amor pela primeira vez depois dele prometer que nunca me machucaria e que estaríamos longe apenas por uns meses. Foi incrível. Eu pensava que Ruan não poderia me dar mais carinho, mas ontem ele se superou. Foi muito cuidadoso e me deixou super a vontade falando de cada detalhe que ele achava lindo em mim além do prazer inexplicável que ele me proporcionou.

_Luísa Lincoln, o café está esfriando._ a voz doce da minha mãe não denunciava seu estresse, mas o pronunciamento do meu sobrenome sim. Ela só falava assim quando estava impaciente.

_Já vou mãe, estou terminando aqui._ na verdade, eu tinha voltado para a cama depois de empacotar os últimos livros.

Levantei-me preguiçosamente e fui me arrastando para a cozinha. Sentei-me a mesa e servi um pouco de suco de laranja com algumas torradas. Eu odiava tomar café da manhã, mas minha mãe era insistente.

_Você precisa comer, Luísa. Depois vai cair de fraqueza_ ela passou as pontas dos dedos na têmpora e respirou fundo, mas olhou amorosamente para mim._ seu pai já saiu, nós queríamos te contar uma novidade, mas você demorou no quarto.

_Estou ouvindo._ eu disse desinteressada.

_Tudo bem. Você ficará com sua avó por dois meses até ela se mudar para São Paulo também.

Não pude conter meu grito de alegria. No fim, eu teria mais tempo para ficar com Ruan e minha empolgação resultou em um abraço apertado na minha mãe.

_Srª Letícia e Sr Paulo, Eu. Amo. Vocês._ eu disse devagar cada palavra.

_Maaas..._ eu sabia que tinha uma condição_ você será responsável por ajudar sua avó com a mudança dela.

_Perfeito, mamãe. Eu faço. Agora preciso ir.

Dei um beijo em seu rosto e saí correndo para contar a novidade ao Ruan. Nós teríamos mais dois meses para achar uma solução para nossa distância.

_ Bom dia, tia Carla._ cumprimentei a mãe de Ruan ao entrar na sua pequena casa.

_Oi, minha filha, pensei que você tivesse dormido aqui._ estranhei, ela sabia que meus pais eram muito rígidos e não deixariam isso acontecer.

_Acho que quando eu fui para casa você já estava dormindo_ ela ficou pensativa, mas concordou._ Ruan está?

_Ah, sim! Ele está no quarto_ ela disse apontando para a escada de madeira envelhecida que dava acesso aos quartos da casa._ Vão fazer a mudança hoje?

_Só meus pais._ respondi enquanto subia a escada segurando a vontade de pular de dois em dois degraus.

Ao chegar na porta do quarto de Ruan, escutei o barulho do chuveiro do seu quarto. Ele estava no banho e eu o faria uma surpresa.

Ao abrir a porta do seu quarto, uma garota de longos cabelos pretos estava dormindo na sua cama. Eu nunca tinha visto ela, mas sabia o que tinha se passado.

Paralisei na porta encarando-a sem dizer uma palavra. A minha cabeça estava uma confusão. Como ele pode ter feito isso comigo depois de tanta promessa, depois de eu ter me entregado completamente a ele. Ele não esperou nenhum dia para colocar outra em sua cama ou será que ele sempre fez isso?

Eu queria acorda-la puxando-a pelos cabelos só para o Ruan sair do banho com a confusão. Meu alvo era ele. Eu queria fazer ele sentir toda a dor que eu estava sentindo naquele momento.

Mas, ao invés disso, eu apenas tranquei a porta e saí correndo para fora da casa. Ela dormiu com ele assim que eu fui embora, por isso, a mãe dele pensava que era eu quem estava no quarto dele.

Sem dizer uma palavra, passei pela tia Carla e nem escutei o que ela falou para mim. Apenas segui firme para casa com o coração doendo, quebrado.

Quando cheguei em casa, minha mãe viu meu estado e veio correndo saber o que tinha acontecido. De início, eu apenas desabei em seus braços deixando que as lágrimas lavassem meu rosto. Depois, eu contei a ela o que tinha acontecido.

_Deixe Leandro com a minha avó, mãe. Eu estou pronta para ir com vocês.

_ Oh, meu bebê. Eu sei que é difícil, mas você precisa conversar com e...

_Sem "mas" mãe. Essa é a minha decisão. Eu não quero olhar para ele nunca mais, entendeu? E, por todo amor que você tem pelos seus dois filhos, esqueça isso tudo. Vai ser como se ele nunca tivesse existido para mim.

_Saímos daqui a pouco_ minha mãe disse concordando e deixou um beijo em meus cabelos.

Ruan me usou e não merecia ver nenhuma lágrima derramada em meu rosto por ele. Eu iria embora como se eu nunca o tivesse conhecido.

DE VOLTA PARA MIM. (CONCLUÍDO) Onde histórias criam vida. Descubra agora