31.

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Acordei dentro de um lugar estranho. Era um pequeno quarto mal iluminado e quente, tinha uma mala em cima da pequena cama de colchão duro junto comigo. Tentei sentar, mas minha mão estava amarrada na lateral da cama e vi Vicente falando no celular.

_Quero que faça hoje... Isso... Tem que ser o mais rápido possível... Eu não vou esperar demais pois eu ja peguei o que é meu... Pretendo ir para longe então se quer o dinheiro faça o que combinamos... Só quero que execute um... Isso mesmo... Rápido, eu não tenho tanto tempo.

Ele desligou a chamada e meu coração estava para sair pela boca, tentei soltar minha mão mas foi sem sucesso. Vicente virou para mim e me encarou com seus olhos azuis.

Sua fisionomia estava diferente eu mal o reconheci. Os cabelos estavam ainda maiores e a barba estava grande demais dando a ele um aspecto sujo.

_Ah, minha Luísa, você acordou._ ele me deu um sorriso que o deixou parecendo um louco. Era isso que ele parecia mesmo: um louco, um sádico pronto para fazer uma loucura.

_Vicente, me tira daqui, por favor._ pedi com a voz mais calma que pude. Ele demorou olhando para a corda que prendia minha mão direita e deu um sorriso que não chegou aos olhos.

_Eu até poderia, mas melhor não._ ele disse por fim esvaindo qualquer esperança minha de conseguir ficar livre para fugir._ Machuca?_ acenei com a cabeça que sim. Ele correu para o meu lado e quando eu pensei que ele iria desamarrar, ele começou a beijar o meu braço e eu fiz uma careta com o toque dele. Logo em seguida, ele apertou ainda mais a corda no meu pulso e eu dei um grito.

_Para Vicente, está machucando.

_Está doendo? Não está. Isso não se compara ao que você fez comigo, Luísa. Você me trocou por aquele advogadozinho sem sal e não se importou se eu ia ficar machucado._ ele falou cada palavra no meu ouvido e eu fechei os olhos quando ele deu um beijo molhado em meu rosto.

_Vicente, nós não tínhamos nada há um bom tempo. Até o nosso noivado era de mentira. Por que você está fazendo tudo isso?_ me forcei a olhar nos olhos dele para falar.

_De mentira, Luísa? Eu não via assim. Eu noivei com você porque eu queria casar com você. Para mim, nunca foi uma mentira._ ele falou com uma expressão triste que logo foi tomada pela raiva._ Você nunca levou a sério o que eu falava.

_Você tinha seus relacionamentos enquanto brincávamos de ser noivo para a mídia, Vicente. Não lembra que combinamos isso? Nós éramos apenas amigos...

_NÃO._ ele gritou fazendo eu parar de falar._Eu pretendia casar com você depois de tudo. Eu ia cuidar de você, dar carinho... Então, chegou o outro e você foi correndo para ele.

Vicente saiu do meu lado e andou pelo pequeno quarto.

_ Me escuta, por favor. Me tira daqui, me solta, me liberta. Deixa eu voltar para casa, eu te peço. Eu juro que vou esquecer tudo isso e que vou perdoar, assim você volta para o seu emprego e pode seguir sua vida feliz com alguém que te ame de verdade.

_Sem chances. Eu já planejei tudo. Nós vamos começar nossa vida em outro lugar, meu benzinho, com outros nomes e em outro país. Só eu e você, sem ninguém para nos importunar.

_Nunca vão deixar você me levar._ falei entre os dentes cansada de ser doce com ele.

_Está falando do seu precioso Ruan? Morto. Não. Salva. Donzelas._ fiquei em pânico lembrando das palavras dele no celular com alguém. Ele ia mandar matar o Ruan. Não é possível._Ah! Está com medo? Não fique. Eu prometo que vou fazer você esquecer dele.

_Seu imbecil. Maluco. Eu odeio você. Por que não mata a mim? Eu nunca vou ser tua, então mata a mim._ gritei para ele e ele passou as mãos nos cabelos em sinal de estresse.

_Eu já tive muitas oportunidades, então se isso estivesse nos meus planos eu já teria feito. Eu passei uma noite olhando seu sono em seu quarto, sabia?_ lembrei da noite que eu dormi mal porque eu tinha a sensação de estar sendo vigiada._ você virava de um lado para o outro na cama e em algumas vezes falava algumas coisas. Você precisava de um colo para dormir, eu poderia ter te dado o meu, mas você chamou pelo nome de outro. EU PODERIA TER TE MATADO NESSE DIA.

As lágrimas apenas desciam em meu rosto com medo do que pudesse está acontecendo com o Ruan ou que já tivesse acontecido.

_ Me diga, meu benzinho. Se eu matar você eu morro também e eu não acredito em vida depois da morte. Então, temos que aproveitar essa, não é mesmo? Quem vai morrer é aquele que poderia tirar você de mim, o resto nós vamos ajeitando.

_Eu juro que vou te mandar para o inferno na minha primeira oportunidade._ ele olhou para mim e fingiu um sorriso calmo.

_Olha aqui..._ ele me mostrou uma foto no celular dele e vi que era de Ruan e Clarisse no café que combinamos de nos encontrar._ ele está na mira e você não pode fazer nada por isso.

Ele saiu do quarto me deixando sozinha por um tempo e eu fiquei em agonia por não conseguir soltar meu braço.

As lágrimas escorriam pelo meu rosto e meu peito ficou apertado. Fechei os olhos e pedi a deus que ele protegesse o meu amor, eu não suportaria viver em um mundo que ele não estivesse.

Um tempo depois Vicente voltou para o quarto e eu resolvi lançar uma proposta para ele.

_Eu vou com você para onde quiser. Eu caso com você, eu digo que te amo, mas não faz nada disso, Vicente. Deixa o Ruan em paz e eu prometo que eu termino meu namoro com ele para casar com você._ eu seria capaz disso? Para salvar o Ruan, sim.

_Uma proposta tentadora._ ele sorriu como se estivesse zombando de mim._ se você já não fosse fazer isso do mesmo jeito só que da minha maneira. Você vai casar comigo. Você vai me amar. Apenas não vai ter seu namoradinho vivo, sabe por quê? Porque eu contratei um matador de aluguel para assassina-lo e ele já deve ter feito isso._ o celular de Vicente tocou e ele deu um sorriso largo._ Está vendo? Eu estava esperando tanto por essa ligação.

Vicente falou rápido sobre pagamento e mais algumas coisas e eu entrei em desespero. Ele tapou minha boca com a mão para que eu não gritasse enquanto ele falava. Eu queria xinga-lo, gritar até a dor do meu peito rasgar meu corpo e fazer eu morrer. Pelo que escutei, Ruan estava morto e não fazia sentido nenhum para mim continuar vivendo.

_Cala a boca!_ ele me acertou um tapa no rosto._ vamos viajar agora e eu vou ter que pagar pelo serviço bem feito do Nicolas.

Nicolas. Aquele nome vagou na minha mente e eu me recordei do cara que era amigo do Henrique, marido do Tadeu. Era ele o assassino contratado? Então eu não estava errada com minhas intuições. Eu deveria ter confiado mais em mim e talvez nada disso tivesse acontecido.

_Seu idiota. Imbecil. Assassino. Me mata, seu desgraça..._ ele colocou outro pano embebido num líquido e eu fui perdendo os sentidos.

_Dorme, meu benzinho... Vamos fazer uma longa viagem e eu preciso de você calada.

DE VOLTA PARA MIM. (CONCLUÍDO) Onde histórias criam vida. Descubra agora