02.

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Quando acabaram todo o discurso de inauguração, me virei para sair do palco o mais rápido possível. Mas, meu irmão logo interveio.

_Vamos cortar a faixa, maninha. Faço questão da sua presença._ eu dei um sorriso falso para ele, mas meu olhar estava lançando mil facas nele.

_ Segunda vou pedir demissão._ Ameacei.

Leandro sorriu se divertindo com a minha situação.

Evitei ao máximo olhar para Ruan, mas era inevitável que nossos olhares cruzassem as vezes. Quando ele olhava para mim, seu maxilar endurecia como se ele tivesse raiva.

Na hora das fotos, ignorei o pedido de Leandro para que eu ficasse e saí do palco. Eu precisava fugir dali o mais rápido possível e a ideia de pegar um táxi e ir para casa era irresistível. Mas, eu tinha que voltar para a festa porque lá havia muitos empresários importantes e era a minha chance de fazer contatos para quem sabe conseguir um trabalho numa agência de publicidade.

Quando eu estava no corredor que levava para o banheiro, uma mulher alta e ruiva que aparentava ter uns 40 anos passou por mim. O leve amassado no cabelo e o leve rubor do seu rosto diziam que ela acabou de trepar no banheiro.Eu sorri. Com certeza que essa mulher é casada e estava tento uma aventura extraconjugal no banheiro que nem uma adolescente em chamas.

Cheguei no banheiro feminino e peguei na maçaneta para abrir a porta, mas alguém fez isso antes me dando um susto.
Um Vicente com alguns fios do seu cabelo comprido grudados na testa e as roupas ainda desajeitadas surgiu na porta e me encarou pálido.

_Acho que errei de lugar._ ele falou sem graça.

_Nem precisa disfarçar, Vicente._ eu falei alterada.

_Sobre o que você está falando exatamente?_ ele fez uma cara fingida de não está entendo minha acusação.

_ A ruiva acabou de sair daqui e eu a vi, Vicente. Ah! Santo Deus!_ eu passei por ele indo até o espelho_ Não precisa me acompanhar o resto da festa. Amanhã precisamos conversar. Acho que essa nossa farça já deu o que tinha que dar.

_Luísa..._ ele pausou passando a mão nos cabelos_ eu sei que não sou o melhor noivo do mundo, mas eu amo você. Fiz uma careta com aquelas palavras.

_Nem começa, Vicente. Não quero me estressar agora porque preciso conhecer pessoas novas. Aliás, você também tem trabalho. Não estria aqui se não fosse para ter conteúdo para publicar segunda feira.

_Vamos conversar agora, Luísa. Por favor, não me deixe!_ ele pediu.

Terminei de passar o batom nos lábios e virei para ele encarando seus olhos azuis.

_Vicente, presta atenção: nós nem temos o que conversar. Já deu desse noivado sem graça. A midia ama um casal, mas também adora uma separação. Agora você pode arrumar uma noiva famosa._ eu passei por ele rumo a porta_ e nem precisa aparecer lá em casa, você não tem nada lá mesmo.

Saí do banheiro me sentindo mais leve. Acabar com aquela farça me deu ânimo para continuar na festa. Passei pelo garçon e peguei uma taça de champagne e virei de uma vez só na boca.

Andei um pouco pelo salão conversando com vários empresários, advogados e jornalistas. Recebi muitos elogios e estava sentindo que minha vida profissional começaria a dar certo.

Elisa estava com seu pai e chamou-se assim que me viu. Fui até eles feliz por, enfim, conhecer pessoalmente o famoso Chavier Albuquerque.

_Papai, essa é a Luísa, irmã de Leandro. Luísa, esse é o meu pai, Chavier Albuquerque.

O homem tinha cabelos grisalhos, olhos castanhos iguais o da filha e sua postura também passava aquela palavra forte PODER. Acho que isso era uma habilidade de família.
Ele olhou para mim e estendeu a mão.

_É um prazer conhecer a amiga de minha filha._ ele depositou um beijo na minha mãe_ fez um trabalho magnífico na divulgação da inauguração de hoje. O clima de mistério deixou os empresários e os jornalistas eufóricos.

_Obrigada, Sr Albuquerque. O prazer é todo meu em conhece-lo._ puxei devagar a mão que ele ainda segurava tomando cuidado para não parecer ofensiva._ E ouvir esse elogio vindo do senhor me deixa muito honrada.

_Apenas disse a verdade. E pode me chamar de Chavier. Não gosto de tantas formalidades.

_Como quiser._ eu disse sorrindo.

_Luísa, eu acabei de comprar uma linha de fabricas de bebida e tenho planos para ela. Você poderia passar na terça a tarde comigo no meu escritório?

A oportunidade de trabalhar na empresa do poderoso Albuquerque me deixou animada. Segurei a imagem plena para não sair dando pulinhos pelo salão, essa comemoração eu faria em casa.

_Claro! Não tenho nenhum compromisso na terça. Apenas algumas coisas aqui na LAM.

_Papai, vai querer roubar minha amiga daqui?_ Elisa falou sorrindo.

_Negócios são negócios, minha menina._ Chavier sorriu para a filha.

Conversamos mais um pouco e pude ver que aquela imagem de homem impiedoso que o Albuquerque passava era apenas uma capa. Perto da filha ele assumia outra posição, embora sempre falasse de negócios.

Avistei Leandro com meus pais e fui falar com eles. Eu ainda precisava por a limpo essa historia dele me esconder que o outro sócio era ninguém menos que Ruan, meu ex namorado de infância.

_Boa noite, família._ cumprimentei abraçando meus pais e beijando minha mãe e meu pai no rosto.

_Até que enfim veio falar conosco!_ minha mãe reclamou.

_Sem drama, Letícia. A menina estava cuidando do seu trabalho._ sorri para meu pai. Minha mãe é muito emotiva e sente muita necessidade da atenção dos filhos.

_ Eu sei, Carlos, estou apenas brincando._ ela apertou meu nariz com seus dedos. Ela sempre fazia isso quando eu era criança e nunca perdeu o costume.

Leandro só sorria e me encarava com uma cara cínica. Ele sabia que eu ainda iria sustar com ele.

_E por falar em trabalho... Eu preciso falar com você Leandro. Agora!_ eu disse criando ele com um olhar mortal.

_Sem essa maninha. Trabalho agora só segunda._ ele disse colocando a mão que não estava segurando o copo de whisky para cima.

Quando eu ia insistir em ter uma conversa com ele, uma voz grave e familiar me petrificou e Leandro me deu um sorriso perverso.

_Boa noite. Posso me juntar a vocês?_ Ruan se aproximou com uma mulher do seu lado.

Observei a mulher morena de cabelos pretos que iam em cachos ondulados até um pouco mais embaixo do ombro e a sua fisionomia me trouxe uma lembrança que fez meu coração doer e raiva subir fazendo minhas mãos tremerem. Era ela que estava na cama de Ruan no dia em que eu cheguei na casa dele para dizer que não iria me mudar com meus pais. Tive que me segurar para não sair correndo dali como a última vez.

DE VOLTA PARA MIM. (CONCLUÍDO) Onde histórias criam vida. Descubra agora