Prólogo

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A solidão, a raiva e a dor eram minhas companheiras. Todos me olhavam como o monstro que fui criado para ser, todos nós fomos. Os que não eram fortes o suficiente acabavam eliminados como pedras sem valor, criados em posso profundo de torturas, sangue e gritos. Estava tão acostumado, conformado de que nunca sairia daqui.  Não somos comos os outros ninguém nos quer libertos. Era apenas mais um dia normal quando ela entrou em minha cela, um anjo minúsculo com cabelos cacheados e vermelhos como sangue, o cheiro que vinha dela era doce e me lembrava uma fruta que eu tinha comido quando era criança, morango.

Nunca tinha visto ela na instalação, entrou sorrindo e aquele sorriso me desmanchou em milhões de pedaços, eu seria capaz de fazer qualquer coisa por ela, qualquer coisa para ver aquele sorriso e olhos azuis brilhantes. Em suas pequenas mãos ela trazia a bandeja com instrumentos médicos, colocou sobre a bancada ao meu lado e virou novamente para mim.

- Oi, 427. Tudo bem? Me chamo Cosima e serei sua nova enfermeira a partir de hoje. Preciso recolher um pouco de sangue, prometo não machuca-lo. - eu acreditei naquelas palavras, eu acreditei naquela voz doce e baiza que saiam dos seus lábios cheios. Ela falou a verdade, nem se quer senti a agulha penetrando em meu braço, diferente dos outros que não se importavam com minha dor. A fêmea retirou as luvas após concluir e passou seus dedos macios em meu braço como um carinho. - Está vendo, eu disse que não iria doer. Eu volto mais tarde para ver como você está.

Ela nunca mentia, Cosima sempre vinha quando dizia que iria vir, ela nunca me machucava, ela era a alegria dos meus dias. Poder vê-la era como estar livre, as vezes ela deixava que eu cheirasse seus cachos vermelhos quando estava nervoso, quando eles tinham me batido dizendo que ela nunca ficaria com um animal, que ela nunca me veria como alguém atraente. Eu apenas rosnava em resposta, não conhecia muitas palavras para revidar e dificilmente falava com alguém, mas depois daquele dia eu me vi treinando sozinho algumas palavras.

[···]

- Aqueles idiotas não te deixam em paz não é? Vou cuidar desses ferimentos. - ela se aproximou limpando o sangue, seu olhar era triste e eu não gostava de vê-la triste. - Aguente mais um pouco 427, vamos conseguir tirar você daqui. Nem que custe a minha vida. Tem muitas pessoas lá fora, pessoas boas esperando para te dar um lar de verdade.

Dessa vez eles tinham ido mais longe com as torturas, eu estava todo machucado, Cosima chorava ao me tocar e me senti um macho horrível por faze-la ficar dessa forma. Queria estender minhas mãos e segura-la em meus braços, mostrar o que sinto por ela e fazer com que se sinta segura.

- Você. É. Boa. - ela não pareceu se assustar com a minha voz mais parecida com um rosnado, mas seu corpo tremeu ao me ouvir. Ela enxugou as lágrimas e sorriu para mim.

- Acho que sim. Apesar das escolhas ruins, mas isso nos torna apenas pessoas não é? Independente das escolhas que tomamos, somos apenas pessoas afinal. - "somos" ela me incluiu, Cosima não me via como um animal mas sim como uma pessoa. - É por isso que vou tira-lo daqui, você precisa fazer suas próprias escolhas...

- Quando. Eu. Sair. Me. Ensina. A. Ser. Bom. Como. Você?  - ela me deu esperança que um dia eu poderia estar livre daqui, pela primeira vez sua mão acariciou meu rosto, ela ainda sorria.

- Você é tão bom quanto eu, mas prometo estar com você quando sair. - ela juntou tudo que tinha usado e saiu da cela devagar. Ela ficaria comigo. Minha fêmea. Era assim que eu a via, como minha.

[···]

Depois daquele dia Cosima não apareceu mais, a dor de ser enganado por uma humana foi muito forte, ela me deu esperanças e em seguida arrancou tudo que eu tinha. Os dias se passaram e outro técnico passou a retirar meu sangue, eu estava tão certo que tinha achado uma fêmea apenas para mim, fiquei tão perdido no seu cheiro e no seu sorriso.

Ela não veio, a liberdade não veio eu coninuavaa sendo o animal da Mercile. Estava pronto para o meu próximo oponente quando um vulto avermelhado é jogado dentro da cela, as costas tensionaram quando eu me virei devagar vendo Cosima machucada. Tinha sangue em seu rosto, suas roupas estavam rasgadas e tinha cheiro de machos humanos, sua pele branca e macia estava com manchas verdes e roxas. Eu queria protege-la mas a droga já estava em meu corpo, Cosima sentou com dificuldade e retirou os cabelos da frente do rosto. Ela podia gritar, correr ou se arrastar pela cela mas ela apenas sorriu, minhas garras afundaram em sua pele e meus dentes em seu ombro. Eu não tinha controle de mim, não queria machuca-la, ela sofreu por minha causa. O sangue em seu corpo estirado no chão sem vida seria meu pesadelo.

Rage - Novas Espécies [L6]Onde histórias criam vida. Descubra agora