Capítulo 30

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Encarei as chaves em minhas mãos e o volante em minha frente, depois da conversa com Lucca eu simplesmente sai correndo em direção a garagem, e aqui estou eu. Sentada no banconde couro do meu Mustang preto, encarando o nada e pensando milhões de coisas. Quantas vezes eu fugi na vida? Vivia fugindo de tudo, fugi dele, fugi de quem me amava, fugi da dor. Fugi de tudo. Quantas vezes entrei nesse carro e dirigi em alta velocidade pelas ruas molhadas apenas para fugir da realidade, porque eu sou fraca demais para encarar o mundo como ele é.

Me sentia aquela garotinha que pulou a janela, a mesma que via o pai alcoolizado e fugiu. Eu tinha badeado a minha vida em uma palavra, dizia que era forte mas não era, não tinha coragem ou força para fazer o que era preciso. Preferia levar um tiro ao ter que encarar a realidade. Uma negação. Que tipo de soldado sou eu? Tenho vergonha de mim mesmo, não foi para isso que eu sobrevivi todo esse tempo.

Precisava ter coragem, ter força. Não seria fácil mas se continusr fugindo onde vou parar? É como afundar com uma pedra amarrada ao pescoço, quanto mais fundo eu vou mais difícil é voltar a superfície. Não posso mais fugir, não posso fazer isso com eles, eu tinha que parar.

Abri a porta do carro e sai de dentro dele determinada a parar de fugir. Ao sair da garagem fiquei parada no meio da rua com as mãos nos bolsos da calça, chega de ser a garotinha assustada. Andei de volta ao hospital e acabei esbarrando com Trisha em um dos corredores.

- Fico feliz em saber que não foi embora. - ela sorriu, nem imagina que eu estou me forçando a continuar em pé. Se dependesse da minha covardia eu já estaria longe.

- É, não foi a coisa mais fácil que eu fiz. - resmunguei fitando a parede branca do lugar.

- As decisões mais importantes da nossa vida não são. Fique tranquila, vai perceber que foi a melhor coisa que já fez. Seu irmão vai ter alta amanhã, deveria ficar com ele. Breeze veio buscar Sky. - assenti empurrando a porta do quarto dele.

Lucca estava dormindo então abri a janela e fiquei ali sentada olhando as estrelas, gostava de passar horas assim as admirado. Sempre debaixo do mesmo céu, quão clichê isso pode ser?

- Sempre debaixo do mesmo céu. - sussurrou Lucca olhando para fora e sorrindo.

- Não queria te acordar, desculpe. - ele negou e estendeu a mão para que eu a pegasse.

- Fico feliz de ter ficado, você cresceu, Merida. - talvez sim, talvez eu só esteja mentindo para mim mesma. Mas o que importa é que eu estou cansada de fugir. - Chegou a hora de parar e aceitar os caminhos do coração.

- Você está assistindo novela de mais, Lucca. - ele deu de ombros ainda sorrindo para mim.

- A Sky adora, por falar nela... - eu já imaginei sua pergunta por isso logo respondi.

- Alguém chamada Breeze a levou para casa. Ela estava desesperada. - ele fechou os olhos com força e depois os abriu como um lamento.

- Eu a amo tanto... - sussurrou arastado, podia dizer o mesmo quanto ao meu sentimento por Rage. Eu o amo tanto que dói ficar distante.

- Eu sei, é recíproco. Eu... sinto o mesmo por Rage. - confessei abaixando a cabeça e soltando a sua mão.

- É, parece que ele também. Você sempre vai ser minha princesa, independente de tudo, mas acho que ele vai te proteger melhor do que eu. Isso não quer dizer que eu o perdoei, muito menos que não ligarei todos os dias para saber como você está. - gargalhei secando algumas lágrimas que escorriam pelo canto dos olhos.

- Acha ele vai me perdoar? - perguntei voltando a olhar para o céu estrelado, ligando os pontinhos brilhosos em formas inexistentes porque minha criatividade é uma droga.

- Acho que ele não precisa disso, você tem que se perdoar. Fez o que precisava fazer. Não adianta chorar pelo que já fez. Aconteceu o que tinha de acontecer, eu tinha que me ferrar de novo. - balancei a cabeça negativamente em resposta ao seu comentário.

Rage - Novas Espécies [L6]Onde histórias criam vida. Descubra agora