Capítulo 3

25.8K 2.2K 143
                                    

O dia estava clareando quando entrei novamente na barraca improvisada, Fred e Guto vasculharam o local, Gaspar e Roberto permaneceram do lado de fora comigo. Daniel entrou e não deu as caras desde meu estouro, Can e Josh permaneceram em seus postos sobre as ruínas atrás da barraca.

- Hei, como se sente? - Luiz levou um tiro no braço, por sorte nenhuma artéria importante foi atingida. A loira estava sentada sobre a maca dobrável e tinha um olhar assustado.

- Eu estou bem, foi só um tiro. - sorriu sem jeito colocando uma mecha dos cabelos finos atrás da orelha.

- É, eu sei. Fui eu quem tirou a bala. - sentei a sua frente, ela enrubeceu e desviou o olhar. - O que foi?

- É que... É que... eu não senti... - eu fiz uma escolha dura ao opera-la, Luiza não tem o costume de suportar dores e por isso usei nossa última ambola de morfina.

- Eu usei a morfina. - respondi apoiando os cotovelos sobre os joelhos, estava vestindo apenas uma regata decotada por causa do calor.

- A última ampola? Cosima... - a encarei sorrindo, ela corou novamente e desviou o olhar.

- Não me arrependo disso... relaxa. Amanhã estaremos longe daqui. - a garanti apoiando minha mão sobre a sua.

- Foi difícil para você? Sabe, se adaptar? Eu não sou muito corajosa. - Luiza era filha de um dos oficiais e foi praticamente obrigada a participar das aulas na academia, mas nunca deixou de ser a garota doce e sensível.

- Foi. - menti. - Eu era assim como você, tinha medo de morrer e de perder os meus companheiros, mas o sargento Greenwich me ajudou a passar por isso. Eu estou aqui para você quando precisar.

- Obrigada, eu não sei se conseguiria sem o seu apoio. - belisquei sua bochecha rosada apenas para que ela sorrisse.

- Ah, quase ia me esquecendo. O Gaspar perguntou se você gostaria de dar uma volta com ele. - ela emaranhou os dedos e os fitou sem jeito.

- Eu sou lésbica. - eu senti um pouco de vontade de rir, ela falou sem jeito como se eu fosse mata-la por isso e imaginei a cara dos Gaspar quando souber.

- Não é motivo para ter vergonha, vou cuidar de você. - baguncei seus cabelos.

- É que meu pai... - cortei sua fala antes mesmo que terminasse a linha de pensamento.

- Foda-se ele, você tem que ser feliz e o mundo que se exploda! - ela riu balançando o corpo em um movimento divertido. - Se estiver bem fique a vontade para sair, se não deite um pouco para descansar.

Ela assentiu e se deitou novamente, eu levantei e sai da barraca encarando o sol forte, hoje atacariamos a base deles e amanhã estariamos no Camp Pendlentom. O fuzil estava pendurado na altura da minha cintura, o cabelo tinha desamarrado do coque e agora escondia minhas costas.

- Você perguntou a ela? - Gaspar se aproximou sorridente enxugando o suor da sua testa avermelhada.

- Perguntei. Ela gosta da mesma coisa que você. - o sorriso dele morreu e se transformou em uma cara engraçada, acabei gargalhando.

- Eu só me ferro nessa vida. - resmungou alguns palavrões, eu apenas gargalhava dele.

O clima árido daqui afetava até na respiração, era horrível ter que passar mais um dia nesse lugar, estava ansiosa para entrar novamente em meu Mustang e correr algumas ruas em alta velocidade, saudade desse tipo de adrenalina.

- Eu adoro sair e ver esses cachos vermelhos ao vento. - Daniel e suas piadas, não estava ventando nada aqui.

- Eu adoro quando você fica calado. O Roberto te avisou do plano? - ele assentiu, sua pele negra brilhava com as gotas do suor que escorria. Daniel era alto e forte, gostava de manter a boa aparencia, seus cabelos eram bem baixos e finos ao estilo militar, estava usando apenas uma camiseta exageradamente decotada em todos os ângulos e a calça do fardamento.

- Avisou, planejou tudo sozinha? - ele me encarou com seus olhos cor esverdeados, assenti.

- Precisavamos dar um jeito, esse país nos ensina a lutar até morrer, certo? - ele sabia, eu daria a minha vida por qualquer um deles, assim como Greenwich deu a dele por mim. Ele me ensinou a ser a fuzileira que sou hoje e devo tudo a ele. - Partiremos na primeira vigília da madrugada, se quiser ir descansar um pouco fique a vontade, vou dispensar os outros e ficar por aqui.

- Você também precisa descansar. - ele resmungou, quem dera eu conseguisse dormir depois do que ocorreu ontem. Neguei.

- Eu estou bem, você e o Roberto serão nossa linha de frente. Agora vai dormir, eu vou andar um pouco. - ele hesitou, mas ao ver que eu não entraria de forma alguma desistiu e sumiu para dentro da barraca.

Rage - Novas Espécies [L6]Onde histórias criam vida. Descubra agora