Rage - Novas Espécies [L6]

Capítulo 1

Era apenas mais um dia, mais um dia sem ela, mais um dia sem vida, mais um dia negro, mais um dia sem sentido. Era só mais um dia, como todos os dias. Levantei da cama macia que eu demorei a me acostumar e segui para o banheiro, conseguir usar tudo aqui sem quebrar foi um real sacrifício para mim. Respirei fundo encarando meu reflexo no espelho, me olhar e saber de tudo que fiz era difícil.

Depois de um banho demorado coloquei a cueca de flanela e uma calça jeans, os cabelos ainda pingavam água em minhas costas mas não me importei. Justice me ofereceu uma cabana aqui onde eu poderia viver sossegado sem ter que me manter perto dos humanos imbecis. Desci as escadas que davam acesso ao único quarto superior e os demais comodos abaixo, não sabia fazer muita coisa, Gross tinha me ensinado a grelhar carne para me alimentar e fazer alguns sanduíches. Optei por alguns sanduíches de queijo e presunto com um copo de café.

[···]

- Rage, onde está a blusa?  - gritou Gross quando eu me aproximei dos outros machos totalmente cobertos.

- Devo ter devorado no caminho. - rosnei, eu não conseguia separar minha voz dos rosnados. Gross ainda estava trabalhando isso comigo, ao menos consigo me comunicar melhor depois de cinco meses de trabalho.

- Não me responda como se eu fosse um idiota! - ele rebateu parecendo ofendido, pena que eu não dou a minima. Coloquei os polegares dentro do pequeno bolso frontal da calça e o encarei com a sobrancelha erguida.

- Então não faça perguntas idiotas. Eu já disse que odeio aquelas coisas, assim como odeio sapatos e estou começando a odiar sua voz. -  ele suspirou pressionando o nariz com os dedos, sua paciência era tão curta quanto a minha embora seu autocontrole fosse invejável assim como o do Mixed que eu conheci a pouco mais de dois meses.

- Você me tira do sério, Rage. Ajude os outros a carregar as madeiras, vamos construir mais cabanas. - assenti pegando o peso que suportava e pondo sobre os ombros para levar até o local indicado.

Eu tinha aula quase todos os dias, Gross e a fêmea laranja me ensinaram a ler e escrever, mesmo que pouco já consegui evoluir mais do que eu pensava ser possível. Mixed e Fire o companheiro da fêmea laranja tem me ajudado a ficar em forma, eles me disseram que as fêmeas humanas conseguem procriar conosco e é possível o acasalamento. Eu deveria ficar feliz por essa notícia mas nenhuma fêmea me enche os olhos, nenhum cheiro é tão atraente quanto o dela. Cosima.

Os pesadelos vinham todas as noites, nem sempre eu sonhava com ela, as vezes eu sonhava com as atrocidades que me mandavam fazer, o sangue de espécies e humanos em minhas mãos. Mas os melhores sonhos eram com seus sorrisos, quando ela me tocava e deixava que eu sentisse o perfume único dos seus cabelos para me acalmar. Até antes da morte Cosima sorriu para mim.

Minha pele formigava quando eu lembrava do seu toque, parecia que ela ainda estava aqui, que ainda estava ao meu alcance mas quando eu olhava para baixo ela não estava mais lá, nunca mais estaria. Rosnei frustrado ao colocar o último carregamento de madeira no chão, os machos estavam empenhados em fazer a cabana da forma que Light tinha planejado.

- Pensando nela? - por mais que eu irritasse o Gross ele sempre estava ali do meu lado, sempre me dizendo que as coisas vão melhorar.

- Eu sempre penso nela, não existe nenhum momento que ela não esteja em meus pensamentos. - buffei coçando a cabeça por causa do suor, o dia hoje estava quente e só me dava mais razões para evitar as blusas apertadas.

- Não vou dizer que precisa esquece-la, faça tudo ao seu tempo. Não se incomode em ir devagar. - assenti encarando o sol forte do meio dia que se aproximava devagar.

- A fêmea laranja e Fire irão vir hoje? - perguntei lembrando que hoje é quinta, dia das minhas aulas de caligrafia.

- Não, Ella e Fire estão ocupados hoje com seu filhote. Mas o Mixed disse que traria um saco de areia para você. - ele tinha me prometido um, como eu passei um mês sem atacar ninguém ele o traria hoje.

- Como é ser um acasalado? - me vi perguntando antes mesmo de raciocinar, Gross arregalou os olhos e focou o céu.

- Eu não sei, mas deve ser muito bom. - deu de ombros se afastando. Deve ser. Suspirei abaixando a cabeça e encontrando meus pés descalços sobre as folhas.