O mapa estava estirado sobre a mesa manca, todos ao redor olhando os pontos que Daniel tinha marcado na noite anterior, nada poderia sair errado, não tinhamos o privilégio de errar. Ou mata ou morre, nada além disso, isso aqui era a vida real a nossa realidade nua e crua. A adrenalina ja salpicava minha língua com um sabor amargo embora apetitoso e metálico no final, todos estariam em postos diferentes, tinhamos exatos vinte minutos para atacar invadir e se retirar.
- Tem certeza que vai dar certo? - Fred perguntou analisando os pontos de ataque espalhados. Normalmente trabalhamos juntos mas o perímetro é muito grande, estamos em menor número e com pouco tempo.
- Precisa dar certo, é isso ou não voltaremos. Eu conto com vocês, se quiserem mudar de posição fiquem a vontade mas o plano é esse. - expliquei detalhadamente o que eles precisavam fazer para conseguirmos entrar na base.
- E depois de limpar o perímetro? - perguntou Gaspar apoiando o fuzil sobre a mesa que pendeu para o seu lado.
- Temos vinte minutos para os novos guardas chegarem, por isso quando entrarmos lá atirem em tudo que respira. Entenderam? - Luiza se assustou e me olhou espantada, seus olhos arregalados.
- E se tiverem crianças la dentro? Não podemos machucar as crianças! - praticamente gritou chamando a atenção, eu entendia bem seu desespero mas isso aqui é uma gurra. Não existem crianças.
- Vou ser mais clara, matem tudo que respirar. Entenderam? - era uma chance, apenas uma chance e já perdemos pessoas demais, perdemos tempo e sanidade de mais para permanecermos aqui. Quase todos morreram de fome e sede quando esses grupos de ódio começaram a roubar nossos suprimentos, não podemos ter mais misericórdia.
Eles assentiram e retiraram para vestir as roupas e se prepararem para o ataque. Estava anoitecendo, e o momento cada vez mais próximo. Abotoei a blusa social e em seguida o casaco, apertei bem o colete e olhei se todos os cartuchos estavam cheios, coloquei o cinto tatico e mais duas pistolas, algumas facas e os pentes. Calcei os coturnos apertando os cadarços com força para segurar a pequena arma e o pente que escondi ali, era contra as regras mas eu nunca podia ficar desarmada. Trancei os cachos revoltos para não me incomodarem no trageto e coloquei o comunicador no ouvido testando sua eficiência.
- Cosi? - Daniel entrou me tirando dos desvaneios enquanto terminava de testar os comunicadores.
- Oi. - respondi secamente colocando todos sobre a mesa para que cada um escolhesse o seu.
- Todos escreveram suas cartas e já estão no malote, a sua não está lá. - quando saíamos em missão escrevíamos cartas de despedida para os nossos familiares, eu não consegui escrever nada para o Lucca ou para Lilian. As palavras não vinham, talvez se eu morrer seja melhor não deixar nada, minhas palavras podem machuca-los demais. Sem controle das minhas ações toquei o oeito esquerdo onde a tatuagem da minha frequência cardíaca estava, Lucca tatuou-a em seu peito e eu o copiei com a desculpa de que precisavamos ter mais do que o cabelo em comum. A verdade era que eu queria me sentir mais perto dele mesmo estando sempre longe. - Você está bem?
- Eu estou... Não vou escrever carta, todos nós vamos voltar bem e em segurança. - principalmente ele que tem um filho para cuidar.
- Eu queria ter essa sua fé. - sorri de lado, mal sabe ele que estou tão certa da morte que tenho medo de pegar no papel e na caneta.
- Você tem coragem, isso já basta. - bati em seu peito. Ele riu e se retirou, eu o segui para fora olhando todos entrarem devagar para pegar as últimas coisas que faltavam.
O frio da noite já começava a perturbar, a primeira vigília se aproximava rápido demais e sem questionar Daniel tomou a frente com sua voz forte.
- Pelos Estados Unidos! - pela pátria, nossa pátria. Todos gritaram em uníssono, vivíamos para a pátria e todos sabiam bem disso.
- Companhia, Alto! - gritei, a voz forte de comandante emanando pela minha garganta, uma voz duramente ensaiada para manter todos nos trilhos, para dar ordens e não ser questionada. - Nós vamos e voltaremos, eu confio em vocês. - sussurrei. - Em Frente, Marche!
Daniel segurou seu fuzil acima do peito e tomou a frente junto a Roberto. Minhas costas estavam unidas as costas de Fred que me guiava enquanto eu mantinha a retaguarda segura, nos esgueiravamos pelas ruinas e casas humildes, o silêncio era tão perturbador que chegava a assustar. Eu preferia os tiros do que o silêncio, eu preferia o estouro do que a contenção, tudo podia acontecer quando nada se ouvia. Meu coração batia acelerado e a respiração se transformava em fumaça por causa das baixas temperaturas. Daniel deu o sinal para parar quando chegamos no local indicado, agora é cada um por si. Dei a ordem e todos se dividiram para completar a missão.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Rage - Novas Espécies [L6]
FanfictionLivro 6 Zona oito. Criados para a guerra, temíveis executores de qualquer criatura que esteja em seu caminho. Rage foi encontrado abandonado para morrer em uma instalação evacuada por ter conseguido matar a doutora Kisha e dois substitutos. Um erro...