Not permanent

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Maya

Enquanto arrumava minha mala, pensava na confusão dos últimos dias.

Assim que disse que queria ver o Joel, Christopher fez uma expressão de choque e saiu para falar com o médico, sem me explicar nada. Eu me perguntava se tinha feito alguma coisa de errado, mas a minha cabeça doía.

O médico retornou para falar comigo e fez uma série de novas perguntas, Vélez ao seu lado mas sem falar comigo. Depois, me deram um medicamento e eu dormi por horas, só acordando quando meus pais apareceram.

Eu tentava os tranquilizar que estava tudo bem, mas ninguém acreditou em mim, parecia que as coisas estavam piores do que queriam me contar.

- Então eu namoro o Chris e não o Joel – repito o que Ágatha havia me dito. Finalmente alguém teve coragem de me explicar o que estava acontecendo.

- Sim, e não foi a única coisa que você confundiu então os médicos querem te manter aqui até saber a gravidade da situação.

- Eu não estou acreditando nisso Ágatha – suspiro – Eu estou com medo de mim mesma.

- Relaxa amiga, vai ficar tudo bem!

- Será que eu posso falar com o Chris? Não consegui conversar com ele desde a... confusão.

- Ele voltou para a cidade dele e depois vai direto para o Uruguai ou Paraguai, algo assim – ela dá de ombros – Ele me falou que se sente culpado, mas eu não entendi muito bem.

- Eu que deveria me sentir culpada, não consigo nem me lembrar do meu namorado.

Afasto as lembranças e tento fechar a mala. Tinha certeza que voltando para casa me sentiria melhor e começaria a lembrar de tudo.

O médico tinha me dado alta a contra gosto, me alertando que eu precisaria de acompanhamento psicológico e uma visita ao neurologista em poucos dias.

- O seu quadro aparentemente não é permanente, o que significa que você pode reverter e lembrar de tudo da maneira correta – ele me disse – Mas não temos como afirmar o que vai fazer você lembrar ou em quanto tempo.

- O que exatamente eu posso fazer para lembrar?

- Procurar por estímulos, fotos, lugares conhecidos que tenha um significado. O importante é você entrar em contato com seu passado.

Eu o agradeci e já pensei nas coisas que poderia fazer. Eu não lembrava nem da faculdade direito, jurava que estava no primeiro semestre quando Ágatha me falou que já íamos para o quinto.

Eu me sentia frustrada a maior parte do tempo e passo o vôo todo olhando minhas fotos e tentando lembrar o contexto de cada uma.

Quando chego em casa, encontro Sarah e minha vó e peço para elas me falarem tudo o que lembram de mim recentemente.

Até que me canso de escutar tanta coisa e só me lembrar de fragmentos e subo para meu quarto, me jogando na cama. Sinto meu celular vibrar embaixo de mim. Era Christopher.

“ Sou um covarde por não conseguir falar com você pessoalmente mas a culpa vem me dominando. Sinto muito pelas coisas terem acontecido dessa maneira, jamais poderia imaginar que perderia a mulher que eu amo assim. Espero que se um dia se lembrar de tudo, consiga me perdoar. Se cuida.”

A mensagem me deixa uma incógnita ainda maior do que eu já tinha. Eu precisava lembrar.

Christopher

Mando a mensagem para Maya e jogo o celular longe. Não esperava uma resposta, mas se eu não mandasse nada, me sentiria ainda mais culpado do que já estava.

Ela não se lembrava de mim, achava que Joel era seu namorado e aquilo acabou comigo. Quando descobri que não era a única coisa que tinha sido bagunçado em sua memória, fiquei sem chão.

A vida dela estava toda modificada em partes por culpa da minha mãe e aquilo foi demais para mim.

Só esperei seus pais chegarem para explicar tudo e pedir desculpas. Falei rapidamente com Ágatha e voltei para Loja, pegando a maior quantidade de roupas que eu consegui.

- Filho, eu...

- Não quero ouvir – corto minha mãe – Não quero ouvir desculpas, explicações ou nada do tipo. Você tem noção do que fez? Ela perdeu a memória e a culpa é sua! Você fez isso.

- Eu não queria isso!

- Não, você queria ela longe de mim e conseguiu já que agora ela nem se lembra do nosso relacionamento – falo nervoso – Só não sabia que eu também ficaria longe de você.

Termino a mala e desço as escadas.

- Meu neto, você está de cabeça quente e pode fazer uma besteira – minha vó tenta me impedir de sair.

- Vó, a única coisa que eu não quero é ficar aqui e me lembrar de tudo o que aconteceu e por causa de quem aconteceu – respiro fundo – Eu vou ficar bem e não vou fazer nada, só preciso sair.

Volto para a capital mas não vou para o hospital, pego o primeiro vôo para o Paraguai onde teria um show em poucos dias.

Fico por lá sozinho até a equipe chegar. Me sentia mal o tempo todo e não conversava com quase ninguém.

- Você tem que ligar para ela – Zabdiel diz.

- Eu não consigo, não consigo nem pedir desculpas – passo a mão pelo cabelo.

- Você não tem culpa de nada Chris! Mas não pode deixar a garota sem notícias – ele diz com razão, mas eu não tinha forças para nada.

- Agora eu não consigo, me deixa por favor.

Me levanto e vou sentar sozinho e acabo mandando a mensagem. Não pego meu celular mais e vou para o palco.

Quando terminamos o show, vejo que tenho uma resposta.

Eu queria ter te visto e olhado em seus olhos para pedir desculpas. Por não lembrar de nós. Mas eu sei que isso ainda não acabou. Eu não desisti da gente, por favor, não desista de mim.”

Lágrimas escorrem assim que eu leio. Mesmo sabendo que ela poderia me odiar depois que se lembrasse de como o acidente aconteceu, mantenho a esperança que ainda havia uma esperança para nós.
...

Sigo fazendo shows e tentando manter algum contato com Maya, mas dando espaço para ela se lembrar sozinha mas até agora nada.

Eu estava dividido entre falar a verdade e quem sabe fazer ela lembrar de tudo ou deixar as coisas como estão e nosso relacionamento recém construído intacto.

Eu não atendia as ligações da minha família mas meu relacionamento com os meninos tinham voltado a ser o mesmo de antes.

As festas de final de ano estavam chegando e eu planejava passar em Miami, com sorte na casa de Erick ou Richard, mas esperava que até lá Maya poderia receber um milagre de Natal.

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