DOIS

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Hills é uma cidade pequena localizada no extremo ocidente do Texas, conhecida principalmente por suas colinas nebulosas.
Ouvi os policiais comentarem que o frio está próximo de acontecer, já que estamos em transição do outono para o inverno. O clima por aqui parece bastante alternativo, ficando muito quente no verão e muito frio no inverno. Não sei se gosto.
O que vejo pela janela da viatura chega a ser assustador, como um filme de terror.
A neblina está densa por estarmos em um lugar muito alto e ainda ser manhã. A fachada do Centro Judicial Psiquiátrico está envelhecida pelo tempo e falta de reforma. As paredes são brancas, desgastadas e sujas. Grandes portões enferrujados são abertos por dois guardas que ficam de escolta na frente do lugar sombrio, a viatura entra sem nenhum problema, estacionando em um caminho feito por pedras até a entrada de um prédio médio.

Um dos policiais abre a porta traseira e me puxa sem muita paciência. Olho para frente, na lateral do prédio central, e vejo uma torre com mais dois guardas extremamente armados. Eles estão olhando para o outro lado, onde provavelmente deve estar o pátio.

— Vamos! Sem enrolação! – O babaca grita no meu ouvido.

Entramos por um portão pequeno, onde saímos no grande pátio, como imaginei que seria. As gramas estão molhadas pelo sereno, fazendo meus pés calçados por chinelos molharem. Aperto os dedos das mãos uns aos outros e não consigo senti-los, meu corpo inteiro parece estar dormente pelo frio congelante.
Olho para cima, vendo torres nos quatro cantos, há dois guardas com armamento pesado em cada uma, preparado para algum fugitivo. Só um louco para tentar fugir nessas circunstâncias.

Sorrio.

Entramos em outro prédio, este com paredes limpas e conservadas, parece ser cuidado constantemente em questões de aparência. Há "Ala Feminina" escrito em caixa alta na parede da frente, acima da porta.
Só vejo uma mulher carrancuda quando paramos, ela entrega um saco plástico com a roupa padrão do manicômio.
Os policias soltam minhas mãos, então massageio meus pulsos antes de pegar o pacote com um par de pantufas e tênis brancos sobre ele.

— Você terá um quarto, pode se trocar lá. – Ela fala como se estivesse cansada de dizer sempre a mesma coisa.

Não digo nada, apenas sigo meu caminho quando ela abre uma porta para que eu passe.
Há oito corredores no total: quatro em cima e quatro embaixo, formando um quadrado. Em cada corredor há pelo menos dez portas, totalizando oitenta quartos por todo o prédio.
Subo uma escada com degraus de ferro enquanto um dos policiais continua segurando meu braço. Andamos por todo o corredor até chegarmos no meu quarto, que é o penúltimo da fila. A porta é branca, possui um vidro quadriculado no meio e uma grade reforçada na frente, por precaução. Isto é apenas uma cela com porta, não um quarto.

— Entra aí! – O policial ordena após arrastar as grades para o lado direito e destrancar a porta.

Entro em silêncio, observando o que temos aqui dentro.
Uma cama baixa com colchão fino e travesseiro cheio. Um cobertor felpudo, marrom-escuro, está dobrado na parte de baixo, e imagino que ele não seja suficiente para aquecer um corpo de todo o frio que este lugar pode fazer. Mas ninguém se importa com os loucos.

— Preciso levar estas roupas de volta, arrume-se logo! – Grita novamente, batendo seu cassetete preto na superfície das grades.

Controlo minha irritação e troco minhas roupas com olhares insinuosos do maldito pervertido.
Coloco uma regata branca e um conjunto de moletom cinza-claro, assim como as pantufas que não fazem a menor diferença.
Empurro as peças que estava usando no peito do policial e me afasto, olhando para ele.

— Tenha uma boa estadia, demente. – Ri, fecha a porta e bate as grades com força.

Engulo em seco quando ouço barulho de chaves, estou definitivamente trancafiada aqui pelo resto da minha vida. Não sei se posso suportar ficar aqui por tanto tempo, prefiro a morte.
  Dou passos vagarosos até a cama e me sento, ouvindo o ferro ranger com o meu peso. Minha visão fica turva pelas lágrimas que se acumulam rente a linha d'água, então me permito chorar pela primeira vez depois de tudo o que aconteceu.
Abraço meus joelhos, sentindo-me completamente sozinha, abandonada. Fecho os olhos, desejando do fundo do coração que aquele homem pague por tudo o que me fez. Eu perdi uma vida por ele. Maldito!

Não sou capaz de pensar em nada agora, sinto-me fraca e desgastada emocionalmente. Pessoas me odeiam gratuitamente agora, enquanto contemplam aquele filho da puta e o colocam em um pedestal, como se fosse o salvador da pátria. Não sabem o erro que estão cometendo. Não fazem ideia do quão sujo e manipulador Jack Bailey pode ser, mas vou garantir que algum dia todos vejam, nem que seja a última coisa que eu faça, que o único louco repugnante é ele.

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