Assim que dou o primeiro passo para fora do aeroporto, sou surpreendida por um abraço. Olho para baixo, vendo minha irmãzinha que já está quase do meu tamanho.
— Ei, Lottie. – Inalo o perfume doce de seus cabelos lisos e castanhos.
Ela treme, então a acompanho no choro de saudade, me abaixando para abraçá-la melhor.
Quando me levanto, vejo meus pais logo atrás de nós duas. Sorrio para eles, os chamando para o abraço em família.Com o peito aquecido de amor, aproveito o momento que há tanto não vivia. Como senti falta deles.
— O que fizeram com você, Samantha? – Minha mãe segura meu rosto carinhosamente, analisando meu nariz machucado.
— Eu estou bem, mãe.
Ela beija minha bochecha e dá um passo para trás, deixando meu pai me abraçar sozinho. Minha mãe e Charlote são tudo para mim, mas Nathan Patterson é o homem da minha vida. Ele sempre foi meu alicerce, meu porto seguro.
— Como você está? – Seus olhos estão cheios.
— Agora, estou ótima. – Sorrio, ainda mais emocionada.
— Tive medo de perder você, Sam. Você sabe que acho seu trabalho arriscado. – Enxuga o rosto com as mãos.
— Eu estou aqui, pai, nada mais vai acontecer comigo, não se não tiver de acontecer.
Ele pega minhas malas e abre um sorriso gigante, fazendo como sempre fez: deixando os problemas para trás.
— Vamos para casa, você passará a noite com a gente! Vamos comemorar sua volta! – Ri.
Engulo o choro e acompanho minha família até o carro deles. Eu estava precisando mesmo daquela casa.
▪️
Quando me olhei no espelho, pude ver o quanto estava feia. Meu rosto estava com pequenas manchas verdes e algumas já amarelas.
Tiro a blusa, vendo meus braços também com marcas de um momento que prefiro esquecer. Minha barriga está com o ferimento que tive na janela e alguns arranhões do chão daquele porão, mas não está tão feio.Jogo minha jeans para o lado, pegando minha peça íntima para lavar no banho, devidamente.
Entro debaixo do jato de água morna e sinto o corte em minha cabeça pestanejar. Toco-o com os dedos, sentindo a falta de cabelos ali por causa do procedimento médico. Dá para esconder, pelo menos.
Então, sem aguentar mais, desabo. Sento-me no chão e fico por muito tempo, chorando e lamentando por tudo que tive que passar por confiar na pessoa errada.Eu ao menos mereci?
Acho que não.
Espero que este sentimento horrível em meu peito passe um dia.
▪️
Quando vi a comida que minha mãe fez já no prato para mim, tive vontade de chorar por ter a oportunidade de estar aqui, provando do jantar maravilhoso da minha mãe.
Já é noite, passei o resto da tarde descansando no quarto de hóspedes, após o meu longo banho.
— Fiz com todo carinho, sei que é seu prato favorito.
Minha boca chega a salivar quando me lembro do sabor que a sopa tem. Ela se chama saimin, é um prato asiático conhecido no Havaí. Quando eu era apenas uma menina, fizemos uma viagem de férias para lá, e em toda a nossa estadia, eu não comi outra coisa que não fosse a deliciosa sopa.
Eu não demoro para esvaziar o prato e repetir a dose. Estava com fome, e este é, definitivamente, meu prato favorito.
— Mamãe, vou me deitar, tenho prova amanhã. – Boceja.
— Tão cedo? – Franzo o cenho, bebendo um pouco de suco.
— Não vou conseguir dormir agora, mas já estou indo para a cama. Você vem? – Seus olhos brilham em expectativa.
— Claro. – Sorrio. — Mas antes, preciso ter uma conversa com os nossos pais.
— Está bem, te espero lá em cima.
Espero até ela sumir pelo segundo andar e olho para os meus pais que fingem muito bem.
— Não vai adiantar fingir que estão focados demais na comida para conversarem comigo. – Seguro um sorriso.
Eles me olham como duas crianças amedrontadas, é engraçado.
— Por que esconderam por todos esses anos que sou adotada? – Sou direta.
Meu pai solta a colher, que estala no prato, e minha mãe limpa a garganta e a boca, onde tinha resquícios de sopa.
— Não encontramos uma forma adequada para te contar. – É minha mãe quem começa a explicação.
— Forma adequada? – Franzo o cenho. — Eu tenho vinte e sete anos, não cinco. Vocês dois não precisam me tratar como se eu fosse um bebê.
Nathan Patterson respira fundo e me olha depois de parecer pensativo por alguns segundos.
— Sua família toda estava morta, tivemos medo da sua reação.
— Bem, minha irmã gêmea não está morta. Isso me causou muitos problemas, se eu soubesse dela desde o começo... – murmuro.
— Aquele homem só foi inteligente por usar sua gêmea contra você. – A mulher de olhos castanhos diz, rancorosa.
— Não, mãe, ele só teve dinheiro o suficiente. As pessoas acreditaram nele e em algumas postagens de sites idiotas, não se importaram em saber a verdade. Os guardas do manicômio em que fiquei, só estavam pensando que eu era Scarlet Russell e havia sido transferida. Porém, não vem ao caso agora. – Respiro fundo. — Quero saber tudo sobre a minha família biológica.
▪️
A mulher que me deu a vida era Diane Russell, e o homem que me colocou dentro dela era Cameron Russell. Ambos muito pobres e desempregados.
Eu tinha quatro irmãos: Scarlet, Summer, Stephan e Serena.
S era a letra da sorte da minha mãe. Seu sonho era ter uma família grande, mas se assustou quando a terceira gravidez surgiu, e ainda mais quando na quarta, vieram duas: Scarlet e eu.
Todos os meus irmãos, inclusive eu, tínhamos uma vida precária, mas eu não me lembro. Fui dada para adoção com seis meses, não tive tempo de memorizar os rostos da minha família.
Anastasia e Nathan Patterson eram casados há dois anos e queriam muito adotar uma criança, era o maior sonho da jovem norte-america ajudar uma vida, pois achava um ato gigantesco de amor. Foi então que me conheceram num lar de adoção aqui mesmo de Miami, passei por muitas dessas até completar meu primeiro ano de idade e ser adotada por um casal muito jovem. Na época, Anastasia tinha apenas dezoito e Nathan vinte, mas isso não impediu que eles me dessem todo o amor do mundo até hoje.
Eu não sei qual motivo levou meus pais biológicos a me darem para adoção, já que eles usaram como pretexto a péssima qualidade de vida.
Se essa era a causa, por que eles continuaram com os outros quatro filhos?
Essa é uma resposta que eu nunca vou ter.
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PSICÓTICA
Mystery / ThrillerPsicótica conta a história de uma mulher perturbada que teve como consequência a internação em um manicômio judiciário. O único psiquiatra da pequena cidade de pouco mais de dois mil habitantes, é Oliver Gutierrez, e ele terá a jovem psicótica como...