- Scarlet... - Uma voz ecoa em minha mente. - Scarlet... - Meu corpo parece estar ainda mais pesado que no hospital. - Scarlet!
Acordo em um sobressalto, vendo uma mulher de cabelos claros e muito bonita me observar. Ela parece muito sedutora para um lugar como este.
- Finalmente você acordou, está na hora do café da manhã.
- Café da manhã? - Olho pela janela pequena, de grades e vidro. Já amanheceu e eu nem me dei conta, ontem só quis dormir.
- Sim, você não comeu nada ontem. Vamos, levante, estão todos no refeitório.
Ela caminha até a porta, então pisco algumas vezes e coloco os pés no chão. Olho para minhas roupas, e como não poderei vestir outra coisa, apenas alcanço os tênis e os calço para sair do prédio.
- O banheiro é lá fora, vamos.
Eu a acompanho até o banheiro, várias mulheres estão tomando banho ou se vestindo, é claro que não podemos ter privacidade.
Olho-me no espelho de uma das paredes e tudo que vejo é um rosto pálido e cabelos despenteados. Molho minhas mãos e passo pelo rosto, descartando o frio terrível e a água gelada. Escovo os dentes com uma escova branca que tem Scarlett escrito, sem demorar muito, pensando na mulher que está me esperando na porta.
Abro a única gaveta da pia, encontrando uma escova de cabelos e um prendedor. Franzo a testa imaginando que isto serviria para matar alguém, mas apenas alinho meus fios loiros e os prendo em um rabo de cavalo.
Olhando-me novamente no espelho, sinto-me melhor do que antes, mas meus olhos continuam sem vida alguma, desmotivados.- Scarlet, não temos tanto tempo!
Olho para trás, odiando a forma como sou chamada. Eles me tratam como se eu fosse uma criança que não sabe amarrar os próprios sapatos.
Saio do banheiro e caminho até ela, que sorri e pede para que eu a acompanhe.
Nós duas deixamos o banheiro feminino, atravessando o pátio e entrando por uma porta grande, onde já vejo o refeitório e várias mesas abarrotadas.- O refeitório é aqui, você pode esperar naquela fila, pegar sua comida e se acomodar em algum canto. Eu preciso ir agora, minha missão era apenas lhe mostrar como chegar aqui. Até mais.
Não digo nada, ela também não fica esperando por uma resposta, sai apressadamente pela porta que entramos.
Olho ao redor, sentindo-me uma completa estranha no meio de todas estas pessoas. Noto que algumas estão apenas sentadas com o olhar vazio, encarando a mesa como se não pudessem olhar outra coisa. Outros estão comendo como se não houvesse o amanhã, é até divertido vê-los.- Oi.
Viro-me para o outro lado, vendo uma garota aparentemente muito nova para estar aqui. Ela tem cabelos escuros e olhos azuis, é uma bela garota.
- Oi. - Respondo incerta.
- Você é a garota nova, eu ouvi falar de você. - Sorri de maneira doce, mas consigo perceber seu comportamento perturbado.
- Não dê ouvidos à ela, ela é louca. - Outra mulher aparece, rindo da possível companheira. Esta também ostenta cabelos escuros e sedosos, mas seus olhos são castanho-escuros.
- Você também é louca, por isso está aqui. - A menina se defende.
- Pelo menos eu sou bonita. Você é Scarlet Russell - me olha, - as informações correm rápido por aqui. Eu sou Katherine Cullen, e esta maluca que se faz de inocente é Amalia Williams. Temos outra amiga aqui, mas ela já tomou o café da manhã e foi para a consulta.
- Consulta? - Pergunto.
- Sim, nós todas temos consultas duas vezes por semana com o doutor Oliver Gutierrez. - Sorri maliciosamente. De longe percebo que ela realmente possui parafusos a menos, mas parece muito esperta.
- Ele é muito gentil - Amalia diz, - tem o sorriso bonito.
- Pare de ser ingênua, Amalia! Ele nunca olharia para você. - É desdenhosa.
- E nem para você. - Se defende outra vez, balançando o corpo de um lado para o outro.
- Se quer saber, acho que ele gosta de mim. - Tenta se sobressair, sorrindo da mesma maneira pervertida, mas um pouco sonhadora. - Você precisa comer! - Muda de assunto de repente, puxando-me pelo braço até a fila.
Noto guardas por todos os lados, eles parecem atentos a tudo que está acontecendo em cada canto. Volto minha atenção para a fila, já que é minha vez de pegar o café da manhã que não é nada mais que panquecas, suco e gelatina.
Acabo acompanhando as duas únicas pessoas que tenho chance de manter contato aqui dentro até uma mesa vazia do lado direito do refeitório.- A comida daqui é péssima. - Katherine revira os olhos e bate uma das mãos em punho sobre o copo pequeno de gelatina, amassando tudo sobre a mesa.
- Eu gosto... - Amalia retruca, como todas as vezes.
Não posso simplesmente ignorar minha fome, então mordo um grande pedaço da panqueca fria e sem gosto. É mesmo ruim, mas não vou morrer por não comer nada.
Bebo um pouco do suco para engolir com mais facilidade, gostando muito do sabor adocicado de laranja.- Olá! - Uma voz animada tira minha atenção da refeição. Outra jovem se junta a nós, olhando para mim como se eu fosse algo muito interessante. - Nunca vi você aqui.
- Claro que não, lesada. É a garota nova. - Nem preciso dizer quem foi a protagonista desta resposta tão simpática.
- É melhor você não dar atenção para Katherine, ela é muito incoveniente. - As duas fazem careta uma para a outra. - Aliás, meu nome é Isabella Cooper. Você é Scarlet, ouvi as outras comentando.
- Pelo visto virei assunto por aqui.
Ela abre um sorriso diferente, parece tão lúcido e... normal. Seus olhos mudam de direção, e é muito rápido, mas percebo a troca de olhares entre ela e um dos guardas. O homem lança uma piscadela para ela que desvia a atenção para a mesa, suas bochechas corando são a prova de que há algo estranho. Talvez ela tenha apenas uma paixonite por ele, mas é errado de qualquer forma.
- Doutor Gutierrez disse que eu estou evoluindo muito rápido e que está feliz pela minha progressão. Minha pena judicial está quase no fim, faltam apenas alguns meses. Se eu apresentar estabilidade psicológica estarei livre de tudo! - Comemora.
Amalia sorri também, segurando a mão dela como demonstração de carinho, mas a outra colega não pareceu tão feliz com a informação, os olhos de Katherine Cullen é pura inveja e maldade.
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PSICÓTICA
Mistero / ThrillerPsicótica conta a história de uma mulher perturbada que teve como consequência a internação em um manicômio judiciário. O único psiquiatra da pequena cidade de pouco mais de dois mil habitantes, é Oliver Gutierrez, e ele terá a jovem psicótica como...