OITO

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DIA SEGUINTE, 15H45 DA TARDE





— Você falou com ele?

Isabella, Amalia e eu estávamos sentadas sobre o gramado do jardim. O dia estava ensolarado, mesmo que o ar ainda fosse gélido, era bom sentir o calor doce do sol.

Fugiriamos pela madrugada seguinte, Isabella se encontrou com o guarda ontem à noite, então eu queria saber se tinham conversado algo sobre a fuga.

— Não, não quis estragar o nosso último momento juntos.

— Último? – Franzo o cenho. — O que está dizendo?

— Nosso último momento de paz, porque depois que sairmos daqui, vamos ser caçadas como animais.

Nisso ela tem razão, mas tínhamos uma chance de cair no esquecimento depois de algum tempo. Poderíamos andar com novas identidades, ir para um país longe o bastante. A notícia da nossa fuga não chegaria tão longe e, mesmo que eu não queira admitir, sou egoísta, pois sei que tenho como provar minha inocência, mas Isabella não.

— Temos uma chance, Isabella, confie em mim. – Olho para os guardas super armados.

— Não sei, algo está me deixando apavorada.

Volto minha atenção à ela, que está com os olhos lacrimejados.

— Ei, o que está acontecendo com você? Por que está assim?

Quando ela abre a boca para responder, uma outra voz nos interrompe. Nós duas olhamos para cima, vendo Katherine com as mãos na cintura e um sorriso irônico.

— Por que pararam de falar? – Ergue os ombros.

Solto um suspiro e volto a olhar para os guardas.

— Que cara de enterro a de vocês, até parece que alguém morreu. – Ninguém diz uma palavra. — Vocês estão tão estranhas, estão armando alguma coisa.

Encaro seu rosto com aquela expressão ridícula de superioridade, tenho vontade de apertar seu pescoço e tirar esta pose de metida a besta.

— Se estiverem fazendo algo, me chamem, não vão querer que algo dê errado, vão? – Sorri com cinismo, nos dando as costas em seguida.

— Você contou algo à ela, Amalia? – Pergunto.

Ela balança a cabeça rapidamente, parecendo com medo. Respiro fundo, pedindo aos céus que nos ajudasse a escapar daqui sem problemas.

•••

Anoiteceu rápido, a lua estava grande e brilhante, o que deixava o quarto iluminado. Eu estava ansiosa, não tinha a menor ideia de quantas horas faltavam para dar meia-noite, queria que o dia chegasse e se fosse logo.

As portas ainda estavam abertas, apenas as grades trancadas. Permaneço com as mãos para fora e a cabeça apoiada no ferro gelado. As luzes dos corredores estão acesas, acabamos de voltar do refeitório.

— Ei, guarda! – Chamo.

Sempre há um vigia em cada canto dos corredores que formam um quadrado. Um deles não demora a parar em minha frente. — O que foi?

— Pode me dizer que horas são?

— Oito. Já vamos apagar as luzes, vá deitar.

Eu odiava a maneira que eles falavam, nos tratavam como se fôssemos bichos.

Apenas respirei fundo e me sentei na cama. A vontade de estar fora daqui apenas aumentava quando eu pensava que conseguiria fugir, provavelmente não ia conseguir dormir, mas em alguma hora da noite, eu simplesmente não aguentei o tédio e a solidão.

•••

Acordei com burburinhos. As grades se abriram automaticamente, então me levantei e calcei meus chinelos para sair, mas parei bruscamente ao ver uma quantidade enorme de pessoas na frente do quarto de Isabella. Me aproximei rápido e me enfiei no meio das pessoas, foi quando vi um saco preto no chão. Minha respiração pareceu sumir, havia policiais ali dentro, muitos deles.

— O que houve? – Pergunto à primeira pessoa que vejo.

— Encontraram Isabella morta, acharam que ela estava dormindo ontem à noite quando inspecionaram, mas alguém a matou antes das grades se trancarem e fez parecer que estava dormindo.

Não sei como, mas quando percebi estava no banheiro, encarando o espelho. Minha respiração estava acelerada, eu estava em choque e não conseguia acreditar no que tinha acabado de ver.

— Não! Não! Não fui eu! – Ouvi gritos do lado de fora.

Eu sabia de quem era a voz, no fundo eu soube desde o primeiro segundo que havia sido ela.
Caminhei lentamente para o lado de fora, vendo Katherine ser arrastada por policiais. Provavelmente ela seria transferida.

— Ela queria fugir! Queria fugir sem mim! – Berra, tentando se soltar. — Ninguém pode me deixar para trás, ninguém!

Meu estômago estava embrulhado, eu queria vomitar. Isabella estava tão bem, droga!

Acabei encontrando o guarda Waters, ele já estava me encarando. Consegui ver a raiva que direcionava à mim, estava me culpando.

Talvez a culpa fosse mesmo minha, nada disso teria acontecido se eu não tivesse planejado uma fuga. E isto me mataria aos poucos por dentro, pois ela não queria, eu insisti. Não aguentaria guardar isto por muito tempo.

Estava tudo acabado.

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