NOVE

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O dia seguinte foi ainda pior, pois quando eu estava no caminho para o refeitório o guarda Waters me parou no meio do jardim. Eu estava sozinha, saí do quarto minutos depois das outras, e se ele resolvesse fazer algo comigo ali os outros guardas não impediriam, são todos podres.

— Eu deveria denunciar você, seria transferida para um lugar onde seria morta por outras detentas, como Katherine Cullen.

— Acredite, eu estou tão arrasada quanto você. Isabella era uma ótima pessoa, não queria fugir.

— Eu coloquei essa ideia idiota na cabeça dela, mas você começou com tudo. – Aponta.

— Nós dois temos uma parcela de culpa. Espero que Katherine pague pelo que fez. – Desejo, irritada.

— Estou de olho em você, Scarlett, não pense que conseguirá fugir.

— Não vou, não agora.

O deixo para trás, indo finalmente para o refeitório. Vejo Amalia sentada no mesmo lugar de sempre, penso em me manter longe dela, mas não faço isto.
Não pego comida, apenas me sento ao lado dela.

De início não dizemos nada, ela está horrível. Sinto pena por um momento, mas passa quando ela abre a boca.

— Eu contei à Katherine que vocês iam fugir, eu contei. – Balança o corpo para frente e para trás. — Ela percebeu algo no dia em que expulsamos ela da mesa e disse que eu seria a defunta encontrada se eu não contasse o que nós conversamos. Eu deveria ter ficado de boca fechada, desculpe, desculpe, desculpe. – Se balança ainda mais, sussurrando coisas para si mesma. Amalia era só uma garotinha perturbada.

— Não importa, ela já está morta.

•••

— Soube que vocês eram próximas, como está se sentindo em relação a isso?

Doutor Gutierrez estava feliz hoje, pude perceber pela maneira que se empolgava quando falava e sorria.

— Não sei, acho que prefiro acreditar que ela está viva.

— É normal passar pela negação. Você aparentou lidar melhor com a morte da sua família – comenta, cínico.

— Minha família não está morta – digo.

— Estão enterrados, não têm como estarem vivos.

Solto um riso irônico e me inclino sobre a mesa, ficando um pouco desajeitada por conta das mãos presas.

— Em que mundo você vive, doutor? – Franzo o cenho. — Nunca lidou com pessoas ruins? Pessoas ambiciosas?

— Talvez. Mas o que te faz pensar que sua família não está morta?

— Eu sei que não estão, conheço muito bem as pessoas que me cercam, principalmente as falsas.

— Por que está dizendo isso? – Estreita os olhos.

— Estou dentro de um jogo sujo, doutor. Eu não deveria estar aqui.

— E por que eu deveria acreditar em você? – Franze o cenho.

— Não deveria, não quero que acredite em mim, só quero que saiba por onde está andando. Nem tudo é o que parece, todo o cuidado é pouco.

— Está me ameaçando, Lety?

Que tipo de apelido é este? Ele acha mesmo que pode me chamar assim?

— Eu não ameaço ninguém, não aqui. É apenas um aviso para observar mais as pessoas ao seu redor, vai perceber que muitas coisas estão fora do lugar.

— Por que você não me diz algumas?

Ficamos nos olhando, por um breve segundo desejei ser uma mulher normal para flertar, mas tenho muitos problemas para resolver e estou em uma posição que não permite um homem como ele imaginar-se comigo em outras ocasiões.

Quando abro a boca para responder, a porta se abre e o guarda diz que já tem que me levar de volta para o quarto. Fico olhando para o doutor enquanto o homem fardado me solta e me puxa para cima com brutalidade. Damos as costas a Gutierrez, mas quando chego na porta olho para ele uma última vez, que me encara intrigado.

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